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O presidente da ACAPO não deveria ser cego?

por Luís Ferreira

"Os cegos não se sabem governar, por isso, deveria ser possível uma pessoa que visse ser presidente da ACAPO, só que os Estatutos não o permitem". Esta foi a célebre frase de um professr de Educaçao Especial a propósito das divergências entre os cegos, mesmo dentro da ACAPO e de algumas decisões tomadas pelas direcções da ACAPO.
É verdade que as direcções da ACAPO têm cometido erros, afinal são seres humanos que lá estão logo cometem erros e injustiças. Os cegos não se sabem governar, afinal a ACAPO é uma instituição com dificuldades financeiras há muitos anos, mas ainda não fechou as portas, ao passo que muitas empresas dirigidas por pessoas que vêem já o fizeram e o próprio Estado, onde mandam os que não são cego está prestes a atingir a bancarrota. Além disso, os políticos não se entendem e vêem.
Durante o meu percurso académico, por diversas vezes, fui excluído por todos para formar grupos de trabalho, falei com os professores e eles deixaram-me fazer trabalhos individuais e consegui nota igual e por vezes até superior a alguns dos outros, portanto é porque sabia.
Ao longo do meu percurso de professor, por diversas vezes me levantaram problemas não por eu ser bom ou mau professor, por saber ou não, mas por ver pouco, no entanto já conheci professores que eram alcoólicos e nada lhes aconteceu, orquê? porque vêem.
existem pessoas que trabalham connosco e que não deveriam ocupar o posto que ocupam, porque eles próprios têm preconceitos relativamente aos cegos e portadores de baixa visão, eles próprios não são profissionais, eles não acreditam em nós e, muitas vezes prejudicam-nos, impedindo-nos de chegar mais além na vida profissional, escolar, etc.
Ainda há meses a minha oftalmologista no hospital de Leiria me marcou uma série de exames, entre os quais uma retinografia, mas como eu tenho Mistagnus é difícil, mas não impossível fazer-me esse exame. A Ortoptista que me atendeu mandou-me sentar em frente do retinógrafo, acendeu a luz do aparelho, olhou para mim e disse: "pode ir embora". Deveria ter chamado um colega, um médico ou encaminhar-me para um especialista de subvisão, ja que ela não conseguia resolver esta situação.
Já ouvi falar em professores de educação especial que não passam os testes em braille atenpadamente ou que se forem a uma aula para apoiar um aluno cego se limitam a sentar-se ao lado dele e não lhe ditam as coisas. Enfim, ja ouvi coisas de brandar aos céus sobre os cegos.
Quanto à ACAPO se é uma associação de cegos, é normal que a direcção seja formada por cegos. Além disso, a ACAPO já sofreu várias fraudes e desvios de dinheiro, isso foi feito por parte de funcionários que viam, não pelos cegos que lá trabalham ou que dirigem a instituição.
Claro que temos funcionários que trablham com cegos e que são competentes e , por isso, devem continuar. Aqueles que não prestam um bom serviço às pessoas cegas ou com baixa visão deveriam simplesmente ser substituídas por outras. Não se pode trabalhar com cegos ou outras deficiências só por caridade ou para ganhar dinheiro ou por vaidade, tem de se trabalhar com profissionalismo e sobretudo acreditar nas capacidades e potencialidades das pessoas com deficiêcia, ajudando-as a superar dificuldades e barreiras para que elas possam progredir na vida.

Comentários

Caro colega,
Concordo com sua exposição, porém, independente de ser ou não ser cego, a pessoa que for presidir precisa ser competente tanto administrativamente, financeiramente e socialmente, ser ético, ter bom relacionamento, e o mais importante, é apoiar em prol da comunidade de cegos. Também penso que o presidente não deve ter total poder, que tudo deve passar por um grupo de conselho, para não ter caso de abuso de poder, e também não ser o único responsável pelas decisões. Outro ponto é, o mandato de cargo de presidente ter tempo estabelecido, sem opção de reeleição. Pois já vi caso de interventor assumir a presidência e ficar mais de 5 anos e foi preciso a comunidade retirá-lo.
Abraços.
Ricardo A. Rossil

Bom dia caro Luís, não podia estar mais de acordo consigo. Se bastasse ver para se saber governar não teríamos o país no estado que está, já que ele sempre foi governado por pessoas que vêm e por isso inquestionáveis.
Fala no seu texto de tantas coisas verdadeiras:
De pessoas que sendo incompetentes não são postas em causa só porque vêm, enquanto nós, e não me estou a vitimisar, porque até trabalho na área na qual me licenciei, somos muitas vezes questionados e postos um pouco de lado porque não vemos;
Falou de uma coisa fundamental e que pouca gente se lembra de referir, da falta de qualidade pessoal e profissional de quem trabalha com pessoas com deficiência e sei bem do que falo. Comigo, enquanto fui apoiada na escola tudo correu bem, mas agora trabalho numa instituição ligada à deficiência mental e assisto todos os dias a atropelos aos direitos de pessoas que ainda com deficiência são pessoas. Quando me manifesto contra apressam-se a dizer-me que não estudei para trabalhar com pessoas com deficiência e que não sei nada de deficiência, sendo eu cega.
É verdade não estudei nessa área, mas sou deficiente e sei que há direitos que devem ser respeitados em qualquer deficiência.
Se as pessoas que trabalham com a deficiência deixassem de lado os seus preconceitos, seria um grande passo, por ventura o maior para a sociedade olhar para nós de maneira diferente, ou melhor igual a todos.
Cumprimentos

Olá Luis !

Calma aí !
Dizes q os cegos não se sabem governar ?
Fala por ti, porque há cegos e cegos, e eu conheço mtos q se sabem governar bem !

Na Fraternidade Cristã, uma das condições q temos, é q os protagonistas devem ser os próprios doentes crónicos e deficientes físicos, a ocupar lugares de responsabilidade ... !
Porquê ? Porque nada melhor q estes, q sentem as dificuldades e as adversidades no corpo, para compreenderem outros em situações semelhantes !
Quando sentes alguma coisa na pele vais à luta, mas se não o sentisses, irias na mesma à luta ? Em cerca de 80% isso não acontece !
Ou seja, temos de ser nós próprios a fazermos a coisas, senão ninguém faz nada por nós !

De modo, q nessa linha condutora, entendo q o presidente da ACAPO deve ser cego, pra melhor compreender os cegos e dar mais respostas concretas !

Abraços

Olá Filipe,
Não foi isso que eu disse.
Eu critiquei aqueles que colocam em questão a competência dos cegos. Aliás começo por uma citação entre aspas dita por um professor de educação especial que trabalha com cegos.
É pena que a sociedade não nos dê mais possibilidades, porque temos em Portugal pessoas com deficiência com capacidades, por isso, eu defendo, como não poderia deixar de ser um cego para presidente da ACAPO, até porque a ACAPO é uma organização de cegos e portadores de baixa visão, por isso, são essas pessoas que devem assumir os cargos directivos e temos muitos que são capazes, aliás até agora todos foram aguentando a instituição viva, apesar das crónicas dificuldades financeiras que a ACAPO tem tido.

Olá Luis e restantes !

Infelizmente a sociedade discrimina-nos, passa por cima de nós .... acham q somos uns coitadinhos .... realmente esta visão tem q mudar !
E já se vai mudando aos poucos !

A nossa coordenadora nacional é cega e é competentíssima ... por isso os cegos são bem competentes se quiserem !
Eu penso, q a pessoa q assumir esse cargo, deve ser preferêncialmente cega, e que tenha presente o seguinte:
- tenha amor à camisola
- q ponha os interesses da ACAPO à frentes dos seus próprios interesses
- q pense nos eventuais beneficiários
....

Se essa pessoa tiver isto bem presente, será bastante competente, e irâ dinamizar a ACAPO .... !

Abraços

Acho que há uma grande falta de coerência ou realmente há medo em dizer aquilo que esta a ser dito em toda a comunidade cega e amblíopes a voz baixa, com receio que chove algum processo..... Para que a sociedade dê aos cegos oportunidade é necessário que eles se formam para as exigências das suas funções. Vamos ser claro, acham que uma telefonista reformada (com todo o respeito pela profissão), é adequada para lidera uma associação?, com técnicos superiores? uma pessoa que nem autonomia tem? sem conhecimento nem experiência em liderança? que não sabe o que são os objectivos, missão, valores ou visão da instituição? Não estará alguns cegos a brincar aos chefes?. Portanto, se as pessoas cegas assumir determinados cargos deverão estar devidamente formadas.

Olá Fernando !

E daí ? O q é q isso tem a ver ?

Olha, na Fraternidade, a nossa Coordenadora Geral, é por sinal telefonista no milenium, e é bem competente, exigente e tudo mais ... !
E como Coordenadora cega, desempenha o seu papel na perfeição .... tem espírito de liderança e tudo o mais .... !

Achas q 1 pessoa por ser cega e telefonista, jamais poderá ocupar um cargo de responsabilidade ??
Então desengana-te amigo, porque há cegos e cegos, e eu conheço cegos bem competentes .. !

A autonomia adquire-se com o passar dos tempos .... como é q achas q eu conheço cegos q se têm total autonomia ?
É tudo uma questão de querer e de ir à luta !

Quando vais ao teu primeiro emprego, não tens experiência nenhuma, pois não ?
A experiência adquire-se ao longo dos anos, mas não é de todo 1 dom adquirido ... !

Repito, a pessoa q ocupar o lugar deve ser altamente competente, e mais uma vez reafirmo q deverá ser cega !
Abraços

Antes de falar dos funcionários devemos pensar um pouco nos dirigentes, a estrutura organizacional e quais são os reias objectivos da organização. A questão não é essa: ser ou não ser cego?, mas sim ser competente ou não competente em determinada área. Um presidente de uma Associação que instaure um processo a um técnico porque ele exerceu funções que não estão no seu contrato, parece-lhe justo, talvez....Mesmo se este técnico exerceu com um único propósito servir a instituição? mesmo sendo a própria Direcção Nacional que o formou para este efeito? mesmo se as exerceu durante 5 anos, e que suas extras funções foram sempre explicitas nos relatórios a segurança social e de actividades, panfletos, site, reuniões com terceiros, informações aos dirigentes locais e nacionais e nunca ninguém lhe disse nada? claro que todas as pessoas sabem que a questão é outra.....

O presidente de uma instituição deve ser competente nesta área, unicamente. Trabalhar para toda a associação cegos, pessoas com baixa visão, sócios, utentes cooperantes e em todos os distritos. Processar os técnicos para que eles saiam a custos zeros não será boa estratégia para a instituição, ainda, fica mais denegrida do que ela está. Ela fundamenta o emprego para os seus invisuais, mas tenta denegrir os seus próprios funcionários, não me parece coerente...O seu objectivo passou a ser processos e não aqueles porque ela existe.