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Acessibilidade

por Lerparaver

Emerson Niide

Acessibilidade é a característica de um produto ou serviço poder ser usado por pessoas com deficiência. Um site acessível, por exemplo, pode ser lido não só pelo designer que o projetou em seu belo monitor de 22 polegadas, mas também por softwares sintetizadores de voz usados por deficientes visuais. Já uma calçada acessível deve ter rampas para pessoas com cadeira de rodas.

Embora esse tipo de adaptação possa parecer algo nobre, este tema vem me interessando há um bom tempo por motivos um pouco menos sociais e mais mercadológicos: trata-se de um grande número de consumidores, e muito mal atendidos! Segundo Charles Riley, autor de "Disability and Business", os 100 milhões de americanos com algum tipo de deficiência formam "o maior nicho de mercado da história".

No Brasil não é diferente: há cerca de 25 milhões de pessoas com deficiência, que compõem uma grande massa de consumidores. Apenas o mercado de veículos adaptados, por exemplo, movimenta R$ 400 milhões por ano no País. Para a Honda, líder no segmento, esse público representa 7,5% de todo o faturamento da empresa.

Além de o mercado ser bastante grande, trata-se de um público fiel às marcas que os tratam bem. Um exemplo disso é que, segundo uma pesquisa do americano National Captioning Institute, 73% das pessoas surdas já escolheram uma marca pelo fato de seus comerciais possuírem legendas em closed caption.

E o melhor é que muitas das boas práticas de acessibilidade são válidas também para pessoas sem deficiência: rampas em calçadas ajudam pessoas com cadeiras de rodas e também com carrinhos de bebê. Legendas em closed caption são boas para pessoas com deficiência auditiva e para ambientes como restaurantes, em que o som da TV fica desligado.

E na Internet?

Na Internet, então, a acessibilidade é ainda mais importante. Tempos atrás perguntei a meu amigo Alex Garcia, presidente da associação Agapasm, qual a importância da Internet em seu trabalho de apoio a pessoas com deficiência. Ele respondeu que simplesmente "A Internet é tudo" nesse trabalho.

Com a Internet, alguém com deficiência visual pode, por meio de sintetizadores de voz, "ler" o jornal do dia assim que ele sai. Uma pessoa com deficiência auditiva pode resolver um problema pelo atendimento via chat ao invés de telefone. Isso para não falar no principal leitor cego da Internet, o Google - sites de busca não entendem imagens, mas "lêem" seus códigos, assim como softwares sintetizadores de leitura.

Já existem empresas dando seus primeiros passos na área - e certamente quem chegar antes nesse mercado vai ter uma boa vantagem em relação aos concorrentes. A Macy's usa uma tecnologia assistiva da IBM que auxilia cegos e pessoas com baixa visão a navegarem por seu site. A Brastemp possui uma linha de eletrodomésticos com recursos como painel em braile e manual de instruções em formato audiobook.

Trabalhar esse mercado é relativamente simples e barato. Além disso, este é provavelmente o único nicho de mercado em que as empresas que investem recebem não só clientes, mas também ganham (e muito) no valor de marca.

Resolvi testar se o Banco Real, que vende uma imagem de sustentável e ecologicamente correto, também é acessível. Pedi, via chat, que o limite de meu cartão fosse aumentado. Fui orientado a ligar para minha agência. Respondi que era deficiente auditivo e não poderia telefonar - e me responderam que eu deveria comparecer pessoalmente à agência.

Quando liguei para minha gerente, fiquei bastante surpreso: para continuar a operação, bastava eu enviar alguns documentos via fax ou e-mail. Se essa informação tivesse sido passada logo no chat, o problema estaria resolvido sem nenhum contato telefônico! E imagine como o banco ganharia clientes (e em imagem) se, além de sustentável, fosse mais acessível? Imaginou? Agora pense em como essas características podem fazer a diferença na sua empresa :)

Fonte: http://wnews.uol.com.br/site/colunas/materia.php?id_secao=9&id_conteudo=481