QUE HORIZONTES PARA OS ALUNOS CEGOS?
PLANO IDEOLÓGICO DA ACÇÃO
1. BRAILLE VERSUS COMPUTADOR
Este ponto, como introdutório que é, pretenderá clarificar uma base de desenvolvimento que assente - ou proponha - algum tipo de pressuposto que, só por si, justifique, numa análise simples, as vantagens das novas tecnologias. certo que, ouve-se, diz-se, sabe-se, que as novas tecnologias permitiram, mesmo aos cegos, dar um enorme salto qualitativo - e quantitativo - no que toca à informação, seja do ponto de vista da aquisição, seja da produção. E não estará tanto em causa a aquisição da informação mesma, mas a maneira de a produzir, de a fazer chegar aos outros, no caso, aos professores. Por que, se quanto ao acesso, e no que toca à sua captação, não terá havido introdução de elementos novos, já no campo da produção, é facto que tal aconteceu. ou seja: no primeiro caso, a aquisição é feita a partir do som e do tacto - voz, áudio, braille -, no segundo - pelo braille e pela escrita normal - aconteceu o computador que é, tão somente, um equipamento com uma facilidade de trabalho e versatilidade de utilização que desde logo o colocam como fonte de qualidade, de quantidade, de domínio, de iniciativa, de autonomia, em cada proposta pessoal, no caso o aluno cego, de propor informação.
2. O STATUS QUO DA ESCOLA
Situemo-nos na escola. ¦ aqui que, como reflexo mais ou menos próximo, mais ou menos longínquo, as novas tecnologias aparecem e são, acima de tudo, uma proposta de qualidade na integração do aluno cego na escola, uma perspectiva de maior facilidade no desenvolvimento do seu projecto - de aluno -, considerando-se todo o processo ensino/aprendizagem e os respectivos conteúdos. Toda uma outra possibilidade - e facilidade - na aquisição da informação, mas é, sobretudo, uma outra capacidade de domínio, de autonomia, que já não é simplesmente o permitido pelo braille.
Os alunos passaram a apresentar a informação - o resultado das suas aprendizagens - ao professor a partir de um computador e de um processador de texto, E, claramente, acontece toda uma outra forma de trabalhar, de dosear o texto, de apresentá-lo, no momento, ao professor. Acontece, por outro lado, que o próprio professor pode ele mesmo, implicado que seja no complexo das novas tecnologias, tratar a sua informação, que, de seguida, chegará ao aluno, ou sob a forma de texto informatizado, ou sob a forma de texto braille, aqui a escolha é, ainda assim - ou pode ser - do aluno. E também este aspecto é salutar: que seja ele, que tenha podido passar a ser ele, a fazer a sua escolha, na maneira de tomar contacto com a informação.
Portanto, a partir dos equipamentos informáticos, que hoje já estão na escola, e dos respectivos programas, mormente processador de texto e OCR, é possível conseguir-se uma escola de maior qualidade, na qual o aluno cego, com maior facilidade, pode desenvolver um efectivo e activo papel de aluno.
3. DOS VERSUS WINDOWS
Aqui é intenção apresentar os dois tipos de ambiente que caracterizam a generalidade dos computadores: o ambiente Dos e o ambiente Windows. Pretende-se que eles sejam vistos, não como antitéticos, significando níveis claramente distintos e opostos, mas sim considerá-los complementares, portanto sequenciais um ao outro. Aquele, ainda hoje, e historicamente, o mais acessível aos cegos, e mais ainda aos alunos cegos, não tem que ser visto como ultrapassado, sobretudo, porque as suas virtualidades são muitas e ainda podem ser aproveitadas (durante algum tempo); o ambiente Windows, hoje já acessível - se calhar claramente acessível - aos cegos, poderá, e deverá, ser desenvolvido mormente nas escolas.
A questão da limitada integração nas disciplinas de âmbito informático - mormente na disciplina de Tecnologias da Informação - por parte do aluno cego, grandemente prejudicada pela carência de programa de leitura de ecrã, pode ser ultrapassada a partir deste meio - hoje em dia já vão chegando às escolas os referidos programas -, e assim ser possível uma integração efectiva na disciplina e, consequentemente, um aproveitamento claramente positivo. Portanto, a participação é possível.
4. HORIZONTES FECHADOS - HORIZONTES ABERTOS
Em jeito de conclusão, e considerando as dúvidas que caracterizam os desenvolvimentos informáticos, talvez seja lícito pôr a questão: os horizontes que se abrem, considerando o binómio informação-computador, serão abertos à pessoa cega? Esta questão tem sentido na medida em que a proliferação do aspecto gráfico nos ambientes e nos programas informáticos é cada vez mais uma constante. é óbvio que, tendo-se perdido a linearidade do ecrã linha-coluna, as dúvidas podem ser postas. Contudo, o que é proposto aqui é, a partir apenas de uma base reflexiva, o seguinte: as dúvidas são meramente exteriores - não temos elementos (aliás o mundo da informática é demasiado versátil para permitir grandes certezas), e não queremos, ir ao fundo da questão; o aproveitamento informático é uma realidade - seja em ambiente Dos, seja em ambiente Windows. Portanto, continue a aproveitar-se o que existe, penetre-se no que vai surgindo, esteja-se com o acontecer. Numa só palavra : enquanto a informação utilizar a forma escrita, enquanto o homem comunicar através da palavra, não será um simples ecrã de computador que impedirá a pessoa cega de aceder à informação.
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