Olhar o outro com outro olhar
Assinala-se hoje o Dia Mundial da Bengala Branca. Um dia para assumir a obrigação de olhar o outro com outro olhar: afinal, a diferença pode ser de todos. a incapacidade nem sempre são só dos outros. A (in)formação, sabe-se e assume-se, é a primeira obrigação de um qualquer órgão de comunicação social. Mas a defesa das causas sociais, aquelas que são de todos, a que está indissociavelmente ligada a sensibilização e a necessária chamada de atenção do maior número possível de cidadãos, também é matéria nobre dos media. O DIÁRIO AS BEIRAS, assume-o e leva-o hoje, uma vez mais, à prática.
É assim que, em colaboração com a Delegação Regional do Centro da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), hoje - Dia Mundial da Bengala Branca -, o DIÁRIO AS BEIRAS será vendido nas bancas com uma t-shirt da ACAPO, que assinala a efeméride com a frase outro olhar impressa a tinta e em Braile.
O preço unitário (jornal + t-shirt) é de cinco euros. Quem quiser aderir à iniciativa, estará a ajudar uma associação que tudo tem feito para auxiliar das formas mais diversas as pessoas invisuais em Portugal.
Hoje, é uma imagem que já não surpreende quase ninguém, a de um cego caminhando pela rua, de bengala branca na mão, que vai permitindo tactear o chão, detectar obstáculos e encontrar pontos de referência úteis para a sua orientação e locomoção. Desta forma, as pessoas cegas deslocam-se autonomamente pela rua, usam os transportes públicos, fazem a sua vida quotidiana, dirigem-se ao seu emprego.
Direito à participação Mas, de acordo com a ACAPO, nem sempre foi assim e a história está recheada de exemplos de clara marginalização das pessoas com deficiência que, ao longo dos tempos, foram conquistando, a pulso, o respeito, a dignidade e o direito a realizarem os seus sonhos e a participar na sociedade de que fazem parte. A naturalidade com que hoje se olha para uma bengala, na rua, servindo de ajuda a um cego, quase faz pensar que sempre foi assim. Na verdade, desde há muito tempo que os cegos se socorriam de pequenas bengalas ou de algum objecto do quotidiano que pudesse auxiliá-los, ao menos a detectar os obstáculos dos quais deveriam livrar-se.
Foi no século XX que a bengala foi definitivamente reconhecida como um instrumento precioso para a orientação e locomoção dos cegos. Em 1921, nos Estados Unidos, pela primeira vez um cego decidiu pintar a sua bengala de branco para que pudesse mais facilmente ser vista pelos outros. Mas, curiosamente, a ideia não foi muito bem aceite e, 10 anos mais tarde, foi retomada em França, espalhando-se rapidamente para outros países. Só então a ideia ganhou novo impulso nos Estados Unidos e, hoje, é quase universal a bengala de cor branca.
Nos anos de 1940 foram desenvolvidas as primeiras técnicas para uso da bengala, tendo também sido definido qual o comprimento que ela deveria ter em função da altura de cada pessoa. No entanto, só nos anos 60 o ensino destas técnicas ganha impulso na Europa e, em Portugal, no início dos anos 70.
Entretanto e sempre com o intuito de aumentar a autonomia e a segurança dos cegos na sua mobilidade, ainda de acordo com a ACAPO, têm surgido diversas inovações no campo da electrónica. O primeiro equipamento electrónico para apoio à mobilidade dos cegos terá sido criado ainda nos anos de 1940, mas a primeira bengala electrónica foi comercializada apenas cerca de 30 anos mais tarde. Ainda assim, tanto em Portugal como nos demais países, estas bengalas estão longe de uma utilização significativa, sobretudo pelos elevados custos de aquisição.
Já nos últimos anos - na década de 90 -, começaram a treinar-se os cães-guia de cegos. No entanto, a história do treino de cães para este efeito é ainda mais antiga do que a da própria bengala branca e suas técnicas. O primeiro treino de cães para auxílio à locomoção de cegos remonta ao século XIX, por iniciativa de um padre alemão. Sem muitos adeptos, a ideia ganhou impulso nos Estados Unidos apenas nos anos de 1930, dando-se início ao treino e utilização dos chamados seeing eye dog.
Eliminar as barreiras
O fascínio pelo cão e a surpresa pela sua habilidade para auxiliar a pessoa cega na sua locomoção, faz com que o cão-guia seja ao mesmo tempo atractivo para os próprios cegos e tenha grande visibilidade junto da opinião pública.
Apesar disso, de acordo com a ACAPO, o cão-guia está longe de ter uma utilização massificada em Portugal. Por um lado, isso deve-se ao facto de só na segunda metade de 1990 ter surgido no nosso país a única escola de treino destes cães, a Escola Beira-Aguieira, em Mortágua.
Ao assinalar esta efeméride, a ACAPO pretende realçar não só o marco de viragem que a bengala em si mesma traz para a socialização, realização e integração das pessoas com deficiência visual, mas também toda a carga simbólica que lhe está associada, procurando despertar toda a sociedade para as questões da igualdade de oportunidades e da inclusão e, consequentemente, para a necessidade de eliminar tudo o que possa constituir-se como barreira para a autonomia e integração das pessoas com deficiência visual.
De entre as muitas barreiras, neste dia vale a pena chamar a atenção para aquelas que condicionam a mobilidade, como sejam as barreiras arquitectónicas, o mau estacionamento de veículos e, em suma, todas aquelas situações de falta de cuidado e de civismo nos espaços públicos.
ACAPO celebra 15 anos de actividade
O Dia Mundial da Bengala Branca é também o dia de aniversário da Delegação Regional do Centro da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, com sede em Coimbra. Mas a Delegação Regional do Centro ACAPO irá comemorar os seus 15 anos de actividade apenas no próximo sábado, dia 20 de Outubro, com um almoço-convívio
no restaurante A Democrática, em Coimbra. A intenção é reunir associados, familiares e amigos da ACAPO, prestando uma sentida homenagem a todos os que passaram na direcção da Delegação Regional do Centro.
As inscrições devem fazer-se até hoje, às 18H00, na secretaria da Delegação Regional do Centro, pelo telefone 239 792 180 ou através do e-mail sec-coimbra@acapo.pt.
Fonte: http://www.asbeiras.pt/index2.php?area=coimbra&numero=50496&ed=15102007
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Comentários
Diário das Beiras
Gostaria de adquirir o Diário das Beiras que foi posto à venda no dia 15 passado, com uma T-Shirt da ACAPO, a assinalar o dia Mundial da Bengala Branca. Alguém me pode informar se esse jornal se encontra ainda à venda e se está disponível em qualquer banca, mesmo fora das Beiras?
Obrigada