Está aqui

Áudio-descrição: Opinião, Crítica e Comentários - blog de Francisco Lima

Áudio-descrição das Ruas

por Francisco Lima

Áudio-descrição das Ruas

Prezados,
De novo venho falar da falta de acessibilidade comunicacional nos meios de comunicação, agora e, em particular, nos meios de comunicação aqui em Pernambuco, Brasil.
A polícia militar deste Estado da Federação está em greve, está paralisada. Sem entrar em debate a respeito do direito de os profissionais dessa área da segurança pública em reivindicar condições de saúde e segurança para o exercício de seu ofício, sem entrar no debate se estão certos em reivindicar coletes à prova de bala para defenderem-se das agressões que, no caso da polícia é contra a vida do trabalhador, sem entrar no debate se os tais coletes constituem para o policial um EPI, equipamento de proteção individual, direito dos trabalhadores e que a legislação obriga as empresas oferecerem aos empregados, mas que a Justiça brasileira negligentemente acolhe a negativa dos EPIs aos policiais, aos quais não é permitido o direito de reivindicar a respeito desses direitos e outros, venho dizer que as pessoas com deficiência, dependendo dos meios de comunicação para orientarem- em situação de desordem social, ficam alijadas do direito à informação, na igualdade de condições daqueles que podem ouvir ou ver.
Neste Estado, como ocorrem em outros de nossa Nação, a pessoa com deficiência é descanteada, a saúde, a educação e a segurança são discursos de políticos embotados pela corrupção, pela negligência pela manipulação da população.
O caos que assola as ruas não vem, obviamente da paralização da polícia militar, mas da negligência de proteção do Estado à população que não conta com um governo responsável, o qual pensa a segurança de todos, não apenas de seus próprios, como estamos vendo.
E nisso tudo, como fica a mídia? Enquanto pessoa com deficiência, busco na TV e no rádio as informações, esperando saber delas na forma que elas, as informações são, não na opinião dos que as oferecem.
Estou envergonhado de ser cidadão Pernambucano ao ouvir a rádio Jornal do Comércio, uma das principais rádios pertencentes ao aglomerado comunicacional desse grupo de “comércio” da informação.
As falas são vergonhosamente direcionadas, partidariamente politizadas, politicamente ofensoras do direito dos ouvintes em ter os fatos, de sorte a poderem decidir por si sós a respeito dos rumos dessa atuação social.
Assim, de um lado, as TVs não oferecem a acessibilidade comunicacional, descrevendo os fatos, mas dando a opinião das imagens que escolhem apresentar; de outro, a rádio, estação que costumeiramente escuto, trata o ouvinte como um boi de abate, direcionando as matérias.
Por outro lado, as pessoas com deficiência, trabalhadores, estudantes, cidadãos não podem contar com a visão real da informação, também porque os escolhidos a falarem na rádio não descrevem as situações, dão as suas opiniões: pior, as dão como se fossem as reais imagens da cidade, como a Tevê do comércio está fazendo, alternando imagens de Abreu e Lima e Recife, como se as ações tivessem ocorrendo tudo agora e hoje, no mesmo município. Vergonha de manipulação comunicacional!
Será que foi assim que esses jornalistas do comércio foram formados? É assim que consideramos que o Brasil saiu da ditadura e hoje vive a democracia?
Ora, a segurança pública não é feita apenas pela polícia militar, é?
Pelo que parece sim, já que sem ela a polícia civil, a federal, que ganha muito mais que a PM, o exército e outros não parecem dar conta de manter a segurança da população. E se for isso, então a reivindicação salarial dos PMs também é razoável.
Mas, não é nesse nível que a comunicação no Jornal do Comércio apresenta, mas na execração dos policiais. Aí, vai saber se o método de tornar o caos para dominar, usado pelas ditaduras não está sendo usado pela ditadura da imprensa, esta que sabe ser democrática, mas que sabe servir ao comércio, a indústria e aos ruralistas também.
Se não podemos contar com a seriedade da informação visual de maneira acessível, se não podemos contar com o áudio das informações de porta-vozes isentos, que nos resta esperar da mídia brasileira?
Será que querem mostrar um Brasil de fantasias? Este, o Estado brasileiro e pernambucano já vendem no Carnaval.
Felizmente a mídia de hoje é suplantada pelos e-mails, pelos aplicativos sociais nos celulares, nos aplicativos sociais na rede internacional de computadores. Felizmente a áudio-descrição das ruas vem das pessoas que vivem nas ruas, trabalham nas ruas e até sobrevivem nas ruas.
Hoje, estou falando de áudio-descrição das ruas e a imagem que fica dela é o descontentamento deste cidadão, deste ouvinte envergonhado com a mídia que deveria ser honesta com a informação e que a manipula.
Por uma áudio-descrição empoderativa, lutamos, pois sem ela a mídia medíocre alija os cidadão do direito de tomada de decisão.
E aí vem a Copa, e aí virão os turistas, e aí encontrarão um país rico de cidadãos pobres, inclusive pobres de segurança e de informação.
Cordialmente,
Francisco Lima