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Primeiro artigo

por Lerparaver

CHEGAMOS

J. de Albuquerque e Castro – Setembro / Outubro 1956

Pela primeira vez em Portugal se publica uma revista em caracteres braille, com a frequência e a estrutura de “Poliedro”. Este facto bastaria, só por si, para marcar época na história da Tiflologia Portuguesa. Mas acresce ainda que pela primeira vez também, ela é o produto do esforço, tenacidade e trabalho quotidiano de pessoas cegas, que inteiramente a projectam e dirigem, com a assistência técnica duma especialista vidente./p>

Deve constituir motivo de orgulho para os cegos de Portugal que assim seja - orgulho e satisfação íntima, vinda esta da certeza de que o nosso País alinha finalmente ao lado dos que possuem centros para a produção regular de livros e periódicos em relevo.

Foi isto possível graças a um conjunto de circunstâncias muito favoráveis, que felizmente encontraram o seu ponto de convergência ao cabo de muitos anos de esforços, que a tantos não pareceram mais do que sonho e vieram a culminar na criação do Centro de Produção do Livro para o Cego.

Toda a aparelhagem e matérias primas, indispensáveis ao seu funcionamento, bem como a assistência técnica necessária no momento da instalação nos foram generosamente oferecidas pela American Foundation for Overseas Blind de Paris, a cujo Director Sr. F. ª Ingalls, que tantas provas de solicitude nos tem dado, aqui manifestamos o nosso vivo reconhecimento.

Por igual nos confessamos agradecidos a S. Ex.a o Subsecretário de Estado da Assistência Social Sr. Dr. J. G. De Melo e Castro pelo estímulo que nos deu, pela simpatia com que acolheu os nossos propósitos e, sobretudo pela ampla base financeira que concedeu à nossa Obra.

Na mesma atitude de gratidão envolvemos a S. C. Da Misericórdia do Porto, na pessoa do seu actual Provedor, Sr. De. José de Sousa Machado Fontes que, tendo aceitado prontamente a oferta que lhe fizemos do material recebido e assumindo parte dos encargos de manutenção, contribuiu eficazmente para que o CPLC pudesse ter existência própria.

Ao ilustre Governador Civil do Porto, Sr. Dr. Domingos Braga da Cruz, e a quantos, directamente ou indirectamente concorreram para que a impressão de livros e periódicos em relevo no nosso País, feita com regularidade e eficiência, fosse finalmente uma esplêndida realidade, ficamos também profundamente gratos. Dita esta palavra de agradecimento a quem a merece, outra de saudação e cumprimentos nos apraz dizer igualmente, calorosa e amiga.

Dirige-se ela, em primeiro lugar, aos nossos colegas do Brasil, que tão galhardamente têm sustentado até hoje as necessidades dos leitores de Braille em Portugal.

Estende-se do mesmo modo, calorosa e amiga, a todas as instituições tiflológicas nacionais e estrangeiras, nomeadamente do Brasil e de Espanha, com quem de há muito mantemos as mais cordiais relações de amizade, bem como aos cegos de todo o mundo e, em particular, aos nossos leitores.

Não pretende “Poliedro” ser original nem diferente das suas congéneres de outros países. Tão pouco se importa de agradar aos dois ou três leitores de elevado nível cultural, que gostariam de encontrar nela aquele género de textos por que anseia o seu espírito requintado, nem lisonjear aqueles que, por descuido ou incapacidade, se não dispõem ou não podem seleccionar e erguer a mais alto grau as suas ideias e conhecimentos. A nossa intenção, ao menos por agora, é servir o maior número, constituído naturalmente pelos indivíduos de cultura média. Será, por isso, “Poliedro” uma revista de vulgarização de conhecimentos universais, donde toda a especialização ficará excluída. Tratará igualmente dos problemas relacionados com a vida dos não videntes, tão normativa quanto possível no domínio da tiflo-educação, e encherá os seus espaços vazios com alguma leitura amena e passatempos agradáveis. Terá tantas faces quantas um poliedro possa ter./p>

Humildemente reconhecemos o peso da responsabilidade que assumimos e damos conta da dúvida que se nos impõe de sermos ou não capazes de nos desempenhar dela como convém.

Mas sabemos exactamente o que queremos e por onde havemos de ir. Abertos a todas as sugestões e críticas, construtivas e de boa fé; imunes àquelas que não possuam tal carácter, estamos certos de que “Poliedro” acabará por encontrar o seu rumo e marcar posição entre quantas revistas em relevo se publicam por todo o mundo.

Chegamos, tarde embora, mas havemos de ficar, se Deus quiser.
CHEGAMOS
J. de Albuquerque e Castro – Setembro / Outubro 1956

Pela primeira vez em Portugal se publica uma revista em caracteres braille, com a frequência e a estrutura de “Poliedro”. Este facto bastaria, só por si, para marcar época na história da Tiflologia Portuguesa. Mas acresce ainda que pela primeira vez também, ela é o produto do esforço, tenacidade e trabalho quotidiano de pessoas cegas, que inteiramente a projectam e dirigem, com a assistência técnica duma especialista vidente./p>

Deve constituir motivo de orgulho para os cegos de Portugal que assim seja - orgulho e satisfação íntima, vinda esta da certeza de que o nosso País alinha finalmente ao lado dos que possuem centros para a produção regular de livros e periódicos em relevo.

Foi isto possível graças a um conjunto de circunstâncias muito favoráveis, que felizmente encontraram o seu ponto de convergência ao cabo de muitos anos de esforços, que a tantos não pareceram mais do que sonho e vieram a culminar na criação do Centro de Produção do Livro para o Cego.

Toda a aparelhagem e matérias primas, indispensáveis ao seu funcionamento, bem como a assistência técnica necessária no momento da instalação nos foram generosamente oferecidas pela American Foundation for Overseas Blind de Paris, a cujo Director Sr. F. ª Ingalls, que tantas provas de solicitude nos tem dado, aqui manifestamos o nosso vivo reconhecimento.

Por igual nos confessamos agradecidos a S. Ex.a o Subsecretário de Estado da Assistência Social Sr. Dr. J. G. De Melo e Castro pelo estímulo que nos deu, pela simpatia com que acolheu os nossos propósitos e, sobretudo pela ampla base financeira que concedeu à nossa Obra.

Na mesma atitude de gratidão envolvemos a S. C. Da Misericórdia do Porto, na pessoa do seu actual Provedor, Sr. De. José de Sousa Machado Fontes que, tendo aceitado prontamente a oferta que lhe fizemos do material recebido e assumindo parte dos encargos de manutenção, contribuiu eficazmente para que o CPLC pudesse ter existência própria.

Ao ilustre Governador Civil do Porto, Sr. Dr. Domingos Braga da Cruz, e a quantos, directamente ou indirectamente concorreram para que a impressão de livros e periódicos em relevo no nosso País, feita com regularidade e eficiência, fosse finalmente uma esplêndida realidade, ficamos também profundamente gratos. Dita esta palavra de agradecimento a quem a merece, outra de saudação e cumprimentos nos apraz dizer igualmente, calorosa e amiga.

Dirige-se ela, em primeiro lugar, aos nossos colegas do Brasil, que tão galhardamente têm sustentado até hoje as necessidades dos leitores de Braille em Portugal.

Estende-se do mesmo modo, calorosa e amiga, a todas as instituições tiflológicas nacionais e estrangeiras, nomeadamente do Brasil e de Espanha, com quem de há muito mantemos as mais cordiais relações de amizade, bem como aos cegos de todo o mundo e, em particular, aos nossos leitores.

Não pretende “Poliedro” ser original nem diferente das suas congéneres de outros países. Tão pouco se importa de agradar aos dois ou três leitores de elevado nível cultural, que gostariam de encontrar nela aquele género de textos por que anseia o seu espírito requintado, nem lisonjear aqueles que, por descuido ou incapacidade, se não dispõem ou não podem seleccionar e erguer a mais alto grau as suas ideias e conhecimentos. A nossa intenção, ao menos por agora, é servir o maior número, constituído naturalmente pelos indivíduos de cultura média. Será, por isso, “Poliedro” uma revista de vulgarização de conhecimentos universais, donde toda a especialização ficará excluída. Tratará igualmente dos problemas relacionados com a vida dos não videntes, tão normativa quanto possível no domínio da tiflo-educação, e encherá os seus espaços vazios com alguma leitura amena e passatempos agradáveis. Terá tantas faces quantas um poliedro possa ter.

Humildemente reconhecemos o peso da responsabilidade que assumimos e damos conta da dúvida que se nos impõe de sermos ou não capazes de nos desempenhar dela como convém.

Mas sabemos exactamente o que queremos e por onde havemos de ir. Abertos a todas as sugestões e críticas, construtivas e de boa fé; imunes àquelas que não possuam tal carácter, estamos certos de que “Poliedro” acabará por encontrar o seu rumo e marcar posição entre quantas revistas em relevo se publicam por todo o mundo.

Chegamos, tarde embora, mas havemos de ficar, se Deus quiser.