Por José Monteiro dos Santos
Ser cego é ser igual?
Mas, igual a quem?
Aos outros cegos, mas, apenas na deficiência porque, noutros aspectos, e falando apenas nos deficientes visuais, há uns mais cegos que outros.
Conheci as duas situações por isso, tenho a certeza que, muito boa gente discorda desta minha opinião.
Fui norma visual até aos 49 anos, ficando cego no espaço de 4 meses, uma realidade que, jamais pensei que, me poderia atingir.
Hoje com 61 anos, após 12 anos de ter que me habituar à nova situação, volto ao princípio e pergunto; sou um cego igual aos outros cegos?
Com a convicção que, sempre me acompanhou na minha vida, digo que não.
Passo a explicar a razão das minhas observações sem complexos:
Fui alguma vez tratado como um cego que está metido no meio de uma elite formada e que goza de todos os benefícios que a sua situação social lhe oferece?
As Associações que, dizem defender os seus associados, fazem-no de forma igual para todos, confesso que não.
Apoiando os cegos mais novos e numa perspectiva de os integrar na sociedade e cujo apoios serão sempre poucos, não são marginalizados os que perderam a visão numa idade mais avançada?
Disso não tenho dúvidas.
Qualquer que seja a pessoa que na situação de cego a partir dos 40 anos não importa o sexo, qual é a percentagem que, consegue voltar a ser reintegrado na sociedade que antes o acolhia?
Tendo por experiência que, se não partir da nossa parte a iniciativa, também mais ninguém o fará.
Num Mundo em que, a população envelhece, os idosos já não têm lugar, na sociedade actual, em que, só há espaço para alguns basta que para isso tenham capacidade económica ou poder de influência;
Qual o destino a dar aos restantes?
Todos ouvimos falar no ano do deficiente mas, com palavras ou boas intenções, nada muda.
A uma pergunta que tantas vezes me fazem e que é:
Qual é mais difícil:
É ser norma visual e cegar?
Ou é ser cego congénito?
Não é fácil a resposta mas, convivendo com uns e outros, a minha opinião é, que, ambas as duas acabam da mesma maneira no após mas, no antes, julgo que um cego que, já foi norma visual, tem pelo menos, a certeza do que é o mundo real embora, haja cegos congénitos que, quase na perfeição, assemelham no seu pensamento, tudo o que os rodeia.
Para concluir este meu raciocínio, não deixo de fazer uma autocrítica porque, muitas vezes, também nós somos responsáveis por muitas situações pois, nos auto-marginalizamos, sem sequer tentar saber quais os direitos que nos assistem, ficamos apenas pelas críticas.
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