Clarisse Ferreira Do CorreioWeb
Marcelo Ferreira/CB/01.10.2006
Ernandes Alves Feitosa contou com seu cão-guia para votar nestas eleições
Saber que direção tomar e ter liberdade de caminhar sem temer obstáculos pode ser uma tarefa fácil para uma pessoa sem nenhum problema físico. Não fosse o fato de ser portador de deficiência visual desde criança, diariamente o estudante Espencer Carmicelli Dautro de Miranda, 17 anos, tenta superar seus limites e conquistar sua independência com a ajuda de uma bengala de auxílio para locomoção. No entanto, o jovem almeja mais autonomia.
Por isso, Espencer é um dos 119 deficientes visuais de todo o País que aguardam a companhia de um cão-guia, treinado por um centro localizado em Brasília, a fim de se sentirem seguros para ir e vir. Eles já estão selecionados e esperam apenas a liberação da companhia canina. "Uso bengala desde os meus 12 anos, mas sinto vergonha do que ela representa. As pessoas ficam com pena quando vêem um deficiente com uma bengala. O cão-guia tira essa imagem de pena sobre o cego e traz até mesmo mais autonomia para andarmos por aí", acredita o estudante.
Além dos deficientes visuais que serão contemplados, outras 203 inscrições aguardam avaliação que checa se o interessado se encaixa no perfil do programa Cão-Guia, do Instituto de Integração Social e de Promoção da Cidadania (Integra), situado na capital federal. O Integra se responsabiliza por todo o treinamento do animal e não cobra nada para entregá-lo ao deficiente.
Um dos coordenadores do programa, Carlos Dias, 32 anos, explica que a entrega dos animais aos deficientes obedece a regras pré-determinadas. "Damos prioridade a pessoas maiores de idade (porque podem se responsabilizar por seus atos), a não-fumantes (é importante a preservação da saúde do animal, o que não se encaixa na situação do fumante passivo) e, principalmente, a pessoas que gostem de cachorro. Ele explica que o jovem Espencer ainda aguarda na fila, porque é menor de idade. "Estamos esperando que ele atinja a maioridade para ter total responsabilidade pelo seu cão", explica.
Outra coordenadora do Integra, Iracema Freire Mendes, ressalta que tanto o cão-guia quanto o deficiente passam por um processo de treinamento. Por isso, "fazemos a seleção com muito cuidado", explica. Ela conta que as inscrições para o projeto Cão-guia estão abertas apenas para moradores do DF. " Como o treinamento dos outros cães do nosso canil só deve ser concluído no início do ano que vem, preferimos conter a fila de espera", afirma. A coordenadora explica que cada animal leva, em média, seis meses para ser treinado antes do primeiro contato com futuro dono. Já a adaptação com o deficiente contemplado, que não paga nada pelo cão-guia, dura entre 15 e 30 dias.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000, revelou que mais de 16 milhões de brasileiros são deficientes visuais. Só o DF tem 185 mil pessoas. Apesar de o número de inscrições não representar nem 0,06% da população que necessitaria do auxílio canino, o Integra avalia a estatística como animadora se relacionada ao número de cães treinados anualmente. Este ano, três cães foram entregues a deficientes visuais. A previsão é que, até novembro, outros três animais já estejam preparados. Desde 2001, o Integra treinou 14 animais. No DF, 11 deficientes visuais já contam com o auxílio canino. O Instituto também enviou um cachorro para Recife (PE), um para Natal (RN) e outro para São Paulo (SP).
Apesar da previsão de fechar 2006 com seis cães-guia treinados e entregues, o Instituto tem capacidade para treinar 25 cães por ano. No entanto, a preparação dos cães exige muita cautela. "Temos o processo de sociabilização do animal com as famílias hospedeiras. Muitas vezes, perdemos todo o processo quando o cão retorna ao Integra e percebemos que ele não terá capacidade de ser treinado para acompanhar o deficiente. Pó isso, o número reduzido em relação à capacidade de treinamento", explica Dias.
"Nós já selecionamos os cães de ninhadas de dois reprodutores e cinco matrizes que criamos no nosso canil. Todos os custos para os cuidados com o cão são mantidos pelo Integra enquanto ele estiver com a família hospedeira. O cão terá toda a assistência veterinária, de acompanhamento durante a estadia na família e alimentação mantida pelo Instituto", afirma
Autonomia
"Já nasci cego do meu olho esquerdo e há um ano e meio perdi de uma hora para a outra a visão do meu olho direito. Em menos de dois anos de espera, recebi Atlas (cão-guia) do Integra. Não sei se teria tanta autonomia se não tivesse esse companheiro", comenta o universitário Ernandes Alves Feitosa, 28 anos. Segundo ele, Atlas já foi seu companheiro de faculdade no curso de administração e agora no curso de direito. "A companhia do cão nos dá muita autoconfiança", acredita.
Serviço
Os deficientes visuais interessados em adquirir um cão-guia devem entrar em contato com o Integra por meio do telefone (61) 3442-7900. Não há nenhum custo para receber o cachorro.
Fonte: http://noticias.correioweb.com.br/materias.php?id=2688038&sub=Distrito
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