Está aqui

Áudio-descrição: Opinião, Crítica e Comentários - blog de Francisco Lima

A áudio-descrição utilizada como ferramenta pedagógica: tecnologia assistiva para quebra de barreiras na educação e na comunicação

por Francisco Lima

A áudio-descrição utilizada como ferramenta pedagógica: tecnologia assistiva para quebra de barreiras na educação e na comunicação.

Prezados,
Há alguns anos, Lívia, Marcelo e eu escrevemos um artigo, cujo conteúdo está mais do que atual e, de fato, ainda desconhecido por grande parte de professores, coordenadores pedagógicos, entre outros, inclusive dos próprios áudio-descritores, em geral.
Não obstante, há um outro grande número de profissionais da áudio-descrição e de operadores da educação que têm envidados esforços para aprimorar sua ação pedagógica e profissional, buscando aprofundarem-se nos estudos e no exercício de uma prática embasada na pesquisa e no conhecimento científico.
A esses e aos professores e demais interessados em conhecer/aprimorar os estudos em áudio-descrição, descortina-se uma oportunidade de estudo e de cultura, neste início de 2015, a saber, de 13 à 17 de janeiro, quando em Colatina, ES, ocorrerá o I Encontro Nacional de Áudio-descrição em Estudo (Enades 2015, www.enades.com.br).
Nessa oportunidade, formadores de áudio-descritores, palestrantes e profissionais da área e da educação inclusiva, bem como do direito, entre outros se reunirão em minicursos, oficinas e atividades culturais para ensinar, discutir e difundir a áudio-descrição para o Espírito Santo e Brasil.
Operadores do direito, da educação, da comunicação e cultura, entre outros terão a oportunidade de aprender sobre áudio-descrição e sobre outros assuntos concernentes à pessoa com deficiência visual.
Vejam no texto abaixo como esta área do conhecimento pode ser um recurso de acessibilidade e venha participar do Enades 2015, www.enades.com.br, para descobrir muito mais!
Cordialmente,
Francisco Lima
Do artigo: “ÁUDIO-DESCRIÇÃO: ORIENTAÇÕES PARA UMA
PRÁTICA SEM BARREIRAS ATITUDINAIS”:

“...Além de beneficiar diretamente as pessoas com deficiência durante eventos, programas ou espetáculos artísticos e culturais, a áudio-descrição tem um alcance ainda maior quando utilizada como ferramenta pedagógica. Para tanto, imaginemos a seguinte cena: um aluno cego vai à escola e, em sua primeira aula do dia, o professor pede aos alunos que abram o livro na página 15 e concentrem-se na análise de gráficos matemáticos.
Apesar de o aluno cego estar inserido numa sala de aula regular, junto com outras crianças com e sem deficiência, são momentos como este que definirão se a metodologia adotada pelo professor e, consequentemente, a proposta pedagógica da escola, assumirão ou não uma conduta inclusiva.
O professor inclusivo, ciente de que seu papel como mediador da aprendizagem requer a contemplação das necessidades de todos os alunos, cuidará de áudio-descrever para o aluno cego as informações contidas nos gráficos, tendo para com ele a atenção necessária ao alcance total das informações pretendidas .
Sem uma adequada áudio-descrição por parte do professor, ao aluno, incorrer-se-á no que Lima (1998, p.15-16) já antecipava:

[ ] mesmo que o professor tenha habilitação para educação especial, ele poderá estar presumindo que a representação que formula para explicação de dada informação ao aluno sem limitação visual seja a mesma que deveria dar ao aluno cego. É possível que seu pressuposto seja de que uma vez verbalizando o exemplo dado à sala, isso bastará à compreensão do aluno cego.

O professor inclusivo poderá lançar mão dos recursos de acessibilidade disponíveis, promovendo oportunidades para a eliminação de barreiras atitudinais entre os alunos, através do estímulo de atividades coletivas de áudio-descrição que envolvam a todos, sensibilizando-os e dando-lhes autonomia para também desenvolverem e se beneficiarem do recurso em conjunto.
Mais significativamente, o professor inclusivo poderá oportunizar a todos os alunos o entendimento de que a áudio-descrição, antes de ser um recurso que beneficia a um ou outro aluno da turma, com essa ou aquela deficiência, constitui-se como um recurso pedagógico que agrega a característica de ser acessível.
Assim, a áudio-descrição pode ser considerada como ferramenta pedagógica de acessibilidade quando a sua aplicação tiver por objetivo:

1- minimizar ou eliminar as barreiras presentes nos meios de comunicação que se interponham ao acesso à educação, tais como aquelas presentes no acesso a materiais bibliográficos;
2- proporcionar que alunos com deficiência visual, com dislexia e outros tenham acesso aos conteúdos escolares, ao mesmo tempo que o restante da turma;
3- permitir que todas as ilustrações, imagens, figuras, mapas, desenhos e demais configurações bidimensionais, presentes nos livros didáticos, fichas de exercícios, provas, comunicados aos pais, cartazes, circulares internas etc., também sejam disponibilizadas através da áudio-descrição;
4- zelar pela autonomia, empoderamento e independência dos alunos com deficiência visual e outros usuários do recurso;
5- atentar para a descrição de objetos que fazem parte do cotidiano escolar, como a disposição do mobiliário da sala de aula, da planta baixa da escola, da distribuição do acervo na biblioteca, dos espaços de recreação e outros ambientes e produtos de uso comum etc.;
6- perceber a transversalidade do recurso, por exemplo, ao estimular que através de uma atividade coletiva de áudio-descrição, durante uma aula de matemática ou de ciências, os alunos possam desenvolver descrições por escrito de tal sorte que as informações ali contidas possam ser aproveitadas nas aulas de língua portuguesa;
6- considerar a importância de democratizar as informações e conhecimentos construídos em sala de aula para toda a comunidade escolar, oferecendo este recurso em exposições, mostras, feiras de ciências, apresentações, reuniões de pais e mestres, encontros pedagógicos, aulas de reforço escolar, excursões temáticas, jogos e olimpíadas esportivas, exibição de filmes e nos demais encontros e atividades cuja educação seja o foco;
7- reforçar o respeito pela diversidade humana, praticando e divulgando ações de cunho acessível entre os alunos com e sem deficiência;
8- atrair parceiros que possam financiar projetos de acessibilidade na escola e a partir dela;
9- criar programas e projetos de voluntariado e monitoria que envolvam o público interno da instituição e a comunidade escolar, a fim de capacitar os interessados na temática da áudio-descrição e levar a diante outras iniciativas de acessibilidade;
10- promover encontros de formação, reflexão e sensibilização sobre a inclusão social das pessoas com deficiência para professores, funcionários, gestores, alunos e comunidade, fortalecendo a máxima de que a inclusão só poderá ser construída através da perpetuação de práticas acessíveis, ou seja, a partir da eliminação de barreiras tais como as atitudinais e aquelas presentes nos meios de comunicação...”