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Modalidade desportiva praticada por cegos é ainda desconhecida em Portugal

por Lerparaver

Final da Taça de Portugal de Goalball realizou-se em Santarém

O Clube Atlético e Cultural (CAC) da Pontinha conquistou a 15ª edição da Taça de Portugal de Goalball tendo vencido o Grupo Desportivo de Alcoitão na final. Que se realizou no fim-de-semana passado no Complexo Desportivo Municipal, em Santarém. E contou com a presença de sete equipas vindas sobretudo da zona norte do país e da região de Lisboa.

A organização da Taça de Portugal elegeu Santarém para realizar a final tendo em conta a "centralidade" da cidade. "Não queríamos que os jogadores se desgastassem com viagens muito longas. Santarém é um local central do país e tem boas condições para praticar a actividade", explicou Paulo Coelho a O MIRANTE no final do torneio.

O Goalball é uma modalidade ainda desconhecida para muitos. Talvez tenha sido essa a razão para as bancadas da nave desportiva estarem vazias. É praticada por cegos e pessoas com grandes limitações visuais, embora todas as pessoas possam participar desde que estejam vendadas para todos os jogadores estarem em igualdade. Foi criado após a Segunda Guerra Mundial para os combatentes que ficaram cegos durante a guerra terem uma actividade desportiva.

Adley Sacramento tem apenas 20 por cento de visão, só conseguindo distinguir vultos. Mas isso não o impede de conquistar vitórias desportivas, tendo sido considerado o melhor jogador da Taça pela "época que desempenhou". Para o jovem que pratica a modalidade há cerca de seis anos, o Goalball é uma modalidade muito completa para cegos e pessoas com grandes limitações visuais uma vez que "ajuda" a desenvolver outros sentidos como a audição e o tacto. "A nível intelectual é também muito bom porque ajuda-nos a raciocinar qual a melhor táctica para vencer o adversário", refere.

O Goalball consiste num jogo entre duas equipas de três elementos cada, onde o objectivo é colocar a bola - com cerca de quilo e meio de peso, oca e com guizos para os jogadores saberem onde está - na baliza adversária. Todos os jogadores têm a missão de defender e atacar num campo, semelhante ao campo de vollei com nove metros de largura por um metro e dez de altura. A baliza é da largura do campo e todos os elementos da equipa a defendem, excepto nos penaltis que é defendida pelo jogador que provocou a falta.
O capitão do CAC da Pontinha, Ruben Portinha, não escondia o seu contentamento na hora em que recebeu a taça de vencedor. Troféu que festejou efusivamente com os colegas de equipa. O jovem, licenciado em Ciências da Comunicação, começou a praticar atletismo e há cerca de dois anos apostou no Goalball. Na sua opinião, esta modalidade tem a vantagem de não ser um desporto adaptado. "Temos que estar sempre prontos a atacar e a defender, é um jogo muito intenso", reflecte.

Ruben Portinha alerta para o facto de não haver muitos jogadores jovens a praticar a modalidade. "Os responsáveis e treinadores de Goalball têm que ir procurar jovens para praticar este desporto. Não digam que não existem porque existem. Provavelmente estão em casa. O Goalball é muito bom para a integração de pessoas cegas na sociedade. Ajuda a perder complexos e medos", assegura o jovem.
O principal objectivo de Adley Sacramento é estar presente nos Jogos Paralímpicos de 2012, em Londres (Inglaterra). Mas o jovem desportista sabe que não será tarefa fácil. "O ano passado não conseguimos ficar entre os primeiros classificados, mas este ano vamos dar o nosso melhor no Europeu para atingirmos o nosso objectivo. Vai ser difícil mas não desistimos", garante com um sorriso no rosto.

Fonte: http://semanal.omirante.pt/index.asp?idEdicao=452&id=66533&idSeccao=7149...

Comentários

Os meus sinceros parabéns ao clube atlético da Pontinha! Eu não conhecia esta modalidade, mas acho-a interessante!

Tenho a certeza que vão conseguir excelentes resultados no Euro! E em 2012 vão conquistar a medalha de Ouro nos Jogos Paralimpicos...! Força campeões!!!

O goalball beneficiaria imenso de se integrar na sociedade através da extensão de sua prática às pessoas normovisuais. Talvez que fosse de apostar de incluir esta modalidade nos programas de Educação Fisica. Penso que a vivacidade do jogo e o facto de não ser muito perigoso praticá-lo poderia ser motivador para os normovisuais. Afinal vivemos na época das "novas experiências"! Mas o vazio das naves desportivas é características de muitas modalidades amadoras quando às mesmas não estão associados os emblemas dos grandes clubes. Se fizerem um jogo Benfica Sporting ao berlinde vão ver que têm muito mais espectadores que um jogo de handball entre o Borbense e o Chasmuquence. Enfim, o motivo da identificação clubística é mais forte que a beleza e a técnica do desporto praticado.

Boa tarde,

Após leitura do comentário sobre a participação de normovisuais na modalidade de Goalball, gostaria de dizer que já existem pessoas normovisuais a praticar esta modalidade. Eu sou uma dela e na equipa que treino existem mais quatro. Outras equipas (apesar de poucas) também contam com jogadores normovisuais.

Em campeonatos nacionais podem participar pessoas normovisuais, o mesmo não se aplica aos jogos europeus, campeonato do mundo ou paraolínplicos. Mesmo nos campeonatos nacionais a participação destes atletas está dependente da associação/federação que regulamenta a modalidade em determinado país. Em Portugal, em cada jogo podem estar inscritos dois normovisuais por jogo num conjunto de seis atletas. Só poderá estar um em campo.

Se estiverem interessados em saber mais podem consultar a Associação Nacional de Desporto para Deficîentes Visuais ou o blog da equipa que represento - goalballcacpontinha.blogspot.com

Márcia Ferreira
(treinadora/jogadora/árbitra da modalidade de Goalball)