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Máquinas adaptadas promovem inclusão para todos

por Lerparaver

Há dois séculos, a Revolução Industrial possibilitou uma série de invenções tecnológicas que resultaram no avanço econômico de muitos países. Permitindo a mecanização de processos que antes eram realizados apenas pelo homem, as máquinas tornaram-se sinônimo de mudança e progresso. Atualmente, no mundo globalizado onde as fronteiras entre os territórios podem ser 'invadidas' virtualmente em segundos, esses aparelhos, inicialmente criados para alavancar a produção e, conseqüentemente, a prosperidade do sistema capitalista, hoje também se adaptam às necessidades de milhares de pessoas, promovendo inclusão social.

Máquinas especiais

Para a estudante de jornalismo Fabrícia Omena, portadora de deficiência visual, o computador é muito mais do que um instrumento de trabalho, diversão ou busca por conhecimento. Através de softwares que convertem o conteúdo da internet em síntese de voz – como o Jaws, o Dosvox ou o Virtual Vision –, Fabrícia pode navegar na web, conversar com os amigos e fazer trabalhos da faculdade sem a ajuda de ninguém. O programa permite diversas configurações: pode-se alterar a velocidade da fala, o idioma e a voz, que pode ser feminina ou masculina. "A voz do Jaws é um bálsamo pra mim", esclarece.

E quando o computador quebra? Para a estudante, a espera até o conserto é um martírio. "Se isso me acontece, fico perdida! Tenho que usar meios alternativos, volto a utilizar recursos como o braille, por exemplo". O aparelho antigo, que parece uma máquina de datilografar, ocupa um tempo maior para escrever e necessita que a mãe de Fabrícia faça a tradução com caneta em cima dos 'furinhos' para que o professor possa ler, no caso de um trabalho da faculdade.

Mais moderno, o 'braille falado' permite que a estudante faça anotações rapidamente durante as aulas. Com sete teclas, a máquina grava o que é digitado e reproduz em áudio. "Quando quebra, uso o MP4 para gravar algumas aulas, mas os ruídos do ambiente atrapalham", explica. "Todas essas máquinas me beneficiam de várias maneiras. Não existem muitos livros em braille, por exemplo, e na internet posso ler quase tudo. Também faço, corrijo, imprimo e entrego meus trabalhos como todos os meus amigos. É uma forma de inclusão e igualdade", explica.

Os programas conversores para essas pessoas não lêem fotos, gráficos e tabelas, mas Fabrícia faz questão de utilizar todos os recursos possíveis. "Faço o que posso para me aproximar das pessoas. Mesmo que eu não possa enxergar, eu sei que os outros estão vendo. Sempre procuro usar os outros sentidos. Uma vez escutei uma amiga dizer que não enviava emotions pra mim no MSN porque eu não ia poder ver. Assim que a encontrei, enviei vários 'smiles felizes' para ela, que ficou surpresa", diverte-se Fabrícia, explicando que o leitor também informa o que as imagens disponíveis do bate-papo virtual significam.

Fabrícia também utiliza o computador para aprender a tocar piano. Através de outro software específico (o Ply), que transforma partituras em braille, ela lê música. "Estou fazendo uma surpresa para o meu professor de piano. Ele não sabe que eu aprendi essa música", contou, antes de começar a tocar no órgão 'Asa Branca', composição consagrada de Luiz Gonzaga.

Veículos adaptados

As máquinas adaptadas também fazem parte do dia-a-dia do diretor administrativo Luiz Carlos Santana. Cadeirante há 20 anos, hoje ele dirige seu 4º carro adaptado. Santana jogava futebol no time alagoano Clube de Regatas Brasil (CRB) e acabava de passar no vestibular de psicologia quando um vírus na medula o fez perder os movimentos das pernas. Ciente de seus direitos, desde a compra de seu 1º veículo, ele usufrui da isenção de impostos que a legislação assegura para casos como o dele.

A adaptação feita pela fábrica do veículo chega a custar cerca de R$ 8.800,00 e, na Associação de Deficientes Físicos de Alagoas (Adefal), que há mais de dez anos executa o serviço, o custo sai a R$ 600,00. Segundo Antônio José Gomes, mecânico da Adefal, que utiliza a criatividade para fabricar as peças utilizadas nas adaptações, cada pessoa precisa de um tipo de modificação, por isso, antes de iniciar o serviço, é necessária a autorização da junta médica do Detran e, depois, uma vistoria do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

A demanda pelo serviço vem crescendo a cada ano. Em estados como São Paulo já existem lojas especializadas que vendem exclusivamente carros adaptados para deficientes físicos. São as máquinas se adequando aos seres humanos e tornando a vida de todos muito mais simples.

Gazetaweb, com Reportagem de Luiz Mazo e Colaboração de Laís Falcão

Fonte: http://gazetaweb.globo.com/Canais/Noticias/Noticias.php?n=146829