Enquete:
É justificável mudar a grafia do nome de um serviço ou produto, meramente porque alguns dos consumidores do produto ou clientes do serviço não sabem a razão gramatical para a grafia correta daquele produto ou serviço específico?
Prezados,
Em conformidade com a mais recente Norma da Língua Portuguesa, Lima & Lima (www.rbtv.associadosdainclusao.com.br vol. 11/2012), no artigo LIÇÕES BASILARES PARA A FORMAÇÃO DO ÁUDIO-DESCRITOR EMPODERATIVO reafirmaram o entendimento de que áudio-descrição deve ser grafada com o traço de união, como já demostrado em vários de seus artigos (LIMA;LIMA;VIEIRA, 2009; LIMA, 2010), entre outros.
Para Francisco Lima o uso do termo áudio-descrição deve ser grafado com hífen, em lugar da escrita que meramente adiciona os termos áudio e descrição. Isso porque áudio-descrição constitui um novo termo criado, a partir de dois outros que antes, em separado, exprimiam o sentido de áudio e de descrição e que agora exprimem, em composição, o sentido de tradução visual.
Essa mudança de sentido requer que se grafe áudio-descrição com hífen, como se pode verificar na atual Norma sobre a grafia da língua portuguesa:
BASE XV
DO HÍFEN EM COMPOSTOS,
LOCUÇÕES E ENCADEAMENTOS VOCABULARES
Paráfrago 1º- Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arce-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano; afro-asiático, cifro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva.
Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc. (http://umportugues.com/acordo/) (sem grifo no original).
A defesa para a grafia de audiodescrição pode ser encontrada no blog da audiodescrição, sob o link Qual a grafia correta: audiodescrição, áudio-descrição, ou áudio descrição, onde se lê:
Nenhuma outra palavra está tão intimamente vinculada a "audiodescrição" do que a palavra "audiovisual", que tem sua grafia plenamente consagrada sem o hífen. Sendo a audiodescrição um recurso de acessibilidade que permite melhor compreensão de produtos audiovisuais por pessoas com deficiência, ficam as perguntas: seria conveniente criar uma discrepância escrevendo audiovisual e áudio-descrição(?); ao fazer isso, não estaríamos obrigando as pessoas com deficiência, usuárias da audiodescrição, a dar mais uma de tantas explicações sobre um recurso ainda pouco conhecido da sociedade em geral(?); será que o fato da descrição de imagens para pessoas com deficiência possuir técnicas específicas e diferentes da descrição de imagens para quem enxerga seria motivo tão relevante a ponto de justificar a diferenciação ortográfica(?).
Como se pode perceber, há uma diferença bem mais que acadêmica ou conceitual nas razões explicitadas por uma e outra vertente de formadores de áudio-descritores, e está relacionado à postura e/ou atitude que se tem para com a pessoa com deficiência, o principal usuário da áudio-descrição.
Em relação a este não se lhe deve subestimar a capacidade, nem mesmo para dar mais uma de tantas explicações sobre um recurso ainda pouco conhecido da sociedade em geral?.
E por falar em subestimação da capacidade do usuário da áudio-descrição, achar que este não poderá explicar porque a áudio-descrição se grafa com hífen, é um exemplo de barreira atitudinal.
... ... ... ...
Rodapé 1:
In: http://www.blogdaaudiodescricao.com.br/2010/07/qual-grafia-correta-audio...
Rodapé 2: Mesmo que o usuário não saiba a explicação para se grafar áudio-descrição, com hífen, isso não é argumento suficientemente válido para se grafar de outra forma, ademais, quantos usuários dos recursos audiovisuais sabem a razão de se grafar audiovisual, na forma que escrevem.
De qualquer modo, fica a reflexão:
Uma pessoa com deficiência visual não usa guarda-chuva?
E se não souber a razão de essa palavra ser grafada com hífen (mesma razão pela qual se grafa áudio-descrição com o traço de união), deveremos mudar a regra ortográfica só porque se acha que é demais para as pessoas com deficiência saberem/aprenderem a grafia correta para guarda-chuva ou, no caso em comento, a grafia correta do serviço de tradução de eventos visuais em palavras, conhecido como áudio-descrição?
Reflitam, discutam, partilhem suas opiniões e aprofundem seus estudos, caso isso for de seu interesse e desejo.
Cordialmente,
Francisco Lima
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