Rita Resendes
Lina Pimentel poderia ser apenas mais uma jovem, no meio de centenas de outras, que conseguiu concretizar o sonho de entrar para a Universidade. Contudo, para aqueles que a conhecem, ela ultrapassa largamente o mérito de muitas outras.
Esta jovem de 21 anos é vista por muitos como símbolo de coragem, luta e determinação, pois lutou pelo sonho entrar na universidade contra um enorme obstáculo, cujo nome é "stargadt". A Stargadt é uma doença hereditária incurável, muito rara, que consiste na degeneração das células nervosas da retina ou seja, esta doença provoca uma consecutiva perda de visão e tem como fim a cegueira.
Os sintomas da doença manifestaram-se desde cedo quando Lina tinha apenas 7 anos e frequentava o 1º ano de escolaridade. Nessa época apenas teve de usar óculos, mas no 5º e 6º ano já só conseguia ler os livros A3 que foram gentilmente fornecidos pela Escola das Capelas (escola que frequentava).
No 7º e 8º ano o tamanho da letra A3 já não era suficiente, por isso teve de estudar a partir de fotocópias ampliadas e passou a escrever somente com marcadores que a própria escola lhe fornecia. Chegando ao 9º ano iniciou a difícil caminhada da aprendizagem do braile e confessa que "no início, apesar de saber que era para o meu bem estar, não gostava das aulas e ia desanimada, pois aprender braile fazia-me pensar que ia deixar de ler e escrever normalmente, o que me deixava triste".
Quando passou para o 10ºano matriculou-se na Escola Secundária Domingos Rebelo que por não ter consciência da gravidade da situação de Lina aceitou a sua matrícula. Ao chegar ao início das aulas a escola apercebeu-se da situação e tentou transferi-la para a Escola Secundária das Laranjeiras, que é a escola em S. Miguel que está mais preparada para receber estudantes invisuais. Todavia, a Secundária das Laranjeiras já tinha as turmas completas e por esse motivo recusou a transferência de Lina. Perante essa resposta a Domingos Rebelos disponibilizou de imediato uma lupa, arranjou uma professora de braile e informou todos os professores das dificuldades da nova aluna. Segundo a própria Lina, "eles foram incansáveis" principalmente a Dr. Ana Isabel Serpa (professora de Língua Portuguesa) e a Dr. Ana Paula Rego (Professora de Educação Especial) que a ajudaram muito a concretizar o seu sonho.
Lina confessa que o 9º e 10º ano foram os mais difíceis, pois não queria aceitar a doença, muito menos admitir que ela lhe provocava limitações. Contudo, devido ao apoio incondicional de toda a sua família, da ACAPO (Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal) e do seu namorado, que a apoia e está constantemente a informar-se sobre as novas descobertas e informações que surgem sobre a doença, Lina hoje em dia, fala dela com bastante naturalidade e toma as suas decisões de forma consciente, ou seja, tendo em conta as limitações que são inevitáveis. A tirar o 1º ano de Serviço Social na Universidade dos Açores, Lina refere que as suas maiores dificuldades são a leitura dos extensos documentos e o ritmo das aulas que é bastante acelerado e por isso difícil de acompanhar. Diz ainda que muitas pessoas não se apercebiam que ela não conseguia ver, pois raramente usa bengala, devido ao facto de ainda não ter tido aulas para saber como utilizá-la correctamente (usa bengala somente quando vai para sítios diferentes do normal, pois assim as pessoas apercebem-se que ela precisa de ajuda). Esta situação, de não saber usar a bengala, faz com que sinta dificuldades, por exemplo quando há objectos como contentores do lixo no meio do passeio ou obras mal sinalizadas. Por outro lado também sente dificuldade em atravessar a passadeira, pois não sabe quando o sinal está verde para os peões, mas devido ao seu carácter autónomo e determinado, Lina arranjou sempre forma de ultrapassar essas dificuldades, caminhando na rua sozinha a fazer a sua vida.
No corrente ano Lina até foi condecorada com um merecido diploma de mérito cívico entregue pela Escola Secundária Domingos Rebelo e pela Câmara Municipal de Ponta Delgada.
Lina Pimentel possui actualmente menos de 10% de visão, mas essa condicionante não a impediu, nem a impede de fazer a sua vida e jamais a fará desistir dos seus sonhos, pois é uma lutadora. Uma lutadora que só gostava que descobrissem a cura da sua doença para voltar a olhar o mundo com imagens e cores...
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