Olá a todos nós que somos cegos e clientes bancários,
Diria que quase todos nós somos clientes pelo menos de um banco. E como nem sempre é viável deslocarmo-nos à Agência mais próxima, seja por questões pessoais de mobilidade, seja porque essa Agência fica às vezes demasiado longe para ir a pé e a rede de transportes públicos é escassa, (como acontece em aldeias desertificadas), seja por causa de más condições atmosféricas, e considerando ainda que recorrer a um familiar ou amigo para realizar transações financeiras online invade a privacidade desejável nesta área sensível, sugiro uma ação conjunta e concreta visando habilitar os clientes cegos interessados a aceder autonomamente a serviços bancários online.
Felizmente já temos entre nós muitas pessoas sabedoras de Informática. Se cada uma se dispusesse a demonstrar, passo a passo, como acede ao sítio do seu banco e essa demonstração pelo menos em áudio ficasse disponível para consulta sem limite de tempo, essas pessoas prestariam um serviço cívico ímpar à nossa comunidade menos instruída: ensinar-lhe-ia os seus truques, revelar-lhe-ia os seus segredos... Eventualmente mostrar-lhe-ia que a sua queixa contra a inacessibilidade do seu banco era, afinal, infundada. Estamos perante uma das situações nas quais ninguém melhor do que um cego pode ajudar outro cego, pois chegamos à mesma meta que os indivíduos normovisuais, mas por caminhos diferentes. E se o serviço pedagógico não for gratuito, porque enfim, o saber não lhes caiu do céu, seja a um custo solidário.
As instituições bancárias não param de nos convidar a instalar e utilizar as suas aplicações nos smart phones. Gostaria de saber quais os bancos com Apps mais acessíveis a clientes deficientes visuais que possuem e dominam estes dispositivos móveis mesmo sem linha braille, mais vantajosas do que os respetivos sites
Faria todo o sentido que a ACAPO considerasse desempenhar um papel importante nesta missão edificante de enorme utilidade prática, embora sem exclusividade, a fim de dar espaço a todos quantos possam e queiram colaborar.
Concretizando:
Um dia já distante pedi à minha gestora da CGD que me ensinasse a fazer transferências online. Concordámos que eu levaria um gravador para registar tudo o que ela ia dizendo à medida que simulava uma transferência. “Primeiro digita-se o número de contrato seguido de OK, depois o código de acesso, no teclado virtual que surgia no ecrã”. Teclado virtual! Nunca tinha ouvido falar de tal coisa! Não sabíamos como fazê-lo surgir também debaixo dos meus dedos. Tive de esperar anos até encontrar um informático cego que me deu a resposta agora tão simples.
Sou cliente do banco CTT desde 2019.
Entretanto aprendi a entrar no Home Banking, a introduzir o nome de utilizador e a continuar.
Mas para iniciar sessão falta inserir três caracteres da password em posições aleatórias que variam com frequência. O problema é que o NVDA lê um rol de informações supérfluas até que finalmente chega aos números escolhidos pelo sistema a incerir para aquela sessão. Por conta desta demora escusada, a sessão às vezes expira antes de eu concluir o que pretendia. Estou em crer que há de haver forma de levar o NVDA a falar os ditos números mais depressa. Pois. Mas qual?... Quando recorro à linha telefónica de apoio, sou logo convidada a clicar o rato num determinado canto; e quando esclareço que só posso usar o teclado, em regra ouço dizer "Lamento não poder ajudar".
Espero que haja leitores que se revejam nas situações retratadas, bem como outros para os quais estas já sejam águas passadas.
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