Por: Maria Antónia Oliveira Martins de Mesquita
Ao abordarmos o papel do Voluntariado, junto da população carenciada, temos que perguntar primeiro: Que Voluntariado?
Que população Carenciada?
Parte-se do princípio que o voluntariado é a acção que os indivíduos prestam a outros ou à sociedade sem aguardarem qualquer compensação.
Mas será que o papel daquele que se oferece como voluntário está contemplado com o significado que à palavra é atribuído.
Na sociedade de consumo em que hoje vivemos haverá efectivamente o sentido pleno da palavra voluntariado?
Pelos estudos por nós efectuados verificámos que o final do século XIX, esteve recheado de acções de voluntariado.
A maior parte das Associações que ainda hoje existem foram trabalho de voluntariado. Os corpos directivos, - que não eram apelidados de sociais - davam o seu contributo, sem qualquer espírito de ganância relacionado ao poder da Direcção, ou cargos mais altos que os guindavam a situações de respeito e até por vezes de poder. Ajudavam a situação porque responsabilizavam, chegando por vezes a subsidiarem eles próprios as acções com que se comprometiam.
Sem pensarem no cargo que usufruíam e sem pensarem nas honrarias que o mesmo lhes poderia proporcionar. Não quero para este encontro referir nomes, mas são inúmeros e alguns deles todos nós os conhecemos.
Voluntariado - que bonita palavra!
Voluntarismo - Doutrina Filosófica em que a vontade tem primazia sobre o entendimento e da qual as primeiras correntes cristãs são a sua forma histórica.
Voluntariado - Acção que se faz por um acto de vontade.
Acção efectuada por livre arbítrio.
Acção efectuada por espontaneidade em favor do próximo.
Acção instintiva.
Acção irreflectida, feita num momento instintivo praticado sem reflexão.
Em qual destas definições nos vamos debruçar?
Para mim pessoalmente escolho duas:
1. Doutrina filosófica em que a vontade tem primazia sobre o entendimento e da qual as primeiras correntes cristãs são a sua forma histórica.
2. Acção praticada num momento intuitivo sem reflexão
Aclaremos o que se nos oferece sobre o nosso pensamento.
1 A corrente cristã - o voluntariado é efectivamente uma consequência da corrente cristã.
A doutrina de Cristo com o seu mandamento: "Amai-vos uns aos outros, incita-nos à oferta do voluntariado, a essa prática tão humana e tão desinteressada.
A vontade que tem primazia sobre o entendimento, mas o entendimento está também ligado à vontade
O entendimento aconselha a que...
A vontade ordena que. . .
mas não filosofemos!
2. Acção praticada sem reflexão ou com reflexão...
A integração na Sociedade em que estamos inseridos leva-nos ao contacto directo, pessoal ou por conhecimento, do indivíduo que necessita de apoio. Têm surgido hoje acções necessitadíssimas do acompanhamento de pessoas de boa vontade que possam dar esse acompanhamento, sem remuneração, voluntariamente dadas as carências financeiras das Instituições que implementaram essas acções, poderemos citar o Banco Alimentar contra a Fome, que ainda a última campanha que foi promovida, o responsável pela distribuição e organização dos géneros se queixava publicamente da falta de voluntários para apoio da acção, fazendo uma observação velada de que se o contributo humano fosse pago, não faltaria quem ajudasse.
É verdade dura! Mas é verdade! A quem imputaremos culpas? Não o vamos fazer de nenhum modo a ninguém. Não iremos incriminar quem promove as acções, quem não paga, nem quem não corresponde ao apelo de ajuda porque na fase actual inflacionária não podemos levar a mal, que quem se esforça não seja compensado pelo seu esforço.
Mas talvez não fosse mau, ser ponderado o mandamento:
"Amai-vos uns aos outros" acrescentando "Ajudai-vos uns aos outros" sem esperar compensações !
2 - Oferta de ajuda intuitiva sem reflexão
Por vezes a emotividade provocada no indivíduo pelo conhecimento de um acto que envolve outro pode provocar oferta de ajuda intuitiva momentânea, sem reflexão. É uma contribuição instável, é uma contribuição voluntária sem bases, portanto de pouca duração. O indivíduo nestas circunstâncias dá durante um tempo a sua ajuda desinteressada, voluntária, até ao momento em que se pergunta a si próprio, o que é que estou a fazer? A perder tempo, que compensação tiro eu para mim no momento ou num futuro próximo e longínquo? É o fim da sua entrega, do seu voluntariado!
Neste momento podemos perguntarmo-nos.
Afinal - o voluntariado existe?
Ainda há pessoas que abdiquem do seu conforto pessoal, da sua busca de melhor situação financeira, dando-se ao voluntariado, procurando levar o bem estar diminuindo as carências daqueles que necessitam apoio?
Sim! Há efectivamente e graças a Deus, mas são poucas essas pessoas. Então o que podemos nós fazer para interessar as pessoas a praticarem o voluntariado?
Não é difícil!
Formar! Formar! Educar! É a resposta!
Formar - esse papel cabe à família, à escola, aos pais e professores. Educar - Cabe à família, à escola
Nessa formação não podemos por de parte a educação moral e cívica. Impulsionar o indivíduo para o melhor conhecimento do seu semelhante, não só o indivíduo adulto, mas a criança. Uma sociedade respeitável, nasce na escola, pois a criança, o futuro governante, na escola é que adquire os seus ensinamentos e na família recebe a continuidade desses mesmos ensinamentos, não esqueçamos o ditado:
"Casa de pais, Escola de Filhos"
Não queremos de nenhum modo armar em moralistas, mas se efectivamente conseguimos transmitir àqueles que nos rodeiam, o sentido dos outros, iremos de certo ter uma grande obra de Voluntariado, só assim poderemos minimizar as carências que envolvem a população desfavorecida.
Dra. Maria Antónia Oliveira Martins de Mesquita
Presidente da Direcção da Associação Promotora do Ensino dos Cegos
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