Óbidos, Leiria, 24 out (Lusa) – Mal Branco, uma exposição comemorativa dos 20 anos do Ensaio Sobre a Cegueira, dá, no domingo, a todos os visitantes do Folio a oportunidade de entrarem para a história do festival e protagonizarem o beijo de despedida ao evento.
O desafio partiu do João Vilhena, autor da exposição que ocupa os três pisos do Museu Abílio, em Óbidos, e que no domingo convida o público a “fazer parte da peça deixando-se filmar num beijo, junto à chuva purificadora, numa despedida do Folio”.
E se o festival literário Folio merece um beijo de despedida, a exposição e João Vilhena merece que ele seja dado depois de visitar os três andares ocupados pela mostra que assinala os vinte anos da publicação da obra de José Saramago.
É ao som de Haendel que começa a viagem pela reflexão artística sobre a obra, numa mostra em que, à entrada, o visitante é surpreendido por um cristo de olhos vendados, suspenso num crucifixo, remetendo para uma das passagens do livro, em que numa igreja todas as imagens de santos têm os olhos vendados.
Nas costas do visitante, “uns olhos sem rosto confrontam-nos, provocando incómodo e estranheza e deixando-nos na dúvida se estamos ou não a ser observados”, explicou o artista à Agência Lusa.
É, então, o momento de descer a um nível mais profundo da cegueira branca que afeta quase todas as personagens do livro, um piso em que as paredes estão repletas de frases do livro e um labirinto de fitas pretas com que entre as quais o público se pode movimentar.
“Dois cegos veem mais que um?”, É a pergunta provocatória lançada por Vilhena entre as várias frases ordenadas em diferentes escalas óticas e que quase obrigam o visitante a “afastar-se ou aproximar-se na procura da distância certa para ler, e sobretudo sentir, as palavras do escritor”, sublinha.
E depois, surge o espaço de reflexão, uma sala escura onde cada um pode sentar-se e pensar ou apenas ouvir música e observar uma grande tela pela qual escorrem, devagar, gosta de chuva purificadora.
É nesse tela que domingo, haverão de projetar-se as sombras de quem quiser “dar o beijo de despedida”, imortalizando-se como parte da obra que segue depois para o último piso do edifício.
Aí, nas paredes se volta a falar dos “beijos que procuram os beijos” de quem não sabia “onde estavam as faces, os olhos ou a boca”, entre imagens de uma tela branca, como a cegueira descrita por Saramago, e as imagens de uma mulher, simbolizando a mulher do médico, uma das principais personagens do romance, e simbolizando na exposição a homenagem de João Vilhena à “força de todas as mulheres”.
É ela quem, chegando ao fim da exposição, “olha por nós”, segundo Vilhena que, quando transpõem para os dias de hoje “tantas outras formas de cegueira que nos cercam por esse mundo fora” se questiona: “haverá ainda redenção?”.
A exposição é uma das iniciativas do festival literário que decorre em Óbidos até domingo, mas ficará patente ao público até ao final de novembro.
Organizado em cinco capítulos (Folia, Folio Autores, Folio Educa, Folio Ilustra e Folio Paralelo), o festival é palco de lançamentos de livros, debates, mesas redondas, entrevistas, sessões de autógrafos e conversas (improváveis, segundo a organização), entre mais de uma centena de escritores e os leitores.
DYA // JMR
Lusa/Fim
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http://oesteglobal.com/Publico_convidado_a_despedirse_do_festival_litera...
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