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brailletec, braille e tecnologia para deficientes visuais! - blog de Douglas Valter Soares

é o fim do braille?

por Douglas Valter ...

É o fim do braile?

Tecnologias facilitam acesso dos cegos ao conhecimento, mas os afastam da leitura pelo tato.

Rodrigo Cardoso

Até dezembro, todos os 4.300 alunos com cegueira total do ensino
fundamental e médio matriculados nas escolas públicas do País irão
receber um laptop com um sintetizador de voz que lê para eles o texto da
tela. Dois mil já foram beneficiados e navegam nessa possibilidade,
segundo o Ministério da Educação (MEC). Em fevereiro, mais tecnologia
será despejada na carteira dos estudantes cegos que cursam do sexto ao nono
anos: uma coleção de 380 obras didáticas no formato digital Daisy.
Abreviação para Sistema Digital de Acesso à Informação, a solução
tecnológica batizada aqui de Mecdaisy permite ao aluno interagir com o
livro digital, podendo pausar, pular ou retornar às páginas e capítulos,
anexar anotações aos arquivos da obra e exportar o texto para impressão
em braile, o sistema de códigos que possibilitou aos deficientes visuais
o acesso à escrita e à leitura a partir do século XIX.

Embora o braile ainda seja defendido e aplicado pelas instituições de
ensino durante a alfabetização, já há correntes de educadores que temem
um afastamento dos estudantes com cegueira da leitura feita com os dedos
por conta desses dispositivos tecnológicos, está ocorrendo uma desbrailização", afirma o professor de geografia e
história Vítor Alberto Marques, do Instituto Benjamin Constant, entidade
pioneira para cegos no Brasil. "A criança acha chato ler em braile e
está migrando para outras tecnologias", diz ele.

O problema foi discutido na convenção anual que a Federação Nacional dos
Cegos dos Estados Unidos realizou no ano passado. No evento, painéis com
o slogan "ouvir não alfabetiza" foram espalhados para chamar a atenção
para um dado alarmante: 90% das crianças americanas com deficiência
visual estão crescendo sem aprender a ler e a escrever, segundo o
vice-presidente da organização, Fredric Schroeder. Isso ocorre porque
estão escravas de inovações como serviços telefônicos que leem jornal e
leitura em voz alta de e-mails. "Essas tecnologias promovem um tipo
passivo de leitura. Só por meio do braile o cérebro do deficiente visual
absorve letras, pontuação e estrutura de textos", defende Schroeder.

Mas o fato é que, hoje, o braile não reina mais sozinho na sala de aula.
No Instituto de Cegos Padre Chico, em São Paulo, que possui 99 alunos
carentes e segue a cartilha da Secretaria de Educação do Estado, os
estudantes encaram, antes da alfabetização, exercícios que os preparam
para o mundo digital. "Incentivamos a utilização do braile por meio de
concursos de redação e de leitura", diz a professora de informática
Cynthia Carvalho. "Mas o contato com o computador, entre outras coisas,
coloca a pessoa com cegueira em um patamar de igualdade." Aluno do quinto
ano do ensino fundamental, Giovany Oliveira, 11 anos, mostra, com as
mãos no teclado, um pouco da sua desenvoltura no computador. O garoto
digita na tela que nasceu sem visão e indica as teclas que o permitem
ler, por meio de uma voz que sai da caixa de som, palavra por palavra ou
a sentença toda. "No computador eu leio escutando. E o braile é legal
porque aprendo como se escreve a palavra", compara.

O Mecdaisy fará parte do currículo escolar, oficialmente, em 2011, para
jovens matriculados a partir do sexto ano. Esse software sonoro de livro
digital, porém, só será aplicado nas disciplinas de português, história,
geografia, ciências, e línguas estrangeiras. Matemática, física e
química, por conta dos símbolos gráficos, seguem sendo ensinadas apenas
em braile. Crianças matriculadas até o quarto ano receberão material
didático só em braile. Para a deficiente visual Martinha Clarete Dutra
dos Santos, diretora de políticas de educação especial do MEC,
audiolivros, leitores de tela e livros digitais são, no Brasil,
ferramentas complementares no processo de aprendizagem do deficiente
visual. "A tecnologia é um elemento de inclusão social no País", diz.
"Mas é preciso cuidado para que não haja uma desbrailização por conta dá
má utilização dessas inovações", pontua Moysés Bauer, presidente da
Organização Nacional dos Cegos do Brasil.
"A tecnologia é um elemento de inclusão social"
Martinha dos Santos, diretora de políticas de
educação especial do MEC

Na convenção da federação dos cegos americanos circularam histórias de
crianças que não sabiam o que era um parágrafo, que questionavam o
porquê das letras maiúsculas ou o porquê de a expressão "felizes para
sempre" ser composta por palavras separadas.

Foram prejudicadas, segundo Schroeder, pelo vício de somente ouvir o que
um software reproduz. "Essas tecnologias são sinal de progresso?",
indaga. O estudante Giovany, ao ser perguntado se ainda gostava de ler
em braile, confessou, sussurrando: "Todo dia, das 17h às 18h30, tenho de
ler um livro em braile para minha mãe. A psicóloga me pediu." Após
descobrir as maravilhas do computador, o garoto não queria saber de
outra coisa e dava escândalo se alguém o contrariasse. Um trato, então,
foi feito para colocá-lo na linha e manter o gosto pelo braile. Giovany
ganhou um computador e só pode usá-lo se cumprir uma rotina de leitura
pelo tato. É preciso cuidar para que o desenvolvimento tecnológico não
atrapalhe a alfabetização da pessoa com deficiência visual.

Comentários

Olá Douglas!

Eu não aceito, nem quero acreditar que o Braille desapareça! As novas tecnologias vieram facilitar a vida dos deficientes visuais, concordo! Contudo, na minha opinião será um grave erro se o braille deixar de fazer parte da vida dos cegos! Eu sou amblíope, consigo ler a negro. Aprendi Braille com 19 anos e desde o início que aqueles pontinhos em relevo me suscitaram uma enorme curiosidade! Não tive dificuldades em aprender a ler com os dedos. Foi tudo muito fácil. Até a prof. de Braille se admirou comigo, pois ela não acreditava que eu conseguisse ler com os dedos, mas consegui!!!

Ouço audiolivros, mas ainda não me abituei a eles! Não sinto motivação, nem prazer em lê-los... ! Evito seriamente pedir livros em formato digital, só mesmo se não os houver em Braille!

O Braille fez-me acreditar de novo no gosto pela leitura. Assim não canso o meu olhinho que ainda vê e posso ler como e quando quiser! Jamais me habituarei a outra forma de leitura!

O Braille faz parte da minha vida...!

Obrigada, Louis Braille!

Olá amor e restantes!

Sou cego total desde os 17 anos, altura em que consolidei a minha aprendizagem do Braille. Sou um utilizador deste magnícico sistema de leitura e escrita para cegos, e, tal como a minha namorada, quero deixar aqui o meu testemunho e opinião sobre este artigo.

Concordo que as tecnologias (sintetizadores de voz, livros digitais, áudiolivros) são, sem a menor sombra de dúvida, uma mais valia no acesso à informação. As suas vantagens são muitas, tais como, são mais baratas e de fácil aprendizagem, em oposição com as caras linhas Braille e por aprender a ler ser um processo que requer um treino continuado e muita motivação. Quando tive de aprender Braille, a parte de que menos gostava era de ler, precisamente por ser difícil no início... Mas como eu era também surdo profundo, não tinha outra alternativa para continuar os estudos e comunicar com o mundo.

Assim, sempre vivi do Braille, a única forma de saber o que se ia passando à minha volta. Além disso, adoro ler livros, e, tal como a minha namorada, prefiro ler em papel, o que dá-me um prazer enorme sentir com a ponta do dedo os pontinhos.

Entretanto, reconheço que os livros produzidos em Braille não são todos aqueles que existem em tinta e que eu desejava muito poder ler... Livros sobre ciências, enciclopédias, dicionários, literatura, arte... Por exemplo, o Centro Prof. Albuquerque e Castro do Porto, tem um número limitado de obras em Braille e existem pouquíssimas obras de Psicologia e o único dicionário de Língua Portuguesa que tem é de 1989...

Na realidade, os livros em Braille são sobretudo manuais escolares e romances. E porquê? Porque a maioria dos cegos só estuda até ao 9º ou 12º ano... Também tenho consciência de que os livros em Braille são muito dispendiosos quanto mais volumosos forem, e se os cegos começarem a referir cada vez mais os áudiolivros ou os livros digitais, a produção de livros em Braille declinará pela certa, até só sobrar um grupo minoritário de utilizadores...

Eu não tenho outro remédio senão ouvir áudiolivros ou livros digitais quando não existem em Braille... Mas continuo e continuarei a preferir estudar em silêncio com o Braille, bem como a desfrutar de um livro físico que tenho sempre à mão.

Hoje vive-se a uma velocidade louca, a quantidade sobrepõem-se à qualidade da informação, o computador e a Internet dominam a nossa vida, a crise e o desemprego estão a aumentar... E o Braille? Não existe mesmo outra forma de alfabetização dos cegos e foi graças a ele que saímos da mendicidade e da compaixão social!!!

O Braille não é o símbolo da cegueira mas sim a superação da mesma. Desafio-vos a provarem que estou enganado.

Uma última nota: os leitores de ecrã permitem o acesso ao conhecimento, mas não o desenvolvimento cognitivo das crianças, porque não são elas que lêem e que nem sequer aprendem a escrever como as outras crianças.

Marco Poeta

olá marco, céu e todos do ler para ver,

tudo bem?

entao, concordo que o braille é e sem dúvidas, será a forma mais importante para o ensino de crianças...
mas, que essa tecnologia digital, venha para poder somar junto ao braille... pois sem o braille, como diz no artigo a cima, as crianças nao aprenderam a estrutura dos textos. coisa que é sem dúvida, importante. para a gente que nao tem como ver a tela do pc, nao tem como ver o jeito que as palavras sao escritas.
e dessa forma, temos que usar o braille.

eu usei o braille, gosto do mesmo...
hoje em dia, uso muito o computador, mas, vejo problemas quando me deparo com palavras que custumo nao ver no dia-a-dia. problemas que digo é na forma de ser escrita. e assim, quando a gente lê com o softuare a forma que ela é escrita, nao é da mesma forma que quando estamos lendo no braille. acredito que para poder gravar a forma de escrita das palavras, é melhor que leia na ponta dos dedos.

para aprender outro idioma também é mais importante que seja usado o braille.
mas, eu, como um analista de sistemas que pretendo ser, gosto de mais do computador e acho que está sendo sem dúvidas, uma grande evoluçao para o ensino.... mas, que venha somar...

e essa do mec fornecer o pc com o softuare, é uma grande atitude, sem dúvidas.
parabéns pela atitude!

abraços do WELL!!!

não pode e não deve acabar, é necessário continuar independente dos recursos mais modernos, porque ajuda o raciocinio, desenvolve o tato. é muito importante continuar praticando o braille mesmo que tenha acesso aos outros meios.

Olá pessoal!
Tal como foi dito pelo Marco e pela Céu, eu também não dispenso o braille por nada!
É verdade que as novas tecnologias nos dão uma grande ajuda mas, na minha opinião, estas devem estar também associadas ao braille!
Confesso que não gosto nada de livros em formato digital e, apesar de ter a sorte de ter uma linha braille, mesmo assim prefiro ler em papel.
Quanto a livros necessários para a faculdade, gostava mesmo de poder encontrá-los em papel pois tenho alguma dificuldade em encontrar exactamente a parte que eu quero e no papel é muito mais fácil!
Beijinhos

Sofia Santos

Creio que não... Claro que as novas tecnologias "facilitam" o dia a dia... Mas é como a velha briga do livro impresso X e-book... Os dois, nunca deixarão de existir.
Parabéns pelo texto e informações valiosas!

sendo as novas tecnologias muito importante, não se deve deixar nunca o braille de parte porque isso deixaam de se saber escrever bem