"Audiodescrição por Nós Mesmos"
Prezados,
Hoje venho falar de algo muito importante, muito sério e, certamente que vai desagradar a muitos, pelo menos à primeira vista, pelo menos, antes de pararem e refletirem no que significa o real sentido do que lerão.
Assim, a despeito do tanto que me desagrada tratar do que vou, não posso faltar aos meus princípios.
Sei, por outro lado, que desculpas virão; justificativas serão ditas, não necessariamente aqui ou a mim, mas certamente virão junto dos impropérios e os adjetivos a que estou acostumado a ouvir. Afinal, sou cego e as pessoas cegas, incrível que possa parecer, ouvem, leem, refletem sobre o que ouvem e leem. Ao refletirem, gostam ou desgostam. Ao gostarem, ou ao desgostarem, elas dizem do que gostaram do que ouviram ou leram também. Eu li, ouvi e desgostei. Agora falo e falo de minha indignação pelo que li e pelo que o discurso abrange.
Que eu respire fundo, então.
Certo que eu esperei um tempo para escrever este post, doutra forma, seria muito, digamos, muito menos... sutil!
Amigos,
A áudio-descrição é uma área em franco desenvolvimento no Brasil. Formadores de áudio-descrição, capacitados ou não, estão ganhando com a oferta de cursos aqui e acolá; áudio-descritores, formados para exercer essa função, ou que assim se intitularam, começam a ganhar com os trabalhos que estão fazendo; empresas que vendem equipamentos usados na áudio-descrição estão ganhando com a venda de equipamentos que antes eram usados para tradução simultânea; outras empresas estão ganhando com a publicidade de produtos com áudio-descrição; políticos estão ganhando, como sempre fazem, com a pessoa com deficiência e, até a pessoa com deficiência está ganhando com a áudio-descrição, uma vez que essas pessoas passam a ter acesso à informações que antes eram inacessíveis ou inacessáveis, como Diz Matoso, 2011.
Enfim, todos estão ganhando com a áudio-descrição: técnicos de áudio e vídeo; locutores; revisores; técnicos de filmagem etc., e tantas mais pessoas vão ganhar.
Então, então, não é necessário forçar a barra, fazer propaganda enganosa, vender gato por lebre, ludibriar.
Vejam, os colegas, a proposta que este anúncio faz em publicação disponível no http://www.blogdaaudiodescricao.com.br/2012/08/oficina-ensina-cegos-desc...
sábado, 18 de agosto de 2012
Oficina vai ensinar cegos a descrever cenas de filmes.
Letícia, Mimi, Flávio, áudio-descritores desta lista e do mundo, sinto muito mas o fim da carreira de vocês acaba de ser decretada!
Eu mesmo vou fazer esse curso. Vou aprender a descrever cenas de filmes. Agora eu não tenho mais que esperar que vocês façam a áudio-descrição daquele filme educativo, religioso, proibido para menores, que eu queria assistir e vocês nunca áudio-descrevem. Vou fazer o curso e, se eu aprender (vou estudar o máximo para que eu aprenda) farei, eu próprio, eu mesmo, eu mesminho, as audiodescrições que vocês não se incomodam em fazer.
Que meus santos me ajudem a conseguir uma vaga nesse curso, não posso perder a oportunidade de aprender a descrever cenas de filmes e me livrar desses áudio-descritores que só querem áudio-descrever a Turma da Mônica e não o Príncipe Safire.
Prometo, meus amigos que nem me precisam convencer do contrário, vou grafar audiodescrição na forma que me ensinarem, vou concordar que áudio-descrição, quer dizer, audidescrição, se define pelo uso de cabine para tradução simultânea, vou fazer tudo certinho, pois, enquanto pessoa cega, jamais pensei que teria tão grande empoderamento na minha vida, como poder aprender a descrever cenas de filmes por mim só. Eu mesminho!
Desculpem-me a repetição, mas estou tão excitado com essa possibilidade que nem posso dormir, e nem é por conta da minha insônia diária, ou deveria dizer, noturna.
Uma imagem pode valer mais que mil palavras. Mas as palavras certas podem descrever para uma pessoa com deficiência visual tudo o que um vidente consegue ver durante um filme. Engraçado, parece que eu li algo muito parecido com isso em algum lugar mas.... passou, passou!
Um cego descrevendo sozinho as cenas do filme para que possa poder assistir ao filme com acessibilidade, ali, páh!
E isso é ainda muito mais que os grandes formadores de áudio-descritores do mundo jamais pensaram ser possível! Estou excitadíssimo com a possibilidade de poder fazer, por conta própria (será que quer dizer que eu quem vou pagar sozinho a conta?) a descrição de tudo o que um vidente consegue ver durante um filme.
Ai, gente, como quero aprender as tais palavras certas... Será que é pirim-pim-pim? ((pirim-pim-pim, pirim-pim-pim, pirim-pim-pim!!!)) Não é.
Não tem problema, vou fazer o curso, quer dizer, deixe-me usar as palavras certas, vou fazer a oficina "Audiodescrição por Nós Mesmos". que vai me ensinar a descrever cenas de filmes e, então eu, ceguinho da Silva, da Silva não, de Lima, vou poder aprender a usar as palavras certas e
Fazer, euzinho, a descrição das cenas dos filmes e, daí, o assistir com a tão desejada acessibilidade comunicacional pela qual tanto lutei.
Agora, estou com uma dúvida, meus amigos, Li em algum lugar, mas poderia estar escrito errado, é claro, mais provável ainda, eu quem entendi errado, não seria apenas a 932974901859
Vezes que já fiz isso. Erro que prometo não cometer depois de fazer a oficina "Audiodescrição por Nós Mesmos". E aprender como audiodescrever as cenas dos filmes, por mim mesmo.
Mas, deixem-me voltar à dúvida.
Li em algum lugar que a áudio-descrição é uma tradução dos eventos visuais em palavras. Que para se traduzir os eventos visuais é preciso que o áudio-descritor, uma pessoa que enxerga, descreve o que vê. Li que esse profissional deve observar a obra, vendo nela o que outros que enxergam não vêm, para a áudio-descrever fiel e fidedignamente, de modo conciso, claro, correto, específico e vívido, produzindo roteiros coesos e coerentes que devem ser locucionados de forma clara, sem sussurros, engasgos e afetada interpretação teatral, como se dá, por vezes, na dublagem, por exemplo. Li, também, que o áudio-descritor é um profissional que pesquisa, estuda, que observa a obra antes de a descrever, ou que faz isso em relação aos assuntos concernentes, quando vai fazer uma tradução simultânea, para a qual não teve acesso aos materiais.
Acho que li muitas coisas, pois li, também, que o áudio-descritor deve ser honesto com seu publico, não o subestimar, não superestimar; não o paternalizar, não o deixar sem o suporte de que necessita etc.
Por fim, li que o áudio-descritor descreve o que vê, não o que acha que viu, pensou que viu, deduziu que viu. Quando ele faz isso, digo, quando ele áudio-descreve o que acha que viu, áudio-descreve o que pensa que viu, chama-se de interpretação. Portanto, dizem os autores dos textos que li, interpretar é algo que se deve evitar, para não ser desonesto com o usuário da áudio-descrição. É, não tinha me dado conta, essa coisa de honestidade na áudio-descrição parece ser algo bem importante, ne?
Mas, mina dúvida depois disso tudo que li é se uma pessoa cega pode aprender a descrever por si só, ela vai a aprender a enxergar, então, não é?
Gente, isso não é maravilhoso? É uma revolução na acessibilidade comunicacional, é uma revolução na oftalmologia mundial, gente!
Descreva o que você vê, veja para descrever, uma pessoa cega fazendo a descrição de filmes por si só, isso é um milagre do Sul, como diz Boa Ventura... E que boa aventurança será poder assistir a uma obra audiovisual por meio do detalhamento oral das cenas, detalhamento este feito por mim, invejem os áudio-descritores!
Puxa, acho que já estou aprendendo a usar as tais palavras certas: detalhamento oral das cenas... Viu, eu, em minha insignificância, achava que um áudio-descritor fazia a tradução visual dos eventos imagéticos, não um detalhamento oral das cenas. Isso é muito mais que um cego pode esperar, gente. Naquele espacinho de tempo, os áudio-descritores apenas conseguem traduzir o que é essencial para o entendimento do que é visto, na oficina, o cego poderá, por si só, fazer o detalhamento oral das cenas, descrevendo tudo que o vidente vê durante o filme. É lindo! É fantástico, isso, deve estar na Globo!
Ah, e eu quero estar lá:
Homem sem visão, ou seja, Cego, sem cabelo, que não é magro, aprende a descrever, por si só cenas de filme.
Francisco Lima, 47, é um dos formandos da oficina que ensinou cegos a descrever cenas de filme, ou seja, todas as cenas que o vidente vê no filme. Antes, Francisco nem conseguia ver o filme, assistir ao filme era impossível, coitadinho, hoje, depois da oficina ele descreve, por si só, os filmes que quer, a hora que quer, pois descreve por si só todas as cenas dos filmes.
É, não ficou muito bom, né? Mas, depois que eu aprender as palavras certas, aprender fazer o detalhamento oral das cenas, depois que eu aprender a descrever por mim só tudo que o vidente vê num filme, ah, vocês verão que eu escreverei direitinho. Afinal, li que para ser áudio-descritor a não basta que a pessoa enxergue, que veja a obra, é necessário que ela domine a língua, ou seja, a gramática, a pronúncia, as técnicas de locução, as diretrizes para áudio-descrição e tudo mais em Alcatraz.
Mas, é lógico, estou me apegando ao que li e, meu avô já me dizia: Chiquinho, não acredite em tudo que você lê, meu netinho ingênuo, pobre inocente ceguinho crédulo.
Sabido, era esse vovô, vocês nem podem imaginar.
Agora, sabem do melhor disso tudo?
A oficina "Audiodescrição por Nós Mesmos". será gratuita.
Ninguém vai pagar nadinha! Eu pagaria o dobro que cobra certa formadora de áudio-descrição que nunca se formou no ramo e que dá curso à distância. Ah, pagaria mais que cobra a outra formadora de áudio-descritores, sim, aquela que, uma semana depois de assistir a um evento com áudio-descrição, onde ela própria era palestrante e não fizera a áudio-descrição dos slides e das imagens que fez uso na apresentação, anunciava que iria dar curso de audiodescrição. Eu que pagaria mais que pudesse cobrar, aquele audiodescritor que vem traduzindo a-ds de outros idiomas, em lugar de ele as fazer, não vou pagar nadinha pela oficina que promete ensinar cegos a descrever cenas de filme por si só.
Ah, meu coração, esta é felicidade que eu jamais pensei fosse possível sentir:
Poder descrever por mim só as cenas todinhas de um filme que vê o vidente.
Agora, invejem os áudio-descritores, vidente serei eu! Primeiro filme que descreverei será o Túnel do Tempo, ou Perdidos no Espaço, não sei. Vou descrever os dois!
O projeto, proposto pela animadora Marinéia Anatório, integrante do Núcleo Animazul, foi selecionado em 2012 por meio de Edital Núcleo de Criação, promovido pelo Rede Cultura Jovem da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), com patrocínio do Instituto Sincades, e a parceria do Instituto Marlin Azul, do Projeto Arte sem Limites e do Instituto Galpão.
Mais que bacana, gente, mais que louvável! o curso tem patrocínio, parabéns, pessoal! É disso que o Brasil precisa, precisamos de animadores que promovam a inclusão social da pessoa com deficiência.
É por isso que clamo a todos que se juntem àqueles animadores de televisão para arrecadar dinheiro para as pobres coitadas crianças com deficiência. Esse pessoal animador anima mesmo! Com apenas dez reais, não desanimam, conseguem mais recursos e promovem oficinas que ensinam cegos a descrever cenas de filmes: maravilhoso!
A iniciativa prevê a pesquisa, capacitação e aplicação do recurso em dois curtas-metragens capixabas de animação: "As Curvas de Niemeyer", dirigido por 150 alunos de ensino fundamental da Rede Municipal de Educação de Vitória, e "Aventuras e Movimentos", dirigido por alunos do projeto Arte sem Limites. Além da audiodescrição de filmes para cegos, a oficina também produzirá a legendagem específica das obras para acesso de pessoas com deficiência auditiva.
Vitória!!! Já estou começando ver... Eu sempre que pensei que o trabalho desse arquiteto, certamente o arquiteto que mais pensou na pessoa humana em seus projetos, construindo com acessibilidade, ergonomia e economia do dinheiro público, não tinha tantas curvas assim. É, percebo agora que em minha cegueira não via que as curvas do trabalho do arquiteto eram sutis para que a mobilidade de pessoas com deficiência física com deficiência visual pudessem ser a melhor.
Enquanto professor, devo parabenizar o trabalho que vai fazer pesquisa, capacitação e tudo mais, além de ensinar cegos descreverem cenas de filmes por si sós.
O projeto quer promover o estudo e a utilização da audiodescrição na tradução de obras audiovisuais, peças de teatro, espetáculos circenses, entre outros eventos culturais que, na maior parte das vezes, estão despreparados para oferecer estas possibilidades de inclusão.
É o que eu disse, gente, como estão despreparados para oferecer essas possibilidades de inclusão, é que se faz propício oferecer uma oficina que ensina cegos a descreverem cenas de filmes por si só. E que malabarismo terão de fazer para ensinar um cego descrever todas aquelas cenas de um filme: de 2, numa oficina só!
Ora, quem deixaria de patrocinar uma oficina dessas?
Pode dizer que eu mesmo patrocino, sei lá, faço um empréstimo no Banco Safra, pego uma graninha com o Cachoeira e arrumo o dinheirinho para que essa oficina possa ensinar cegos a descreverem cenas de filmes, em todo o Brasil, Só para me livrar dos áudio-descritores que não querem áudio-descrever aquele filme épico, Garganta Profunda. E nem venham fazer troça de mim, só porque falei de Cachoeira, garganta profunda etc. Isso não tem nada que ver com cascata ou bravata, ou seja, garganta.
Inscrições gratuitas - A oficina será oferecida a alunos do Ponto de Cultura Animazul e do Arte Sem Limites, que reúne pessoas com deficiência visual, auditiva, cadeirantes, autistas. Mais quatro vagas serão abertas para quem tem mais de 18 anos, ensino médio completo e deseja aprender um pouco sobre a audiodescrição. Basta se inscrever através do site www.animazul.org.br.
Agora vejo com clareza solar, meus caros. Nem comecei a fazer a oficina e já vejo...
A arte é sem limites, a imaginação é o âmago da coisa. Se eu tivesse tal imaginação, eu estaria rico! A coisa é óbvia: os Cegos audiodescrevem filmes, os surdos fazem a legenda do que os atores disseram e cegos e surdos se livram, de uma só vez, de áudio-descritores e intérpretes, igual aquela piada do surdo, do cego e do cadeirante que morreram e, sendo beneficiados com a bondade divina, retornaram ao mundo terreno, sem a deficiência que portavam e os recursos assistivos de que faziam uso: o cego, lançou fora a bengala, o cadeirante, quer dizer, ex-cadeirante, lançou fora a cadeira de rodas, o ex-surdo.... poderíamos acrescentar que o ex-cego lançou fora a bengala, o cão guia e o áudio-descritor!
Bem feito, agora posso dizer mal desses áudio-descritores que ficam áudio-descrevendo espetáculos de circo, vídeo clipe da Luísa etc. e não áudio-descrevem o homem de aço.
Bem feito para vocês, agora vou aprender a audiodescrever filmes e não vou mais ter de aguentar a voz feia de vocês, descrevendo apenas o que o tempo permite, durante os espaços entre as falas, ou por sobre elas nos casos em que a falta da áudio-descrição traria mais prejuízo para compreensão que a perda de uma ou duas sílabas do que os personagem estão falando.
"Audiodescrição por Nós Mesmos" resultará na produção de um DVD com as duas animações capixabas com audiodescrição, com opção de legendas em português, permitindo a fruição de pessoas com deficiência visual, auditiva e intelectual. As cópias serão distribuídas gratuitamente para diversas instituições ligadas às deficiências.
Fonte: Pontão Animazul
Li que quando a gente está excitado com uma ideia, a gente fala muito e vejo, pelo tanto que escrevi, que isso é verdade. Meu vovozinho que perdoe-me se estou acreditando em algo que li e que não seja verdadeiro.
Amigos, se por força de mídia, se por querer ganhar edital se, por qualquer razão, um profissional da áudio-descrição, mormente um formador, fez tal proposição, ele não deveria ter agido assim. Um formador não pode escrever dessa forma. A liberdade de expressão é autorregulada pela ética, meus amigos.
Não podemos vender a ideia de que uma pessoa cega pode ser ensinada a áudio-descrever por si só.
Sejamos honestos e digamos que vamos ensinar ao sujeito com deficiência visual diretrizes da áudio-descrição, que vamos ensinar como podem se beneficiar da áudio-descrição, aprendendo como as escolhas tradutórias são feitas, como são pensadas e como elas são inseridas para que a pessoa com deficiência possa ter acesso às informações imagéticas.
Amigos, digamos não à indústria da deficiência!
Acho que vou criar o lema:
Say no to:
A indústria da deficiência. É, slogans que tenham partes em inglês parecem ser mais publicitário, que me permitam os colegas profissionais dessa área.
Não, não posso tolerar que as pessoas menos avisadas aprovem cursos com a falácia de que os cegos vão poder, por eles próprios, descreverem filmes; não posso deixar que o público pense que a áudio-descrição descreve tudo que o vidente vê num filme, isso é mentira!
Somos formadores de público, somos formadores de opinião, somos formadores de áudio-descritores. Se aos demais é permitido falar essas besteiras, a nós não é dada a oportunidade de cometer tão grande falácia.
Pessoas cegas não podem ser ensinadas a descrverem cenas de filmes.
Estou aberto a quem quer que seja a me ensinar fazer isso. Estou velho, muito ranzinza e já meio gagá, alguns podem completar. Mas, ainda sou capaz de aprender algo e estou disposto a aprender a descrever cenas de filme por mim só, por mim próprio.
Se não foi isso que se desejou dizer, bem, foi o que foi dito.
E se foi, foi intencionalmente. De outra forma já se teria modificada a propositura.
Deixem disso de querer usar a pessoa com deficiência como moeda.
Prestem bom serviço assistivo e ganhe por isso. Nada mais justo! Não venha vender promessas que não podem cumprir.
Existem pessoas que como eu, estamos dispostos a fazer valer o lema: Nada sobre nós, sem nós e isso significa que ninguém vai ficar falando tão grande mentira, sem que nós possamos nos manifestar.
A proponente do curso, curso não da oficina e apoiadores não precisam mentir para fazer o que é importante que se faça, a instrução do público, mas sem dizer que vão ensinar as pessoas cegas a descrevem filmes por elas próprias.
Por fim, as barreiras atitudinais nesse texto são tão alarmantes que até a propositura de que quatro vagas serão abertas para quem tem mais de 18 anos, ensino médio completo e deseja aprender um pouco sobre a audiodescrição vem na desconsideração que as pessoas surdas, pessoas com deficiência visual ou com autismo que vão fazer o curso podem ser pessoas com essa educação formal.
Deficiência não é currículo, aprendam os oficineiros, por favor.
Mas, tudo isso que disse é que está errado, não se assustem os colegas ledores deste post mau humorado
Trata-se de uma oficina, pois nela se concertará a visão de quem fizer o curso e as pessoas que eram cegas irão ser capacitadas para descreverem cenas de filmes. Mas, aí, não serão mais pessoas cegas, serão pessoas!
E é por isso que prefiro áudio-descrição e os bons serviços dos profissionais que estão, cada vez mais aprimorando suas técnicas na tradução visual, trazendo acessibilidade comunicacional, participação social, conhecimento aos brasileiros com deficiência.
Observação:
Em que pese meu reconhecimento pelo trabalho da colega oficineira, descordei do que foi prometido e escolhi o modelo do sarcasmo, da sátira e do tom jocoso para mostrar minha indignação para com este título de oficina.
Que o conteúdo, porém, seja o da qualidade que a professora é capaz de oferecer e que os participantes possam beneficiar do conhecimento que está sendo patrocinado pelas instituições que acreditaram no projeto.
Cordialmente
Francisco Lima
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Comentários
Resposta
Oi Francisco. Acho que seus comentários e sua indignação são muito válidos. Acredito que para imprimir qualidade e de fato promover acessibilidade a este tipo de mídia, assim como de outras, uma boa pedida seria que o audiodescritor realmente conhecesse o trabalho do autor daquele produto cultural e trabalhar em parceria com um deficiente visual, para assim, certificar-se de que a descrição realmente promove a sensibilização e o entendimento daquilo que se propõem comunicar.
Quem determina a áudio-descrição
Olá, minha querida,
Obrigado por escrever.
Este é um assunto, de fato muito importante!
Trabalhar a áudio-descrição é ato de parceria. Aquele que acha que basta ver para áudio-descrever está equivocado, aquele que acha que basta ser cego para ser consultor em áudio-descrição também está. E está ainda mais equivocado aquele que diz que vai ensinar uma pessoa com deficiência "audiodescrever" por si só.
o ato tradutório da áudio-descrição requer ver para áudio-descrever, exigindo que se observe o que a obra determina o que precisa ser áudio-descrito, para que os eventos visuais sejam vistos/apreciados pela pessoa com deficiência, neste caso, com deficiência visual.
Assim, se a obra requer que uma dada imagem seja áudio-descrita, o áudio-descritor deve ser capaz de ver essa imagem e deve ser capaz de a traduzir em palavras.
Nesse sentido, as palavras não devem faltar com a honestidade tradutória do evento visual. Logo, um áudio-descritor deve ser honesto com a obra, para que seja honesto com o cliente da áudio-descrição.
Por isso que um formador, em última instância, deve ser honesto com os clientes, não vendendo imagens que não são verdadeiras, inclusive quando anuncia um produto: uma oficina, por exemplo.
Cordialmente,
Francisco lima