Prezados,
Trago-lhes artigo que publicamos na revista Diálogos entre Arte e Público, a respeito da áudio-descrição aplicada em ambientes museuológicos.
Tenho dito que a áudio-descrição cabe em todos os espaços em que tenham eventos visuais e, nos museus, a áudio-descrição é recurso de acessibilidade cultural, educacional e de lazer.
De fato, sugiro a quem ainda não experimentou essa atividade, que visite um museu, aproveite do conhecimento e do prazer que esse espaço pode proporcionar. Vá ao museu, requeira a oferta de áudio-descrição e a requeira com a qualidade que você merece. Não aceite menos que isso!
Então, para que possa exigir, veja abaixo o que se pode esperar de uma áudio-descrição nos museus.
Cordialmente,
Francisco Lima
ÁUDIO-DESCRIÇÃO: ARTE E LINGUAGEM A SERVIÇO da Pessoa COM DEFICIÊNCIA VISUAL
Francisco José de Lima
Paulo André de Melo Vieira
Ediles Revorêdo Rodrigues
Simone São Marcos Passos
ÁUDIO-DESCRIÇÃO: ARTE E LINGUAGEM A SERVIÇO da Pessoa COM DEFICIÊNCIA VISUAL
Resumo
Este artigo ressalta a importância do emprego da áudio-descrição das imagens nos ambientes de aprendizagem e lazer para pessoas com deficiência visual, fazendo a assertiva de que a áudio-descrição traz informações verbais adicionais cruciais para a compreensão da pessoa com deficiência aos conteúdos ofertados nos museus, mostra de artes e outros, bem como lembrando os benefícios do uso desse recurso, também aos alunos sem deficiência visual, por lhes possibilitar um aprimoramento em termos do vocabulário, tanto quanto por lhes ampliar a capacidade de efetuar descrições verbais a partir do que lhes chega como informação visual enquanto observadores.
Palavras-chave: áudio-descrição; deficiência visual; museus; aprendizagem
Introdução
O acesso à arte não pode ficar dissociado do processo de desenvolvimento e conscientização dos sujeitos cognoscentes, pois lhes traz informações que lhes ampliam o saber a cerca de sua própria identidade e inserção no mundo da história, ainda que enquanto história ela, a arte, vinha sendo excludente, fato contra qual os sujeitos com deficiência vêm agora lutar para transformar.
A arte é, sem sombra de dúvida, cultura, educação, lazer e via de socialização humana. Por conseguinte, tal possibilidade humanizante não pode continuar a ser negada à pessoa humana com deficiência visual num mundo que se queira justo e inclusivo.
Um meio de minimizar a exclusão cultural a que as pessoas com deficiência têm sido submetidas está na oferta de um recurso tradutório, da imagem em palavras, conhecido como áudio-descrição. Esse recurso, não só é de direito constitucional da pessoa com deficiência visual, uma vez que a todos é devido o direito à informação, à educação e ao lazer, quanto é viável, empregando recursos econômicos razoáveis na forma da lei.
A Relevância da Arte no Cenário Educacional
Conforme se pode conferir, os Parâmetros Curriculares Nacionais do ensino fundamental afirmam que o exercício da cidadania se dá pelo acesso de todos a todas as riquezas culturais apresentadas na vida social. Este acesso às riquezas culturais, na maioria das vezes, se dá por meio das instituições de ensino. Segundo se lê nesse documento, este recurso cultural vai desde o domínio da língua falada e escrita, reflexão matemática, percepção de mundo, explicações científicas até à capacidade de compreender obras de artes e mensagens estéticas.
A arte como educação:
A arte está presente na vida do homem desde o início da história da humanidade. Porém, o valor científico e cultural atribuído a esta área é recente, tendo acontecido no século XX (junto com as transformações educacionais ocorridas na época), quando se passou a preocupar com o processo de aprendizagem do aluno.
Foi assim que, inicialmente, a arte foi compreendida como manifestação espontânea e auto-expressiva do sujeito, o que trouxe contribuições significativas para formação de um indivíduo valorizado em sua plenitude. E isso se deu mais visivelmente com a reflexão, iniciada na década de 60, pois, com ela, a arte volta a ganhar reconhecimento como construtora do desenvolvimento cognitivo e intelectual do cidadão. Atualmente, tem-se desenvolvido pesquisas sobre o ensino da arte, resgatando a arte crítica e reflexiva; buscando compreender o modo de aprender dos artistas; analisando os conteúdos a serem ensinados e visando a conhecer o processo de aprendizagem dos alunos quando da relação com essa área de conhecimento.
Arte enquanto conhecimento:
A arte comunga com as áreas científicas, técnicas e filosóficas quanto ao caráter de criação e inovação, ambas significam a representação das diversidades culturais que permeiam raças e povos.
Assim como cada frase ganha sentido no conjunto do texto, realizando o todo da forma literária, na arte, cada elemento visual, musical, dramático ou de movimento tem seu lugar e se relaciona com os demais daquela forma artística específica. E, como cada elemento artístico relaciona-se com os demais, entende-se que quando não se tem acesso a ele, seja qual for a razão, há prejuízos na compreensão do todo de determinada construção criativa; daí o esforço de restauradores que empenham-se em recuperar o que os séculos fizeram esvair, para que se possa ter de volta, por pesquisa e esmerado trabalho, a íntegra do que nos legou um dado artista, ou grupo deles. A preocupação em garantir a todos o acesso à totalidade do que nos comunica uma dada obra de arte, prova de seu valor, também deve ser assegurado ao indivíduo com deficiência visual, pois se hoje são investidas grandes quantias financeiras para que muitos cidadãos, graças ao trabalho de restauração, não percam o acesso ao testemunho histórico presente numa dada forma de arte, não seria razoável permitir que vários outros, por questão de deficiência, permaneçam alheios ao que lhes pode comunicar uma vasta quantidade de obras artísticas.
Portanto, se investimos em restauração devemos investir também em acessibilidade, pois ambos os esforços visam igualmente a assegurar o contato do indivíduo com a informação.
Áudio-Descrição: Uma Fusão Perfeita entre Arte e Linguagem
A importância e a relação da linguagem e da arte na formação do sujeito crítico e participativo são claras e notórias, assim como de todas as outras áreas do conhecimento que não podem ser negadas às pessoas com deficiência visual. Portanto o recurso áudio-descritivo precisa ser valorizado e aproveitado para que a existência destas pessoas seja cada vez mais produtiva e significativa enquanto cidadãos.
Conforme se lê em http://www.audiodescricao.com/home.htm:
A audiodescrição é um recurso de tecnologia assistiva que permite a inclusão de pessoas com deficiência visual junto ao público de produtos audiovisuais. O recurso consiste na tradução de imagens em palavras. É, portanto, também definido como um modo de tradução audiovisual intersemiótico, onde o signo visual é transposto para o signo verbal. Essa transposição caracteriza-se pela descrição objetiva de imagens que, paralelamente e em conjunto com as falas originais, permite a compreensão integral da narrativa audiovisual. Como o próprio nome diz, um conteúdo audiovisual é formado pelo som e pela imagem, que se completam. A audiodescrição vem então preencher uma lacuna para o público com deficiência visual.
Alhures, ao escrevermos a respeito da áudio-descrição, assim nos expressamos:
Uma técnica de tradução visual surge na década de 1980 e vem se mostrando eficaz na comunicação dos elementos visuais às pessoas com deficiência visual, já sendo a sua utilização prevista em lei no Brasil. Trata-se da áudio-descrição, serviço de tecnologia assistiva que consiste na identificação e elocução de elementos visuais essenciais à compreensão e apreciação das imagens presentes nas obras teatrais, cinematográficas, televisivas, literárias, jornalísticas, científicas, artístico-culturais, entre outras, destinada principalmente às pessoas com deficiência visual, com dislexia, pessoas analfabetas, ou que não saibam o idioma em que um filme ou programa está sendo exibido.
O foco da áudio-descrição é oferecer ferramentas para tornar o mundo das imagens acessível àqueles que não as vêem, tornando tais imagens significativas, portanto, igualmente relevantes para as pessoas com deficiência visual, tanto quanto para os indivíduos que enxergam. Na áudio-descrição, as imagens falam aos sujeitos que não as vêem (com a mesma magnitude e beleza), agora, por meio da voz ou da escrita do áudio-descritor. A áudio-descrição faz parte do campo da tradução visual e é produzida segundo diretrizes técnicas pré-estabelecidas, dentre as quais a da oferta de narração dos elementos visualmente observados, nos intervalos/pausas entre as falas dos personagens, nas imagens contidas em livros e em legendas descritivas.
O propósito da Áudio-Descrição é propiciar às pessoas com deficiência visual, cegas ou com baixa visão, um quadro mais completo do que está sendo mostrado, viabilizando-as a participar de uma dada apresentação com a qualidade permitida a uma pessoa sem deficiência visual.
Utilizando-se técnicas de áudio-descrição de imagens estáticas, é possível aplicar o recurso no ambiente dos museus onde podem ser encontradas esculturas, pinturas e demais obras de arte para a apreciação de todos. Para a aplicação da áudio-descrição nesses ambientes será necessária a aplicação das técnicas de áudio-descrição de imagens estáticas. Este artigo se propõe também a colaborar na divulgação de orientações que auxiliem os áudio-descritores na feitura da descrição de elementos visuais encontrados nos museus.
Para que se empreendam áudio-descrições que sejam, não apenas padronizadas, mas também fiéis ao conteúdo da obra algumas diretrizes de caráter geral têm sido aceitas pelo público com deficiência como sendo razoáveis na comunicação dos elementos essenciais à sua compreensão.
Expandindo as orientações de que na áudio-descrição se deve atentar para o que descrever e o como descrever, elencamos aqui cinco diretrizes na elaboração de descrições de imagens estáticas:
1. Ser objetivo conforme (Audio Description Coalition, 2009, p.2; LARRS , s.d.; ACB , 2009, p. 9) não trazer inferências em termos de intenções de personagens, ou juízos a respeito da imagem que possam sobrepor-se à capacidade do espectador de tirar suas próprias ilações.
2. Ser breve deve-se tomar como referência o tempo que os visitantes videntes passam na observação de uma dada obra de arte; as imagens presentes nos catálogos e folders disponíveis nos museus vêm acompanhadas de textos, então o espaço disponível para a áudio-descrição fica fisicamente reduzido, mais uma razão para ser conciso no trabalho descritivo;
3. Ser descritivo lançar mão de um vocabulário variado e fiel às diferentes nuances dentro de uma mesma determinada categoria de coisas;
A textura pode ser descrita como lisa, acetinada, grossa, granulada, áspera, usada, desbotada, coçada, gretada, rota, ondulada, canelada, padronizada, listrada, às pintas e picotada.
A cor pode ser descrita como intensa, nítida, brilhante, clara, escura, apagada, pálida, desmaiada, sólida ou mesclada. Não há necessidade em evitar referenciar cores, no pressuposto que não tem sentido para os visitantes cegos. Em primeiro lugar, as descrições serão usadas por pessoas sem dificuldades visuais. Segundo, muitas das pessoas que agora são cegas já viram e conseguem recordar cores. Terceiro, por vezes as cores têm um significado simbólico nas obras de arte (apesar de frases interpretativas como warm gold ou red angry não deverem ser utilizadas).
A técnica artística pode ser descrita como realista, abstracta, não natural, simplificada, detalhada, precisa, imprecisa, mal definida, borrada, salpicada, pincelada ou marcada.
4. Ser lógico várias diretrizes na literatura que vem sendo construída acerca de áudio-descrição sugerem um seqüenciamento padronizado nas informações que são comunicadas. Ir do todo para as partes (ADP Standards, 2009, p. 5); do primeiro plano passando pelo plano intermediário até ao plano de fundo; ir da esquerda para a direita; de cima para baixo são algumas delas (Audio Description Coalition, 2009, p. 19-20).
5. Ser rigoroso uma das exigências de uma áudio-descrição de qualidade é que seja feita uma pesquisa detalhada para que não se caia o descritor em descrédito ao compartilhar o seu trabalho globalmente.
Uma vez que as descrições fazem parte de uma experiência de um saber global das artes, deverão ser concretas e consistentes com outras fontes de informação referentes à peça de arte em questão. Poderá ser necessário recorrer a investigação já realizada para identificar correctamente imagens históricas, personalidades, localizações geográficas, tipos de vestuário, género de animais, elementos arquitectónicos, etc.. No entanto, as descrições deverão evitar terminologia hermética (própria das artes) ou terminologia especializada que não seja familiar à maioria dos visitantes. Por exemplo, termos sobre estilos como sejam abstracto e realista serão facilmente compreensíveis o que já não acontece com Geometric Abstractionist e French Academic.
Na linha de oferecer diretrizes para uma boa áudio-descrição, ao treinar áudio-descritores, Snyder (2010) costuma ensinar os seguintes fundamentos :
1. Observação a capacidade de ver o mundo de uma forma diferente, percebendo aquilo que num primeiro olhar costuma nos escapar;
2. Edição Selecionar o que vai ser descrito para que o essencial seja separado do que não é relevante;
3. Linguagem Utilização de um vocabulário rico para traduzir diferentes ações dentro de uma mesma categoria; sabendo, todavia ajustá-lo ao universo vocabular do cliente do serviço;
4. Habilidades vocais A entonação correta com as pausas bem marcadas na produção de sentidos.
Das experiências com teatro e cinema, aproveitamos um conjunto de diretrizes, técnicas para a elaboração de áudio-descrições que possam traduzir uma determinada obra de arte, colaborando definitivamente na sua compreensão por parte de uma vasta gama de cidadãos com deficiência.
A seguir, compilamos mais algumas dessas orientações bastante úteis e aplicáveis ao se empreender a áudio-descrição em museus e mostras de Arte. São elas:
O total de áudio-descrição para uma dada mostra de objetos e imagens triviais deve ter a duração de duas vezes a quantidade de tempo que um visitante vidente típico pode passar explorando o trabalho. Por outro lado, a áudio-descrição de uma casa de época de grande importância histórica ou uma mostra que contenha artefatos de uma época ou cultura que não sejam familiares à maioria dos visitantes iria provavelmente durar, ao todo, três ou quatro vezes a quantidade de tempo que um vidente típico poderia passar visitando a exposição.
O áudio-descritor que acompanhe um grupo de alunos em determinada mostra artística ou histórica não necessita passar tempo em demasia alongando-se em detalhes de objetos de importância trivial. Poderá o descritor estender-se um pouco mais em seu trabalho tanto quanto maior destaque merecer o conteúdo que está sendo exibido. Um referencial fornecido é quanto tempo em média o visitante vidente passa em contato com um dado objeto na mostra.
Em sua série Museum of the Mind, Robert Sutter empreende a descrição de imagens de pinturas veiculadas através do rádio. Como nesta descrição da pintura a seguir :
Nessa pintura, uma luz avermelhada se difunde na cena de outono e nos diz que cai à tardinha. O baixo ângulo do sol da tarde faz as encrespações sobre a água da embarcação que se desloca levemente, grandes no primeiro plano, contrastarem com a superfície espelhada do rio. Umas poucas árvores cobertas de cores do outono sobressaem-se de uma projeção de terra à margem esquerda do rio no fluxo por trás do barco de Schimitt e lançam os seus reflexos numa simetria perfeita sobre o espelho da superfície quieta do rio.
Thomas Eakins. Max Schimitt num Barco Solitário, 1871
Detalhes que seguramente não são percebidos num primeiro olhar, nos são trazidos pela percepção do áudio-descritor, a exemplo do que ele expressa ao usar os termos encrespações, projeção, simetria.
Contudo, a descrição acima é formal, veiculada por rádio o que requereu fazer uso de um registro lingüístico igualmente mais formal.
No exemplo abaixo, retirando da Revista Brasileira de Tradução visual, podemos aquilatar a leveza da áudio-descrição, de sua clareza lingüística e da acessibilidade que dá à arte da fotografia.
Fotografia em preto e branco nas dimensões 15 cm x 21 cm e formato retrato, onde se vêem, em primeiro plano, duas figuras humanas - um homem e uma mulher - em um flagrante de carnaval.
No segundo plano, mais ao longe, há pessoas desfocadas, em frente a uma construção de tijolos aparentes, com duas janelas.
Vê-se, em parte, o lado esquerdo de uma mulher jovem, de rosto arredondado, de olhos escuros, a qual fita um ponto à esquerda além da foto. Ela usa chapéu de tonalidade clara e aba circular com laço de fita sobre a copa. A mulher tem a pele morena e traja uma fantasia carnavalesca com mangas volumosas, formadas em parte por tecido e em parte por lantejoulas circulares e brilhantes. Seus lábios, em um suave sorriso, deixam-lhe à mostra os dentes. Ela abraça um rapaz por trás, recostando-lhe a face direita no braço esquerdo, pouco abaixo do ombro.
O homem é jovem, tem rosto alongado, cabelos curtos e crespos e a pele morena. Está com a face voltada para o rosto da mulher que o abraça. Os lábios do homem são grossos e estão levemente abertos. Ele traja uma camisa clara com desenhos de coqueiros no lado inferior esquerdo e usa um cordão escuro com pingente. Na mão direita, segura um pano à altura do abdômen.
Barreiras atitudinais na áudio-descrição
O recurso áudio-descritivo possibilita a todos a apreciação das imagens na televisão, no cinema, no teatro, em museus. Permite maior socialização a todos dos conteúdos presentes nas diversas formas de expressões culturais.
Pessoas com alguma deficiência seja visual, auditiva, intelectual ou mesmo física, enfrentam barreiras para sua inserção social, muitas vezes, chegando a situações de marginalização ou mesmo de desconsideração total de sua existência. E esta realidade tão cruel e desrespeitosa, com pessoas tão capazes quanto qualquer outra, se dá, principalmente, pelos obstáculos criados, ou mesmo não dizimados pelo próprio homem. Na esfera da inclusão cultural, por exemplo, as barreiras atitudinais podem ser vistas na falta de acessibilidade física aos ambientes como cinemas, teatros ou museus; na falta de acessibilidade comunicacional nos produtos desses ambientes e na falta de acessibilidade programática, tecnológica e metodológica para o atendimento de pessoas com deficiência.
De outra maneira posta, as barreiras atitudinais impedem o acesso das pessoas com deficiência a diversas instâncias da convivência social, isto é, elas fazem oposição ao conceito de acessibilidade atitudinal definido por Sassaki (2007) nos seguintes termos: Sem preconceitos, estigmas, estereótipo e discriminações, como resultado de programas e práticas de sensibilização e de conscientização das pessoas em geral e da convivência na diversidade humana.
As barreiras sociais podem se manifestar em diversas etapas do processo de feitura da áudio-descrição das imagens presentes no mundo das artes como Lima et al discorre no artigo intitulado Áudio-descrição: orientações para uma prática sem barreiras atitudinais :
Barreira Atitudinal de Generalização: acreditar que pelo fato de uma determinada pessoa com deficiência preferir determinado tipo de áudio-descrição, todas as outras pessoas com a mesma deficiência irão desejá-lo igualmente.
Barreira Atitudinal de Ignorância: está arraigada no desconhecimento do áudio-descritor a respeito das características do público alvo.
Barreira Atitudinal de Medo: deixar de utilizar durante as descrições palavras como cegueira ou surdez por medo de ofender um grupo de espectadores com deficiência.
Barreira Atitudinal de Rejeição: recusar-se a interagir com os usuários do serviço de áudio-descrição e seus acompanhantes, adotando comportamentos hesitantes diante da possibilidade de ter o seu trabalho avaliado ou de se ter um contato mais aproximado com esse público.
Barreira Atitudinal de Propagação da deficiência: relacionar uma deficiência com uma outra, julgando, por exemplo, que uma pessoa com deficiência visual precisa de mais explicações de uma cena por não poder compreendê-la satisfatoriamente; ou falar mais alto para ela pelo simples fato de ser cega.
Barreira Atitudinal de Inferioridade: basicamente é subestimar a capacidade da pessoa com deficiência.
Barreira Atitudinal de Comparação: comparar os espectadores com deficiência com aqueles que não têm deficiência, julgando que os primeiros têm como única motivação para ir ao cinema, teatro etc., a oferta de áudio-descrição.
Barreira Atitudinal de Piedade: leva a um tratamento infantilizante para com espectadores com deficiência visual.
Barreira Atitudinal de Adoração do Herói: não encarar como natural o fato de uma pessoa com deficiência poder assirtir a um filme no cinema ou ir ao teatro, encarando isso como espetacular o fato em si e não o evento artístico. Deve-se lembrar aqui que o espetáculo continua sendo o espetáculo e não a pessoa com deficiência que o está assistindo.
Barreira Atitudinal de Baixa Expectativa: crer que pessoas com deficiência visual não se interessam por eventos artísticos.
Barreira Atitudinal de Compensação: diz respeito a qualquer tipo de exagero na descrição visando compensar a deficiência visual.
Barreira Atitudinal de Exaltação do modelo: usar a imagem do espectador com deficiência, usuário do serviço de áudio-descrição, como modelo de persistência, coragem e superação diante dos demais espectadores.
Barreira Atitudinal de Negação: considerar os espectadores com deficiência da mesma forma que os demais espectadores, não levando em consideração as necessidades reais e específicas advindas de sua deficiência.
Barreira Atitudinal de Substantivação da deficiência: denominar uma pessoa com base em uma de suas características, o cego; o surdo; etc.
Barreira Atitudinal de Segregação: obrigar as pessoas com deficiência, usuárias do serviço de áudio-descrição, a ocupar determinados assentos no auditório, agindo de modo a segregá-las, não lhes permitindo a tomada de decisão sobre onde desejam sentar-se.
Barreira Atitudinal de Adjetivação: adotar adjetivos para designar as pessoas com deficiência, atribuindo-lhes classificações pejorativas como lentas, distraídas,desmemoriadas etc.
Conclusão
A arte, via de inclusão social nas mais diversas vertentes, precisa estar disponível a todos, em todas suas formas.
O museu, casa do conhecimento, da educação e do lazer, é morada da cultura, da arte e da mais verdadeira forma de registro do conhecimento humano. Não pode, assim, estar inacessíveis às pessoas com deficiência, nem por serem fisicamente inacessíveis, menos ainda, por estarem inacessíveis por barreiras comunicacionais ou por barreiras atitudinais de seus curadores, de seus monitores e demais operadores do sistema.
Logo, propiciar meios com os quais as pessoas com deficiência possam desfrutar do que oferece o museu é meta que devemos perseguir, mormente derrubando as barreiras atitudinais, grandes responsáveis por toda sorte de obstáculo à inclusão dessas pessoas no seio social, cultural, educacional e de lazer.
Afastando as barreiras atitudinais no processo tradutório da oferta do serviço, a áudio-descrição nos museus, teatros, cinema irá possibilitar a interação do indivíduo com o conteúdo e o mundo a sua volta, pois lhe garantirá o acesso ao mundo da arte, traduzido com palavras que, por si só eliciam imagens na mente de quem as ouvem.
Destarte, a reflexão a respeito dessas barreiras é pertinente para remoção de entraves à construção de uma sociedade justa, que não desperdice tantos potenciais individuais com base em crenças equivocadas historicamente construídas e baseadas em puro preconceito.
Quando, então isso se der, teremos construído a maior das artes, a arte das artes, a primeira arte:
Uma sociedade humana em que basta ser humano para dela fazer parte, desfrutar, ser respeitado e respeitar. A pintura estará feita; a escultura finalizada a obra prima será a mães do todas as obras, será o sol que ilumina, esquenta e faz viver a vida.
Bibliografia
COLL, César. Aprendizagem escolar e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 1994.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987
LIMA, Francisco José de; GUEDES, Lívia Couto; GUEDES, Marcelo Couto. Áudio-descrição: orientações para uma prática sem barreiras atitudinais. Disponível em
< http://www.rbtv.associadosdainclusao.com.br/index.php/principal/article/... acesso em 02 de Junho de 2010.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
Acesso em 24 de Novembro de 2009.
acesso em 07 de junho de 2010.
Acesso em 24 de Novembro de 2009.
acesso em 01 de Junho de 2010
acesso em 01 de Junho de 2010.
acesso em 07 de junho de 2010.
-
Partilhe no Facebook
no Twitter
- 5845 leituras