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Presidente da República chama a atenção para dificuldades dos invisuais na Internet

por Lerparaver

O Presidente da República chamou hoje a atenção para as tecnologias da informação dedicadas aos invisuais e a necessidade de se combater a sua exclusão. Cavaco Silva elogiou a iniciativa do invisual Fernando Santos, que tentou viver o dia-a-dia ligado à Internet.

Apesar de o Presidente e Fernando Santos estarem em Lisboa, optaram por uma conversa através da Web, primeiro por escrito e depois por voz, uma conversa a que os jornalistas assistiram no Palácio de Belém.

"Bom dia, sr. Fernando Santos", começou Cavaco Silva.

"Bim dia, sr. Presidente", respondeu Fernando Santos, que utilizou na experiência um computador portátil.

Já de viva voz, Cavaco Silva fez perguntas a Fernando Santos que, nos últimos 15 dias, visitou uma centena de sites para testar as dificuldades de um invisual na Internet, como encomendar comida, marcar consultas em centros de saúde ou fazer compras.

À conversa com o Presidente, Fernando Santos faz "um balanço positivo" da iniciativa, que termina amanhã, reconhecendo as dificuldades, para um invisual, quanto a "um ou dois sites" na compra de artigos.

Ao nível de serviços admitiu que, não obstante alguns entraves, as dificuldades de acesso foram ultrapassadas. Nem tudo, porém, são facilidades e Fernando Santos confessou as dificuldades adicionais que teve, enquanto invisual, para se formar como técnico de Informática.

"Se as dificuldades existem para a formação [de invisuais] noutras áreas, o mesmo acontece nesta", disse.

Cavaco Silva sublinhou a importância desta iniciativa para "chamar a atenção" dos invisuais para as possibilidades que as novas tecnologias têm para ajudar à vida diária das pessoas com deficiência.

Por outro lado, argumentou, foi um alerta para as empresas prepararem ou adaptarem os seus sites na Internet aos invisuais.

A iniciativa Integra21 partiu de uma empresa de tecnologias de informação nacional e pretende testar o grau de info-inclusão que existe para pessoas com necessidades especiais na sociedade portuguesa, através da avaliação dos níveis de acessibilidade de centenas de sites públicos e privados.

Com este desafio, que teve o patrocínio do Presidente da República, pretende-se chamar a atenção e sensibilizar a população para os factores de exclusão dos novos meios de comunicação e que diariamente privam um elevado número de portugueses com deficiências de participar na sociedade de informação.

Fonte: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1296723

Comentários

Quem ler esta notícia fica com a ideia, que com mais ou menos dificuldade é possível um deficiente visual aceder a tudo na Internet.

Tal é verdade na maior parte dos casos, no entanto também depende da tecnologia assistiva que se usa, e dos conhecimentos informáticos. Muitas vezes os cegos têm de ser entendidos em informática e criativos, para conseguir ultrapassar problemas de acessibilidade que não deveriam existir.

Embora a iniciativa seja obviamente positiva, poderia ter ido bem mais longe. Por exemplo, Creio que se perdeu a oportunidade de se testar sites com funcionalidades totalmente inacessíveis. É certo que são felizmente a minoria, mas existem, e alguns são de grande importância.

Apenas 2 meros exemplos relacionados com o estado.

É impossível a um cego enviar um e-mail a um deputado através do site do Parlamento. É pedido para digitar os caracteres que surgem numa imagem.

É também impossível a um deficiente visual enviar a declaração de IVA pela Internet. De realçar que tal envio é obrigatório para empresas e alguns profissionais independentes, e apenas pode ser feito pela Internet. Aqui o problema é o uso de tecnologia Java, sem uma alternativa acessível.

Existem soluções para ambos os casos, basta boa vontade para as implementar.

O estado que deveria dar o exemplo, é o primeiro a incumprir, mesmo quando está obrigado a tal.

Esperemos que a Petição pela Acessibilidade Electrónica Portuguesa tenha os seus efeitos práticos.

O pior é que este estudo classifica a acessibilidade como BOA ou MUITO BOA nos diversos sítios mesmo quando afirma que 0% utilizava CSS.
Estranha forma de medir a acessibilidade.

Usar sites escolhidos a dedo, avisar os responsáveis (no caso dos candidados à câmara de Lisboa) que iriam auditar os seus sites e utilizar um cego com experiência avançada em informática, para além de software topo de gama... tudo isso deu num estudo que de pouco vale e que tem uma validade, no mínimo, discutível.

Cristiana M. C.
Convoco algum (ou alguns) alunos da área de Análise de Sistemas a compararem tempos de execução de tarefas. A pessoa que enxerga perfeitamente, a pessoa com visão residual e o internauta totalmente cego acessam a mesma página, medem o tempo para execução de determinadas tarefas. Leva-se em conta os critérios de acessibilidade "básicos", é claro, mas ressalta-se, como já foi escrito nessa discussão, que não são suficientes.
Quem se habilita?

Cristiana M. C.

Olá a todos

Na notícia acima, parece transparecer que o panorama da acessibilidade web em Portugal é bastante bom.

No entanto, infelizmente, a maioria dos cegos sabem que tal não corresponde à realidade. Aquela conclusão resulta essencialmente da forma como foi efectuado o estudo, nomeadamente da análise dos dados.

Assim, tendo em conta o conhecimento da realidade, e essencialmente o relatório oficial sobre este projecto, disponibilizado em http://www.vector21.com/?id_categoria=12, gostava de expor as minhas conclusões, que são bem diferentes, mesmo das do referido relatório.

Não queria aqui discutir se os critérios usados foram ou não os melhores, o importante nesta altura é discutir os resultados.

Gostava de destacar 3 aspectos importantes.

Nível de acessibilidade analisada.

As directrizes de acessibilidade web contemplam dezenas de regras. Segundo o relatório, foram apenas analisados alguns pontos de acessibilidade, mais concretamente 9, alguns dos mais graves, mas apenas alguns. Isto significa que, se uma página teve pontuação máxima a nível de acessibilidade, significa apenas que cumpre o mínimo de acessibilidade, mas não necessariamente que seja verdadeiramente acessível.

Se os critérios fossem mais rigorosos, os resultados deveriam ser catastróficos em muitos casos.

Uma página que cumpra apenas estes critérios, está longe de ser uma página acessível, e que coloque em igualdade de oportunidades todas as pessoas.

Por exemplo, para que um cego possa navegar de forma rápida e cómoda numa página, é necessário cumprir mais um conjunto de regras constante das directrizes de acessibilidade, regras essas que não foram analisadas.

Poder aceder à informação é importante, mas aceder de uma forma rápida e simples pode marcar a diferença, por exemplo, em se ser ou não competitivo no mercado de trabalho.

Imaginemos que temos duas páginas semelhantes: numa, que cumpre a generalidade das regras de acessibilidade, demoramos um minuto a encontrar uma informação, e noutra, por não respeitar muitas regras de acessibilidade, demoramos 5 minutos. Acham que se pode considerar esta segunda página acessível só porque se atingiu o objectivo? Eu não considero.

Assim, ao analisar apenas alguns critérios pode-se considerar páginas acessíveis, quando verdadeiramente não o são.

Aqui a questão não está propriamente em discutir se deviam ter sido usados mais critérios, em especial porque são dezenas de critérios. A questão está em que deve ser dado realce ao facto de que foram apenas analisados alguns dos aspectos mais graves, mas que constituem uma minoria das directrizes de acessibilidade.

De uma forma extremamente simplicista, pode-se dizer que uma página é acessível na perspectiva de um dado utilizador quando se consegue aceder a toda a informação de uma forma simples e sem problemas.

Neste estudo foi dado ênfase - e bem -, à possibilidade ou impossibilidade de conclusão de uma dada tarefa. Mas penso que seria também muito importante que fosse indicado em quantas páginas é que se atingiu o objectivo sem problemas, ou seja, quantas são realmente acessíveis na perspectiva do utilizador?

Temo que a percentagem seja bastante baixa, e se o for, não se pode dizer que as páginas em Portugal têm uma acessibilidade alta.

2 Indicador usado para medir a acessibilidade

O relatório refere que o nível de acessibilidade global é alto. No entanto, tal conclusão, resulta de uma ponderação de 9 critérios, o que levou a resultados, a meu ver, errados.

Claro que é natural tentar quantificar-se o nível de acessibilidade, mas é importante analisar se os resultados são lógicos. Devia-se ter levado outros factores em conta e não apenas o designado índice vector 21.

A análise de critérios é importante, em especial para rectificação do que está mal, mas o verdadeiro grau de acessibilidade de uma página nunca poderá provir de qualquer operação aritmética de critérios, o que foi essencialmente o que aconteceu.

Com esta fórmula de cálculo, é teoricamente possível obter um nível de acessibilidade muito elevado, mesmo que uma página apenas tenha links gráficos não labelados e texto embutido em imagens, basta cumprir os outros critérios. Este tipo de páginas seria 100% inacessível, mas com este indicador da vector 21, teria um nível de acessibilidade elevado.

Vejamos, por exemplo, duas conclusões constantes no relatório com este indicador

Foi considerado que um subgrupo da administração pública tinha um nível de acessibilidade elevado, quando60% das páginas tem graves problemas com o flash.

Os sites de ecomerce também tiveram um nível alto, quando 3 quartos tem graves problemas de legendagem.

3 Casos de insucesso

Por fim gostava de destacar que, ao contrário do que saiu na comunicação social, o relatório destaca vários casos de navegação com insucesso.

Pelo menos duas páginas eram 100% inacessíveis.

Da administração pública, das que se tentou fazer transacções, em cerca de 40%, o objectivo falhou.

Em 12% das lojas, não se conseguiu fazer compras.

Mesmo que as páginas de insucesso fossem poucas, seria sempre de dar grande ênfase, é que para a pessoa em causa, pode significar muito na sua vida. Repare-se que, em diversas situações, a internet é a única alternativa.

No entanto, apesar destes valores, a ideia que saiu na comunicação social, é que as coisas não estavam más. Porém, os dados do relatório não me levam a concluir isso, embora as conclusões oficiais sejam essas.

Espero que as páginas analisadas tenham acesso ao relatório da sua página e que procedam às alterações necessárias a um bom nível de acessibilidade. Se tal acontecer, então valeu a pena esta iniciativa.

Concluindo, mesmo usando a metodologia usada, deu para detectar graves problemas de acessibilidade. No entanto, infelizmente as conclusões retiradas não são coerentes com os resultados obtidos, pelo que realmente foi uma oportunidade de sensibilização perdida, já que apresentou uma realidade irreal.

Afinal, se tudo está bem, para quê mudar?

Amigos gostava de deichar uma pergunta no ar. E já que estamos aqui afalar de acessibilidades então é o seguinte!

Se todos noz sabemos que este problema de acessibilidade existe na internet porque é que se esconde a verdadeira realidade?
Só porque alguns de noz sabem comoconturnar essas barreiras o problema de acessibilidade já não existe?

Pois amigos vamos aproveitar este momento e trocar aqui mesmo no ler paraver alguns pontos de vista e acho que no final iremos encontrar mais algumas conclusões.

Marciel

maciel