A deficiência não impediu que este advogado e pedagogo trilhasse um bem-sucedido caminho profissional e ainda praticasse voluntariado a surdos
KEITY ROMA Da Reportagem
O sonho de oferecer uma vida melhor para os pais lavradores do interior de Rondônia fez com que Ângelo Alberto dos Santos tornasse a deficiência visual, com a qual nasceu, apenas um pequeno detalhe em sua vida. Apenas aos 18 anos ele pôde aprender a ler e a escrever, mas apesar da alfabetização tardia, aos 38 anos já realizou conquistas que surpreendem até a quem nasceu sem limitações físicas.
Além de continuar batalhando pelas próprias aspirações, ele ainda ajuda outros cegos por meio do Instituto dos Cegos e da Comissão de Deficientes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e advoga voluntariamente para a Associação dos Surdos, que está em processo de criação desde setembro do ano passado.
Graduado em Pedagogia e Direito, Ângelo exerce o magistério no instituto e atua também como chefe do setor de Protocolo da Procuradoria Geral do Estado, onde trabalha desde 2005, quando tomou posse do cargo de técnico após a aprovação em um concurso público. Aprovado recentemente na primeira fase de um concurso do Estado para defensor público, ele continua estudando para as próximas etapas.
Para se preparar, ele forma grupos de estudo, com leitura em voz alta e a utilização de um programa de computador que sintetiza em voz o que está escrito na tela. Esses foram os meios encontrados por Ângelo para driblar a falta de livros em braile, principalmente os de Direito. No trabalho, ele controla todo o setor. Os colegas fazem a leitura dos processos e ele dá os encaminhamentos.
A superação dos obstáculos Ângelo atribui à perseverança e à força de vontade. O que nos move são os nossos objetivos, aponta ele. Os frutos, ele conta que estão sendo colhidos agora, mas a luta é antiga. Começou em 1968, ano em que nasceu, em um pequeno sítio próximo a um município de Rondônia chamado Rolim de Moura.
Minha mãe teve febre tifóide e eu nasci sem a visão. Todo pai quer um filho saudável, perfeito e, naquela época, as pessoas não sabiam lidar com esse tipo de deficiência. A minha infância foi normal, eu batia apanhava, mas meus 11 irmãos puderam freqüentar a escola, eu não, relata.
Ângelo não ia à escola porque não existiam instituições especiais para portadores de deficiência visual nas redondezas e os pais dele não tinham condições para mantê-lo em outra cidade. Aos 18 anos, ele recebeu um convite e foi para Rolim de Moura morar com os avós e estudar. Três anos depois, concluiu a oitava série por meio de um supletivo.
Em 1991, veio sozinho para Cuiabá em busca de novas oportunidades e as encontrou. Trabalhou três meses de graça no Pronto-Socorro Municipal como assistente de radiologia e então foi contratado. Quatro anos depois, concluiu o ensino médio e, em seguida, as duas graduações. Passou no concurso da PGE e atualmente dedica-se a esposa, a filha de 10 anos e aos 180 alunos do Instituto dos Cegos, que preside.
Dentre os 12 irmãos, Ângelo era o único portador de deficiência e hoje é o único que conseguiu ir além da 8ª série. Gosto de ser tratado como uma pessoa normal. O deficiente é tão capaz quanto os outros. Provei isso para minha família, que hoje se orgulha de mim, ensina.
Fonte: http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=276907
- Partilhe no Facebook
- no Twitter
- 4376 leituras