Está aqui

Áudio-descrição: Opinião, Crítica e Comentários - blog de Francisco Lima

"A crença em si mesmo é a chave para viver a vida como uma pessoa cega independente, produtiva"!

por Francisco Lima

Prezados,

Devido a um problema nos ombros, tenho restringido muito meu uso do teclado, limitando significativamente meus escritos. Contudo, não poderia deixar de manifestar-me sobre algo que vem ocorrendo neste Brasil, onde, estou certo, ainda vamos ver as chamas da discriminação sucumbir ao fogo da capacidade da pessoa com deficiência.
Recentemente, uma Fundação que se intitula representar as pessoas cegas repetiu o que vem fazendo há anos, usar da pessoa com deficiência visual para angariar fundos, supostamente a serem aplicados na reabilitação dos que têm deficiência visual, pessoas cegas ou com baixa visão.
Como milhares de pessoas com deficiência, não dei a essa ou a nenhuma outra instituição de ou para cegos, a capacidade de me representar, meramente porque sou pessoa cega e a instituição se diz defender direitos das pessoas com deficiência, fazer a reabilitação destas ou algo assim.
O fato de eu e muitas pessoas com deficiência negarmos a essas instituições o papel de se dizerem nossas representantes, para além do recebimento de recursos em nossos nomes, reside no uso que fazem de barreiras atitudinais mesquinhas, torpes, desonestas, nefastas e podres para angariarem recursos financeiros para si, em nome das pessoas com deficiência.
Explico:
Tais instituições, esta em particular, coloca, em sua campanha publicitária, a pessoa cega ou com baixa visão como coitadinha, merecedora de pena, de dó e coloca a ela instituição, como a que pode salvar essa “pobre alma cega” dos problemas causados pela perda da visão.
Ora, a barreira atitudinal de dó ou pena é nefasta para a pessoa com deficiência, pois não permite com que ela seja vista pelo potencial que tem, pois deixa a sociedade com a sensação que se doar um dinheiro, tudo está resolvido na vida da pessoa com deficiência. Não faz, por exemplo, com que a sociedade perceba que não é a deficiência que incapacita a pessoa humana , mas as barreiras existentes na própria sociedade, nas atitudes que apresentam para com a pessoa humana com deficiência e sua capacidade.
O desserviço de uma propaganda enganosa como essa que a Fundação Dorina Nowill apresenta é tal que o mesmo empresário que doou alguns milhares de Reais à Fundação, para abater de seu imposto de renda o montante doado, nega à pessoa com deficiência o acesso dela e de seu cão-guia no restaurante, nega-lhe o livro em formato acessível que lhe é de direito, nega-lhe a vaga de emprego etc.
Não, as pessoas com deficiência estão no estágio de extirparem a outorga que essa e outras instituições se deram para, em nome das pessoas com deficiência, usarem dessas pessoas para lucrarem, para usurparem delas o direito de falarem por si, de empoderarem-se da educação, da cultura e da informação.
Sim, estamos chegando ao estágio em que um grupo de cegos chegou nos Estados Unidos, na década de 40: somos capazes, podemos e vamos falar por nós, para mostrar que não dependemos da caridade alheia, mas do respeito aos nossos direitos.
Com efeito, vejamos que nos diz o texto abaixo, donde extraio esta mensagem:
“A crença em si mesmo é a chave para viver a vida como uma pessoa cega independente, produtiva; sem autoconfiança, nenhuma quantidade de treinamento de reabilitação vai fazer uma pessoa cega autossuficiente.
Se você deseja mesmo ajudar uma pessoa com deficiência, encontre uma e pergunte se ela precisa de ajuda, saiba se e qual, então, ajude. Mas, se você quer contribuir para uma sociedade menos excludente e mais inclusiva, também às pessoas com deficiência, lute pelo respeito aos direitos humanos dela. Comece por verificar se você está respeitando esses direitos e se outros estão.
Nada sobre NÓS, sem NÓS!
Dirigentes da FDN, retirem tal publicidade da mídia e peça desculpas aos milhões de pessoas com deficiência que estão sendo denegridos em sua imagem, por conta da atitude nefasta de sua forma de angariar fundos.
Amigos, leiam o texto abaixo e vejam a diferença de quando uma Instituição fala pelos membros que a compõem.
Cordialmente,
Francisco Lima
Original disponível em: https://nfb.org/history-bolotin#main-content

Dr. Jacob Bolotin, o médico cego
*Tradução Eletrônica*
( 03 de janeiro de 1888 - 01 de abril de 1924 )
The Blind Doctor é a história comovente e poderosa de um homem cego que lutou contra a ignorância e do preconceito para se tornar um dos médicos mais respeitados em Chicago. Todo mundo que lê a história de Dr. Jacob Bolotin vai aprender que a cegueira não é uma barreira para uma vida plena e grandes realizações.
--Dr. Marc Maurer, presidente da Federação Nacional dos Cegos.

Na biografia, The Blind Doctor: O Jacob Bolotin Story, autor Rosalind Perlman conta a história fascinante de Dr. Jacob Bolotin, o primeiro homem que nasceu totalmente cego para se tornar totalmente licenciado para praticar medicina.
Nascido em 1888 em uma família de imigrantes pobres de Chicago, Jacob Bolotin lutou contra os preconceitos e equívocos sobre as capacidades das pessoas cegas, a fim de ganhar aceitação para a escola médica e, em seguida, para a profissão médica. Ele foi um dos médicos mais respeitados em Chicago no início do século XX, particularmente conhecido por sua experiência em doenças do coração e pulmões. Sua notável história tinha desaparecido na obscuridade até que o lançamento deste livro importante e inspiradora que é baseado nas memórias do marido da autora, Alfred Perlman, que era o sobrinho da esposa de Dr. Bolotin e viveu com os Bolotins por vários anos quando ele era um menino.
Dr. Bolotin também foi um dos primeiros a aumentar a conscientização sobre as verdadeiras capacidades das pessoas cegas. Ele fez isso através de seus muitos compromissos de falar em público. Ele usou seu status de celebridade em Chicago e em todo o Centro-Oeste para defender os direitos dos cegos à educação e ao emprego, com plena integração na sociedade. Interessado em jovens em geral e nos jovens cegos em particular, Dr. Bolotin estabeleceu o primeiro grupo de escoteiros que consiste inteiramente de meninos cegos e serviu como seu primeiro líder. Esta é a forma como os seus contemporâneos o viu:
É um dos casos mais surpreendentes de espírito triunfante sobre deficiências físicas que o mundo já conheceu ... [
Dr. Bolotin ] será considerado com Helen Keller como uma das pessoas maravilhosas cegas da história.
--Philadelphia Inquirer 1914
Dada a crença do Dr. Bolotin que os cegos são limitados somente por sua própria ambição e imaginação, a Federação Nacional dos Cegos, que detém a mesma crença, é a organização natural para conceder este prêmio em nome de Dr. Bolotin.
Em conjunto com a publicação de The Doctor Cego: The Story Jacob Bolotin por Blue Point Books, a Federação Nacional de Cegos ( NFB ) lançou o 'Dr. Jacob Bolotin Award for the Blind ', em sua convenção nacional de 2007, em Atlanta, Georgia. Os primeiros prêmios totalizaram US $ 100.000 e foram oferecidos em 2008, para aqueles que fizeram um impacto significativo na comunidade cega. O autor do livro, Rosalind Perlman, deixou um legado para a Fundação Santa Barbara de publicar The Doctor Cegos e para estabelecer um fundo patrimonial, a Alfred u0026 Rosalind Perlman Trust, para este prêmio anual importante.
A crença em si mesmo é a chave para viver a vida como uma pessoa cega independente, produtiva; sem autoconfiança, nenhuma quantidade de treinamento de reabilitação vai fazer uma pessoa cega autossuficiente. Inspiradora história do Dr. Jacob Bolotin estabelece um exemplo para todas as pessoas cegas, porque ele acreditava em si mesmo e em encontrar as formas de superar os obstáculos num momento em que os recursos sociais, legais e tecnológicos disponíveis hoje para os cegos, então, não existiam.
--Dr. Joanne Wilson, fundador do Centro Louisiana para Cegos