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Lua Azul - blog de lua azul

Viajando pelo mundo dos livros... "O Livro do Destino" de Brad Meltzer - Capítulo 7

por lua azul

Mais um capítulozinho bónus que hoje decidi deixar-vos por aqui após ter passado alguns diazinhos sem publicar absolutamente nada. Neste o nosso narrador viaja para iniciar mais um dia de trabalho junto de Maning e tem como companheiro no seu carro um dos seus melhores amigos com quem ainda chegou a estudar e a partilhar o quarto. Rogo (é este o nome do amigo do narrador) estudou direito e agora com 29 anos, a mim pelo menos parece-me um daqueles crominhos tão típicos de certas telenovelas que de vez em quando acompanhamos como poderão verificar através da leitura deste 7º capítulo, mas há qualquer coisa nas palavras que a certa altura dirige ao amigo enquanto viajam juntos que despertou a minha atenção ao máximo e chega a demonstrar alguma inteligência da sua parte: Não estará este assistente do presidente Maning que narra toda esta história e tão bem conhecemos logo desde o primeiro capítulo a exagerarr um pouco ao dedicar-se ao patrão praticamente a 100%? É esta a questão que Rogo vem colocar perante o amigo e a mim cinseramente parece-me que deve ter toda a razão. Então se Maning sempre soube que Boile afinal de contas esteve sempre vivo, não tendo afinal de contas partido após o tiroteio no dia do atentado contra ele e nunca lhe contou permitindo assim que carregasse dentro de si um enorme sentimento de culpa por julgar que o amigo tinha falecido por sua causa... Nesse caso e se é isso de facto que acontece como na verdade parece ser, o antigo presidente dos Estados Unidos não merece de forma alguma, pelo menos na minha opinião, tanta veneração pela parte do nosso narrador que no fundo também não me parece de todo que esteja a exercer junto de si as funções que lhe deveriam competir enquanto assistente de uma importante personalidade do mundo da política, ou não viesse Rogo revelar-nos através deste 7º capítulo que este não faz quase mais nada junto desta pessoa a não ser cuidar da sua alimentação. Mas para que possam constatar tudo isto que já vos disse por aqui através desta espécie de resumo de tudo aquilo que acabei de ler ainda há pouco relativamente a esta obra, deixo-vos então o 7º capítulo deste livrinho na íntegra e já nas linhas que se seguem, não sem que previamente fique também a garantia da minha parte de que regressarei em breve com mais algumas novidadezinhas alusivas a esta história.

7

Palm Beach, Flórida

“Está vendo aquela múmia ruiva no Mercedes?", pergunta Rogo, apontando,
fora da janela, para um lustroso carro novo próximo ao nosso. Dou uma olhada,
justo a tempo de ver a ruiva de cinquenta e poucos anos com o rosto que parece
esticado por uma cirurgia plástica e um chapéu cor de palha igualmente
aprumado (e de muito bom gosto) que deve ter custado quase tanto quanto o meu
Toyota de pouca qualidade e com dez anos de uso. "Ela prefere morrer a
telefonar", acrescenta ele.
Eu não respondo. Isso não o faz parar. "Mas e quanto ao sujeito dirigindo
aquele carro que representa a crise da meia-idade?", continua ele, apontando
para um homem careca no Porsche cor de cereja que arranca ao nosso lado.
"Ele me telefonará logo depois que receber uma multa."
Este é o jogo favorito de Rogo: andar de carro ao acaso e descobrir um
cliente em potencial. Como um advogado de multas de trânsito por excesso de
velocidade menos conhecido, mas mais agressivo, Rogo é o homem a ser
chamado por qualquer violação de tráfego. Como meu colega de quarto e amigo
mais próximo desde a oitava série, quando ele e sua mãe se mudaram do
Alabama para Miami, ele é a única pessoa que conheço que gosta do seu
trabalho ainda mais do que o presidente do dele.
"Oooh, e aquela garota ali?" pergunta ele, enquanto muda de pista no tráfego
e se aproxima da jovem de dezesseis anos com braçadeiras, dirigindo um jipe
Cherokee novo em folha.
"Passe-me o pão, porque aquela é a minha manteiga”! Rogo insiste em um
sotaque com um toque sulino. "Carro novo e braçadeiras? Ora, ora... aqui vem o
emprego rendoso que exige pouco trabalhou Ele bate em minhas costas como
quando estamos assistindo a um rodeio.
"Oba!", sussurro, enquanto o carro sobe a leve inclinação da Royai Park
Bridge e cruza a Intracoastal Waterway. De ambos os lados, o sol da manhã
ricocheteia nas ondas brilhantes. A ponte liga as comunidades da classe
trabalhadora de West Palm Beach com a enseada milionária conhecida como
Palm Beach. E quando os pneus do carro cantam e cruzamos para o outro lado, o
populoso, e repleto de fast-food, Okeechobee Boulevard dá lugar ao
perfeitamente bem tratado Royai Palm Way, cheio de palmeiras alinhadas. É

como deixar um bar de beira de estrada e entrar em Oz.
"Você se sente rico? Porque eu me sinto dólar de prata!", diz Rogo, deixando-
se penetrar pelos arredores.
"De novo, oba!"
"Não seja sarcástico", previne Rogo. "Se você não for bonzinho, não vou
deixá-lo me conduzir ao trabalho na semana que vem, enquanto meu carro
estiver no conserto."
"Você disse que ele só iria ficar na oficina por um dia."
"Ah, a negociação continua!" Antes que eu possa argumentar, ele lança um
novo olhar para a moça da braçadeira que agora está perto de nós. "Espere, eu
acho que ela era uma cliente!" grita ele, abaixando o vidro de sua janela.
"Wendy!" berra ele, inclinando-se e tocando a buzina do meu carro.
"Não faça isto", digo a ele, tentando puxar a sua mão.
Quando tínhamos catorze anos, Rogo era mais baixo. Agora, aos vinte e nove,
ele acrescentou uma careca e gordura ao seu repertório. E força. Não consigo
movê-lo.
"Moça das braçadeiras!", grita ele, buzinando de novo. "Ei, Wendy, é você”?
Ela finalmente se volta e abaixa o vidro de sua janela, esforçando-se para
manter os olhos no caminho.
"Seu nome é Wendy?" berra ele. "Não", grita ela. "Maggie!"
Rogo parece quase magoado por seu engano. Isso nunca dura muito. Ele
agora dá um sorriso como o de um cachorro de açougueiro. "Bem, se algum dia
você receber uma multa de trânsito, entre em abaixoasmultas.com!"
Levantando o vidro, ele esfrega o cotovelo, depois ajeita a calça, orgulhoso
de si mesmo. Este é o Rogo amadurecido de hoje — quando ele termina, eu nem
consigo lembrar sobre o que era a discussão. Foi dessa maneira que ele forçou
sua entrada na profissão legal. Depois de tirar, por duas vezes, notas más na
LSAT,[5] Rogo voou a Israel para tentar pela terceira vez. Não que ele tivesse
qualquer ligação com os judeus, mas ouvira dizer que em Israel eles tinham uma
abordagem mais relaxada em relação ao conceito de exame com tempo
determinado. "E o que são mais vinte minutos num exame? Quem vai morrer por
causa disso?", perguntava ele de boca cheia, imitando o funcionário com sotaque
israelense incumbido de tomar conta do teste. E, com os vinte minutos a mais,
Rogo finalmente obteve o número de pontos de que precisava para entrar na
faculdade de direito.
Assim, quando ele encontrou um trabalho para retirar as multas de trânsito
por excesso de velocidade e pela primeira vez tinha algum dinheiro no bolso, a
última coisa de que necessitava era de um colega de quarto com dificuldades
para pagar o aluguel. Antes disso, minha única perspectiva de trabalho era
permanecer com o presidente, que mudou para P.B. depois da Casa Branca. P.B.
era como os habitantes locais chamavam Palm Beach, quando diziam

"Ficaremos em RB. durante o inverno todo". Eu estava morando com meus pais
em Boca Raton; porque, em função do baixo salário, eu não podia me permitir
morar próximo à vizinhança grã-fina do presidente. Com um colega de quarto,
no entanto, eu podia ao menos morar mais perto. Isto foi logo depois do tiroteio.
As cicatrizes em meu rosto ainda estavam vermelhas. A amizade desde a oitava
série existia há muito tempo. Rogo nem mesmo hesitou.
"Eu ainda não entendo por que você deve começar tão cedo", diz Rogo em
meio a um bocejo. "Ainda não são nem sete. Você acabou de voltar da Malásia
na noite passada."
"O presidente..."
"... um madrugador... o maior sujeito do mundo... pode curar um doente
enquanto cozinha um cardápio de seis pratos.
Jesus e Emeril[6] juntos numa só pessoa. Eu sei como funciona a veneração,
Wes." Rogo aponta pela janela um carro de polícia escondido duas quadras
acima. "Cuidado, cilada para excesso de velocidade." Caio fora dela e ele
acrescenta: "Só estou dizendo que ele deveria deixá-lo dormir até mais tarde".
"Não preciso dormir até mais tarde. Estou bem. E, FYI,[7] não se trata de
veneração."
"Em primeiro lugar, trata-se de veneração. Em segundo lugar, não diga FYI.
Minha mãe diz FYI. A sua também."
"Isto não significa que é uma veneração", continuo.
"Verdade? Então é saudável que, quase oito anos depois de deixar a Casa
Branca, você continue correndo de um lado para o outro como um superativo
médico residente? O que aconteceu com o seu diploma, ou aquele trabalho de
coordenador de eventos, ou mesmo a ameaça de você se tornar um chefe anos
atrás? Você ainda sente prazer em trabalhar, ou continua ali só porque é seguro e
eles o protegem?"
"Nós proporcionamos mais benefícios à comunidade do que você imagina."
"Sim, se você fosse o chefe da equipe. Você, por outro lado, gasta metade do
dia querendo saber se ele quer gelo ou alface romana em sua salada!"
Eu agarro o volante e olho direto para a frente. Ele não compreende.
"Não faça isso!", ameaça Rogo. "Não desperdice a sua autoconfiança por
causa do Manning. Eu acabo de atacá-lo — você deve atacar-me de volta!"
Há um horror em sua voz que ele quase sempre guarda apenas para os
policiais de trânsito. Ele está ficando irritado, o que é dizer muito para Rogo. Na
escola secundária, ele era o garoto que atirava suas cartas quando perdia no jogo
de banco imobiliário... e jogava fora sua raquete de tênis quando não acertava.
Desde então, esse temperamento o meteu em muitas brigas, e o que tornava tudo
pior é que ele não tem tamanho suficiente para enfrentá-las. Rogo diz ter 1,71
metro de altura. Ele mede 1,68 no máximo.
"Você sabe que eu tenho razão, Wes. Algo em nosso interior fica mal quando

a gente dedica toda a nossa vida a uma única pessoa. Você percebe?"
Ele pode ser o amigo mais inteligente que eu tenho, mas desta vez, ele está
entendendo tudo errado. Meu silêncio não significa uma aquiescência. É por
causa da minha imagem mental de Boyle, ainda olhando para mim com aqueles
olhos castanhos e azuis. Talvez se eu contar a Rogo...
O celular vibra em meu bolso. De manhã, tão cedo, só podem ser más
notícias. Eu o abro e verifico quem está ligando.
Estou errado. É a cavalaria chegando.
"Fala Wes", digo como resposta.
"Tem tempo para conversar?" pergunta Dreidel do outro lado.
Dou uma olhada em Rogo, que está de novo caçando clientes potenciais. "Eu
ligo daqui a pouco."
"Não se preocupe. Que tal nos encontrarmos para tomar o café da manhã?"
"Você está na cidade?", pergunto, confuso.
"Apenas para um rápido encontro de negócios. Eu tentei lhe dizer quando
você ligou da Malásia. Mas você estava muito ocupado entrando em pânico",
declarou ele com a sua calma habitual. "Então tomamos o café juntos?"
"Dê-me uma hora. Tenho algo para terminar no trabalho."
"Perfeito. Estou no Four Seasons. Telefone-me do saguão.
Quarto 415."
Desligo o telefone e pela primeira vez sinto prazer em olhar para as
palmeiras que passam. O dia está melhorando.