Prezados,
Sempre que me deparo com um artigo a respeito da áudio-descrição, corro e vou ler, ávido por aprender mais, visto que sempre sabemos tão pouco que nenhum conhecimento é demais.
Todavia, nem todos trago a este espaço, até porque costumo ler fontes em outros idiomas e seria chato para aqui postá-los. De qualquer modo, vi este artigo no blog da "audiodescrição" e partilho com vocês.
Infelizmente ele diz menos do que promete.
Na verdade, a autora, ao dizer: "... provando que o profissional com formação em Tradução está perfeitamente habilitado a realizar trabalhos de audiodescrição (sic) com qualidade, fidelidade e precisão." Não é bem assim. É necessária toda uma outra gama de conhecimento que só se vai adquirir com o estudo das diretrizes e de como são processadas as informações viso imagéticas por pessoas cegas, entre outros estudos.
É como acham alguns artistas: um áudio-descritor tem de ser artista, pois ele vai traduzir arte. E disso tiram que todos os artistas, atores e atrizes são automaticamente áudio-descritores, e dos bons! Exagero!. Da mesma forma, não é que se seja tradutor, que se será bom áudio-descritor.
Que o alerta seja sempre dado: para fazer a tradução visual o áudio-descritor tem de estudar, pesquisar e estudar mais. Daí, mais um pouco. Então, somar a isso muito mais estudos.
Cordialmente,
Francisco LimaArtigo integral disponível em:
(https://dl.dropboxusercontent.com/u/10004244/Blog/Artigos%20Acad%C3%AAmn...).
Ana Julia Perrotti-Garcia
PROFT em Revista Anais do Simpósio Profissão Tradutor 2013
PROFT em Revista
ISBN 978-85-65097-00-0
Anais do Simpósio Profissão Tradutor 2013 Vol. 1, Nº 3 março de 2014
Ana Julia Perrotti-Garcia
Doutoranda em Língua e Literatura Inglesa – DLM – FFLCH – USP – SP
Mestre em Linguística Aplicada – LAEL – PUC –SP
Ana Julia Perrotti-Garcia
Contato:
drajulia@gmail.com
AUDIODESCRIÇÃO COMO ÁREA DE ATUAÇÃO DO TRADUTOR: QUATRO VÍDEOS FEITOS POR JOVENS UNIVERSITÁRIOS
RESUMO
O presente artigo, de natureza prática e caráter descritivo retrospectivo, procura apresentar ao leitor alguns dos trabalhos realizados pelos alunos da referida disciplina, mostrando uma breve história sobre os vídeos originais e alguns aspectos relativos ao processo de audiodescrição. Os critérios para escolha dos vídeos foram: trabalhos que tivessem sido realizados com vídeos que representassem campanhas com mensagens de fraternidade, inclusão ou ecologia; disponibilidade do vídeo na Internet, tanto do vídeo audiodescrito quanto do vídeo sem audiodescrição; respeito às normas previamente estabelecidas; qualidade do som. No total, o artigo aborda quatro vídeos, citando sua ficha técnica, links de acesso, um pequeno histórico dos vídeos originais e comentários sobre o produto da audiodescrição.
Palavras-Chave: audiodescrição; tradução; tradução intersemiótica. Ana Julia Perrotti-Garcia
Audiodescrição como Área de Atuação do Tradutor: Quatro Vídeos Feitos por Jovens Universitários
INTRODUÇÃO
Trabalhando há mais de doze anos na formação de profissionais de Letras e Tradução, em cursos de graduação, extensão, atualização e especialização, fui chamada há três anos a trabalhar na recém-criada disciplina de Teoria e Prática de Audiodescrição para alunos do curso de Especialização em Tradução da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), na cidade de São Paulo. Após um levantamento da literatura existente, da montagem do cronograma de aulas e da definição do trabalho prático final que os alunos deveriam fazer para serem “aprovados” na disciplina, iniciaram-se as aulas e as diversas turmas se sucederam, com grandes desafios e inúmeras descobertas, provando que o profissional com formação em Tradução está perfeitamente habilitado a realizar trabalhos de audiodescrição com qualidade, fidelidade e precisão.
O presente artigo, de natureza prática e caráter descritivo retrospectivo, procura apresentar ao leitor alguns dos trabalhos realizados pelos alunos da referida disciplina, mostrando uma breve história sobre os vídeos originais e alguns aspectos relativos ao processo de audiodescrição. Como este artigo não buscou fazer análises aprofundadas sobre as escolhas lexicais e fraseológicas da audiodescrição de cada um dos vídeos, deixamos esta tarefa aos pesquisadores que queiram empreendê-la. Lembrando que, mais do que buscar a perfeição nesta primeira experiência de audiodescrição, os alunos que realizaram os vídeos procuraram aprender os processos, experimentar as metodologias e vencer as barreiras tecnológicas. A perfeição, assim como em qualquer área profissional, consagra-se pela prática, ao longo dos anos, e deve ser repensada a cada novo trabalho. Afinal, nas palavras de Franco (2008) “mesmo que frequentem um curso, os audiodescritores não se ‘criam’ tão rapidamente, é preciso muita prática”.
Uma vez que este artigo teve origem em minhas experiências didáticas, incluo aqui, na seção de E-referências (ao final do texto), além dos links de acesso aos vídeos audiodescritos, os links para os filmes originais. A intenção é facilitar a procura, para aqueles educadores, audiodescritores e leitores que pretendam analisar as diferenças entre um vídeo com e sem audiodescrição, ou que pretendam usar este material em sala de aula, ou ainda, que desejem fazer pesquisas comparativas entre o nível de assimilação e compreensão do conteúdo de ambos os vídeos. Um último esclarecimento faz-se necessário neste texto introdutório: após a avaliação em sala, os alunos foram orientados a postar os vídeos em um site aberto de dados audiovisuais (You Tube) e os links citados nas referências foram coletados no momento da redação deste artigo, podendo sofrer alterações futuras, já que por ora não foi implantado um portal específico para hospedagem e manutenção dos vídeos.
A audiodescrição
Ao ordenar as atividades tradutórias em intralingual, interlingual e intersemiótica, em meados do século passado, Jakobson (1952) estava, sem sequer imaginar, ajudando a delinear o campo de atuação dos tradutores que queiram se dedicar à audiodescrição. Afinal, o que fazem os audiodescritores senão dedicar-se à última das categorias elencas por Jakobson?
Audiodescrever é criar “uma narração adicional que descreve a ação, a linguagem corporal, as expressões faciais, os cenários e os figurinos” (LEÃO & ARAÚJO, 2009). Como essa narração, de maneira ideal, é introduzida entre os diálogos, tem por objetivo aumentar a compreensão dos espetáculos audiovisuais, tornando acessíveis aos deficientes visuais diversas manifestações culturais, didáticas e sociais.
A pesquisadora Eliana Franco, da Universidade Federal da Bahia, fundou em outubro de 2004 o grupo de pesquisa TRAM (Tradução e Mídia) a partir de conhecimentos adquiridos em workshops e congressos realizados na Europa nos anos anteriores (FRANCO, 2008a). Segundo ela, a audiodescrição, por consistir da tradução de imagens (linguagem não verbal) em palavras (linguagem verbal) é um recurso “definido como um modo de tradução audiovisual intersemiótico, onde o signo visual é transposto para o signo verbal.” (FRANCO 2008b)
De posse desses conceitos iniciais básicos, passaremos a seguir a abordar de maneira descritiva alguns dos trabalhos apresentados. Os critérios para escolha dos vídeos que serão analisados aqui foram: primeiramente, selecionei entre os trabalhos disponíveis, aqueles que tivessem sido realizados com vídeos que representassem campanhas com mensagens de fraternidade, inclusão ou ecologia, e não apenas anúncios que visassem a venda de produtos. Outro aspecto importante era a disponibilidade do vídeo na Internet (acesso livre, para permitir que o leitor possa, por si, assistir ao vídeo e tirar suas próprias conclusões), tanto do vídeo audiodescrito quanto do vídeo sem audiodescrição. Além disso, os vídeos tinham que ter respeitado as normas previamente estabelecidas (colocação de nota proemia, créditos completos, entre outros) e deviam possuir qualidade do som, embora o enfoque em sala de aula tenha sido na qualidade do roteiro audiodescrito (já que, provavelmente, a narração e sua gravação na trilha de áudio não serão tarefas do audiodescritor, mas de terceiros). A fim de permitir a análise do material por quem acessar os vídeos, o som audível foi considerado um requisito importante; presença de dificuldades Ana Julia Perrotti-Garcia
PROFT em Revista Anais do Simpósio Profissão Tradutor 2013
de tradução que pudessem ser de interesse para a análise proposta neste artigo. Sendo assim, foram selecionados quatro vídeos, os quais serão apresentados nas seções seguintes.
Às vezes, poucas palavras bastam
O vídeo, feito para uma campanha de redução do uso de extratos impressos em papel do Banco Itaú (Quadro 1), foi criado em 2012 pela agência de publicidade África. O vídeo, com 0’31’’ de duração originalmente, não tem diálogos, apenas um narrador falando sobre a iniciativa do banco e sons de papel rasgado e um bebê gargalhando. Após a inserção da audiodescrição, o vídeo passou a ter 0’45’’ de duração. A inclusão de uma nota curta, descrevendo a roupa do bebê (a cor laranja foi citada, por fazer referência direta à cor da logomarca do banco) e explicando que “Toda vez que o homem rasga um papel, o bebê ri” foram suficientes para que o público que não tenha acesso às imagens possa compreender o desenrolar da cena. Ficha técnica do Vídeo Audiodescrito
Audiodescritora: Luana Bassani
Narração: Luana Bassani
Ficha técnica do vídeo original
Criação: África, 2012
Quadro 1. Campanha de redução do uso de extratos impressos, para banco Itaú, 2012.
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