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As acessibilidades nos Museus - Ia Jornadas Museológicas da GAMP

por Ana Duarte

Ia Jornadas Museológicas da GAMP

30e31 de Outubro de 2006

A IMPORTÂNCIA CENTRAL DOS MUSEUS NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO E TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE

Estratégias de Gestão Cultural: as acessibilidades nos Museus.

Um caso prático na acessibilidade cultural: o Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva.

Fátima Alves falves@pavconhecimento.pt

Desde sempre que existem pessoas de todas as "maneiras", no entanto, insistimos em criar um
mundo só para alguns ou para a maioria como se costuma dizer, isto é, pessoas "normais". Desta
generalidade, foi-se criando e restringindo o acesso ao espaço e à participação / utilização de
bens públicos e privados. Consequentemente, a visibilidade da diferença / diversidade tantas
vezes referida como essencial na evolução da espécie humana, tornou-se invisível e/ou associada
à boa vontade ou infortúnio.

Hoje, com 10% da população mundial com necessidades especiais e uma sociedade cada vez
mais envelhecida, começamos a sentir na pele esta indiferença "fermentada" de tantos anos.
Assim, o conceito de acessibilidade tem um significado vasto mas que se resume a que qualquer
pessoa possa usufruir de forma autónoma e tirar o máximo da oferta de qualquer espaço ou sítio.

Temos tendência a pensar que a acessibilidade só tem a ver com pessoas com deficiência ou
então trata-se apenas de acesso arquitectónico. A prática diz-nos que são bem mais as pessoas
que este conceito envolve.

Para que qualquer pessoa (funcionários, colaboradores e público externo) possa entrar, estar e
participar activamente em todo espaço é preciso reunir várias condições:

ACESSO EXTERNO (componente física e informativa)
ACESSO INTERNO {componente física, informativa e participativa)
Sabermos que meios de transportes, de estacionamento, de entradas (degraus / rampa / elevador),
que informações nos diversos meios de divulgação (site / folhetos / poster etc...), que
conhecimentos acerca do nosso público devemos saber e vice-versa, que condições temos e o
que podemos melhorar a curto ou médio prazo; estas e muitas outras questões poderão fazer a
diferença, isto é, se estamos realmente a desenvolver um trabalho para Todos ou então para as
Pessoas do costume.

No caso do Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva, foi possível criar uma resposta credível
para quatro públicos diferentes: pessoas com mobilidade condicionada, pessoas cegas e baixa
visão, pessoas surdas e pessoas com deficiência mental. No entanto, nada teria sido possível sem
um trabalho contínuo e exigente e sem o apoio da Direcção.

Ao longo destes anos trabalhou-se em várias frentes:

1. divulgação intensiva;
2. contacto com pessoas com necessidades especiais;
3. contacto com profissionais da área (professores, técnicos, arquitectos; designers);
4. participação em seminários e formações da área;
5. organização de eventos especiais e gerais (colóquios, exposições e actividades);
6. apoio aos visitantes com necessidades especiais (grupos, alunos integrados e público geral);
7. sensibilização interna e externa;
8. orientação de funcionários e estagiários com necessidades especiais;
9. adaptação do espaço físico;
10. parcerias com instituições.

Quando procuramos captar e fidelizar o público com necessidades especiais, é preciso estarmos preparados para alterar definitivamente a nossa postura e a nossa rotina de trabalho. Por outro lado, são as instituições de educação especial e as associações que possibilitam uma presença visível nos museus e no nosso caso, por isso, o contacto permanente com elas é fundamental. Contudo, sentimos que não foi ainda atingido um dos principais objectivos: que as necessidades especiais sejam sempre contempladas desde o arranque de qualquer projecto, actividade, exposição ou outra acção. Assim, parece que estamos sempre a tentar remediar, quando, de facto, poderíamos prevenir.

Letfs design ali things, ali the time, for everyone
Ronald L. Mace
Fátima Alves
Responsável pelo apoio ao público com necessidades especiais no Departamento Educativo e de
Comunicação do Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva.
Licenciada em Ensino da Química e da Física na Faculdade de Ciências da Universidade de
Lisboa
Aluna de Mestrado em Educação / Especialização em Didáctica das Ciências na Faculdade de
Ciências da Universidade de Lisboa

Comentários

Conforme pude participar no evento que em seguida menciono, dou do mesmo testemunho:
No passado dia 30 e 31 de Outubro realizaram-se, na Fundação António Cupertino de Miranda (Porto – Portugal) as primeiras jornadas organizadas pela Grande Area Metropolitana do Porto (desde a sua recente formação com os seus 14 municípios) no âmbito do Sector cultural e a que, de acordo com os seus organizadores, se pretende dar continuidade.

De uma maneira geral os principais pontos a serem considerados foram:

- A função social dos Museus – sua importância no processo de desenvolvimento e transformação da sociedade;

- Museus e públicos;

- Os serviços educativos dos Museus - as acessibilidades;

- O Museu a sua envolvência – os espaços de lazer,

- Estratégias de Gestão cultural para os Museus – marketing cultural e merchandising..

As sessões foram bastante participadas, considerando a presença de muitos técnicos ligados aos vários Museus da Área Metropolitana do Porto, tendo sido constatado (com uma certa mágoa) a ausência dos "políticos" que decidem as estratégias culturais dos respectivos concelhos. Embora tenha havido um balanço positivo em relação às actividades desenvolvidas pelos Museus, constata-se algum alheamento das pessoas - por exemplo no âmbito do projecto "As famílias no Museu". Também foi dado importante relevo às questões relativas à acessibilidade nos equipamentos culturais, nomeadamente nos Museus, assunto ao qual se deve passar a atribuir uma maior atenção, considerando o espaço (mobilidade no exterior e no percurso interior), bem como os componentes de informação e divulgação que deverão ser dirigidos a todos os públicos, tendo o cuidado de os reajustar às necessidades do chamado público especial (portador de algum tipo de deficiência física ou mental, ou de doenças crónicas, considerando ainda nessa definição de público especial, os estrangeiros, as grávidas e os idosos).

O funcionamento e o quadro de pessoal dos Museus, sobretudo os Municipais, são questões preocupantes tendo em conta os condicionalismos contratuais e os constrangimentos financeiros, agravados pelas futuras estratégias governamentais (lei das finanças locais). Por outro lado, os apoios que até agora têm existido, no âmbito dos fundos estruturaisir ão diminuir, quer pelas mudanças de estratégias contidas no QREN, quer pela supressão de um Programa Operacional Sectorial na Cultura. Por outro lado as restrições do PIDDAC no âmbito da cultura, forçosamente terão reflexo no apoio às instituições do sector. As perspectivas para o futuro não são, por isso, muito animadoras. Foi lançado o desafio, não só para que a classe política possa dar maior prioridade e auxílio aos Museus e, por outro lado, que estes procurem reunir esforços no sentido de obter formas de auto – sustentabilidade e não descurar a necessidade de pretar um maior apoio aos públicos ditos especiais.