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Lua Azul - blog de lua azul

Viajando pelo mundo dos livros... "O Livro do Destino" de Brad Meltzer - Capítulo 10

por lua azul

E eis que cerca de uma semanuinha depois de ter partilhado por aqui o 9º capítulo deste novo livrinho que decidi disponibilizar-vos na íntegra julgo que já quase no final do mês passado, o 10º chega finalmente e o tal alfinete de lapela de que já se falava no 9º parece já ter começado a produzir efeitos dos mais negativos junto do nosso narrador Wes. Onde é que esta história toda irá parar, também ainda não sei, resta-nos então somente continuar a acompanhar estas minhas partilhas aqui pelo blogue para tentarmos descobrir e hoje fica assim o 10º capítulo com mais alguns dadozinhos a acrescentar a toda esta trama.

10

Palm Beach, Flórida

“Espere!", grito, correndo para o canto do saguão e dirigindo-me para as
portas do elevador que estão se fechando. Dentro do elevador, uma mulher loura
olha para o outro lado fingindo não ter escutado. É por isso que odeio Palm
Beach. Quando as portas estão prestes a se fechar com um beijo apertado, eu
pulo à frente e me espremo entre elas.
Agora, pasmem, a loura se volta para o painel de seleção e finge procurar
por Abrir a Porta. Eu deveria xingá-la e mandá-la sair.
"Obrigado", digo, fazendo o possível para recuperar o fôlego.
"Que andar?"
"Quarto."
"Oh, você está com o..."
"Sim", digo, finalmente olhando para ela.
Ela fita meu rosto, depois rapidamente desvia o olhar para o indicador de
andar. Se ela pudesse correr e gritar "Monstro!" com certeza o faria. Mas, como
a melhor anfitriã de Palm Beach, ela poderia deixar passar tudo se isso
significasse uma boa escalada social. "Deve ser bárbaro trabalhar para ele",
acrescenta minha nova melhor amiga, embora se recuse a olhar-me nos olhos.
Já estou acostumado com isso agora. Não tive um encontro nos últimos dois anos.
Mas toda moça bonita quer falar com o presidente.
"Mais bárbaro do que imagina", digo, quando as portas se abrem no quarto
andar. Dirigindo-me para a esquerda em direção a um conjunto de portas duplas
fechadas, eu corro tão rápido quanto posso. Não por causa da loura, mas porque
já estou...
"Atrasado!", repreende uma voz áspera atrás de mim. Giro em direção às
portas duplas abertas do conjunto do Serviço Secreto, onde um homem com o
pescoço tão grosso quanto minha coxa senta-se atrás de uma divisória de vidro
semelhante à janela de um caixa de banco.
"Muito atrasado?", desafio, voltando-me para as portas fechadas do lado
oposto do corredor acarpetado de bege.
Junto com as do Serviço Secreto, essas são as únicas portas de todo o andar —
e, diferentemente das da firma de advocacia da companhia de hipotecas do
andar de baixo, essas portas não são de carvalho majestoso. Elas são pretas e

revestidas de aço. À prova de bala. Assim como nossas janelas.
"Bastante atrasado", diz ele, enquanto apanho o distintivo de identificação em
meu bolso. Mas, quando estou prestes a passá-lo pelo leitor de cartão, ouço um
som abafado e as portas se destravam.
"Obrigado, A.J.!" digo, abrindo a porta.
Lá dentro, procuro pelo agente do Serviço Secreto que usualmente está de
guarda junto à parede do lado esquerdo.
Ele não está ali, o que significa que o presidente ainda não chegou. Bom.
Examino a escrivaninha da recepção. A recepcionista também não está. Mau.
Droga. Isto significa que eles já...
Passando rápido pelo enorme brasão presidencial que está tecido dentro do
brilhante carpete azul, eu viro para a esquerda, onde se alinham, no corredor,
quadros de má qualidade e pobres esculturas do presidente. Elas têm chegado
todos os dias desde que deixamos o cargo público — todas de estranhos, fãs,
patrocinadores. Eles o desenham, pintam, esboçam a lápis, fazem croquis,
estátuas de bronze e criam esculturas em todas as combinações possíveis. As
mais novas são um conjunto de palitos de dentes da Flórida com seu perfil
esculpido em cada um e uma escultura de cerâmica de um sol amarelo brilhante
com seu rosto no centro. E isso nem mesmo inclui o que as corporações enviam:
querem que o ex-presidente tenha cada CD, cada livro, cada DVD que aparece,
embora o que façamos seja só enviar tudo para a Biblioteca Presidencial.
Esbarrando em uma bengala de madeira em que estão coladas as fotos dos filhos
de Manning, eu passo pelo corredor e dirijo-me do segundo até o último
escritório que é...
"É amável de sua parte juntar-se a nós", anuncia uma voz rouca de mulher,
enquanto todos na sala se viram quando eu entro. Conto rapidamente quantos
estão ali, só para ver se sou o último — dois, três, quatro, cinco...
"Você é o último", confirma Claudia Pacheco, nossa chefe de equipe,
enquanto se recosta em sua cadeira atrás de uma escrivaninha de mogno
completamente desarrumada.
Claudia tem cabelos castanhos, já ficando grisalhos, presos atrás em um
coque apertado, quase em estilo militar, e lábios de fumante que revelam a
origem de sua voz rouca.
"O presidente está com você?", acrescenta ela.
Eu sacudo a cabeça, abandonando a minha própria desculpa por estar
atrasado.
Pelo canto do olho, percebo Bev e Oren sorrindo maliciosamente entre si.
Aborrecidas e irritantes. Ambas olham para o pequeno alfinete de lapela, de
ouro, que está num canto da mesa de Claudia. Esculpido com a fachada da Casa
Branca, o alfinete de ouro não era maior do que uma peça de hotel do jogo
Banco Imobiliário, mas o que o tornava memorável eram as duas cabeças de

ouro mediocremente esculpidas do presidente e da primeira-dama, espremidas e
ligadas por um aro, que se balançavam como talismãs debaixo da fachada. O
presidente trouxera o alfinete para Claudia anos atrás à guisa de brincadeira, uma
lembrança comprada de um vendedor de rua na China. Hoje faz parte do que
sobrou da tradição da Casa Branca: quem quer que chegue atrasado na segunda-
feira de manhã, para o encontro da equipe, usa o alfinete durante o resto da
semana. Se você faltar ao encontro, é obrigado a usá-lo por um mês. Mas, para
minha surpresa, Claudia não o pega.
"O que aconteceu com a invasão dos bastidores?", pergunta ela, com o jeito
de falar apressado de Massachusetts.
"Invasão?"
"Na Malásia... o sujeito no aposento privado do presidente... a mesa de vidro
quebrada. Estou falando espanhol aqui?"
No secundário, Claudia era a garota que organizava todos os eventos
extracurriculares, mas nunca se divertia com eles.
Aconteceu o mesmo quando ela dirigiu as Operações do Salão Oval,
tranquilamente um dos empregos mais gratificantes na Casa Branca. Ela não se
interessa pelos créditos ou pela glória. Ela está aqui porque é dedicada. E quer se
assegurar de que também somos.
"Não... claro que não", gaguejo. "Mas não foi... Aquilo não foi uma invasão."
"Não foi o que o repórter disse."
"Eles lhe enviaram um repórter?"
"Eles nos enviam tudo", diz Bev da poltrona de dois assentos, perpendicular à
escrivaninha de Claudia. Ela devia saber. Como chefe da correspondência, ela
responde à correspondência pessoal do presidente e até sabe quais piadas colocar
no final dos cartões de aniversário de seus amigos. Para um homem com cerca
de dez mil "amigos", isso é mais espinhoso do que parece, e a única razão pela
qual Bev ressalta o fato é porque ela está com o presidente desde que ele
concorreu ao Congresso pela primeira vez, quase vinte e cinco anos atrás.
"E eles chamaram o ocorrido de invasão?", pergunto.
Claudia levanta o relatório, enquanto Bev puxa o alfinete de lapela do canto
da escrivaninha. "Invasão", diz Claudia, ressaltando as palavras.
Meus olhos ficam fixos no alfinete, enquanto Bev brinca com ele, passando o
polegar pelos rostos do presidente e da primeira-dama.
"Havia algo de valor para ser roubado no aposento privado?", pergunta Bev,
escovando o cabelo preto tingido que lhe cai pelos ombros e revelando um suéter
com decote em V que mostra os implantes de seio de uma década atrás, que ela
adquiriu, junto com o apelido Busty Bev, no ano em que ganhamos a Casa
Branca. No secundário, Bev foi a garota mais votada no concurso Rosto
Fabuloso, e mesmo agora, com sessenta e dois anos, fica claro que as aparências
ainda são importantes.

"Ninguém roubou nada... Confie em mim, não foi uma invasão", digo,
girando os olhos para tirar a ênfase. "O sujeito estava bêbado. Ele pensava estar
no banheiro."
"E o vidro quebrado", pergunta Claudia.
"Tivemos sorte de ele ter apenas se quebrado. Imagine se ele pensasse que
era um urinol", interrompe Oren, já rindo de sua própria piada e rabiscando seu
relatório desorganizado, preparado na moita às oito da manhã. Com 1,85 metro,
Oren é o mais alto de todos, bonitão, o gay mais valentão que já encontrei em
minha vida, e o único da minha idade no escritório. De seu assento diante da
escrivaninha de Claudia, fica claro que ele é o mais importante aqui. Sem
surpresas. Se Bev era o Rosto Fabuloso, Oren era o garoto mais esperto, aquele
que mandava os babacas comprar cerveja. Um instigador nato, bem como nosso
diretor de viagens, ele também adquiriu o tato político mais suave de todos os que
trabalham no escritório, e é assim que, com uma simples piada, rapidamente
todos deixam de lado a mesa quebrada.
Eu aceno com um obrigado e...
"O que aconteceu com a mesa?", pergunta Bev, ainda brincando com o
alfinete de lapela.
"Foi culpa minha", digo, de maneira muito defensiva. "Leia o relatório... Eu
tropecei nela quando o sujeito estava correndo para fora."
"Wes, relaxe", diz Claudia, no seu tom monótono de chefe de equipe.
"Ninguém o está acusando..."
"Só estou dizendo... se eu achasse que era sério, eu mesmo ainda estaria
caçando o sujeito. Até o Serviço Secreto achou que ele era alguém que estava
perdido." À minha esquerda, Oren brinca com sua própria lapela, esperando que
eu não perceba. Virando-se para Bev, ele tenta chamar a atenção dela. Ele só
usou o alfinete uma vez — em um dia em que eu lhe disse: "Espere em seu
escritório, o presidente deseja vê-lo". O presidente nem estava no prédio. Fora
um truque fácil. Apenas uma vingança infantil. Ele se vira de novo para Bev.
Para sorte minha, ela não percebe.
"Ouçam, sinto ter de fazer isto, mas já terminamos?", pergunto, olhando para
o relógio e percebendo que já estou atrasado. "O presidente quer que eu..."
"Vá, vá, vá", diz Claudia, fechando sua agenda. "Apenas faça-me um favor,
Wes. Quando, hoje à noite, você estiver no evento sobre fibrose cística — eu sei
que você é sempre cuidadoso —, mas, com a invasão..."
"Não foi uma invasão."
"... apenas fique de olhos um pouco mais abertos, está bem?"
"Sempre faço isso", digo, correndo para a porta e por pouco conseguindo
escapar do...
"E o alfinete de lapela?", interrompe uma voz rouca, de seu lugar habitual no
canto de trás.

"Eeeeeeee, você está danado", diz Oren.
"Farol vermelho, farol vermelho!", grita Claudia. É a mesma coisa que ela
berra para seus filhos. Eu paro na hora.
"Obrigada, B. B", acrescenta ela.
"Sim, estou cumprindo meu dever", diz B. B., as palavras rolavam da lateral
de sua boca em um lento rastejar, característico do Sul. Com um topete de
cabelo branco emaranhado e uma camisa abotoada e amarrotada, marcada com
as iniciais desbotadas do presidente nos punhos das mangas, B.B. Shaye tem
estado ao lado do presidente por um período maior do que a primeira-dama.
Alguns dizem que ele é um primo afastado de Manning... outros, que ele é o seu
velho sargento senil do Vietnã. De todo modo, ele tem sido a sombra do
presidente por quase quarenta anos -— e, como qualquer sombra, ele muda
lentamente caso se olhe para ele por muito tempo. "Sinto muito, garoto", diz ele,
com um sorriso de dentes amarelos, enquanto Bev me estende o alfinete de ouro
com a Casa Branca e as cabeças dependuradas.
Para maior autenticidade, o autor usou duas lascas verdes e brilhantes como
cor dos olhos da primeira-dama. Como é mais difícil encontrar o cinza brilhante,
os olhos do presidente ficaram vazios.
"Diga para as pessoas que eles são seus netos", diz Oren, enquanto eu abro o
fecho para colocá-lo na minha lapela.
Pressionando muito forte, sinto uma picada aguda na ponta do dedo quando o
alfinete fura minha pele. Uma gota de sangue surge. Já passei por coisas piores.
"A propósito, Wes", acrescenta Claudia, "um dos curadores da biblioteca disse
que quer conversar com você sobre uma exibição que está planejando, seja
gentil quando ele telefonar..."
"Estou com o celular, se você precisar!", digo alto, com um aceno. Correndo
para a porta, dou uma lambida na gota de sangue em meu dedo.
"Cuidado", grita B. B. atrás de mim. "São os pequenos cortes que vão matá-
lo."
Ele tem razão. No corredor, passo correndo por uma enorme pintura a óleo
do presidente Manning vestido como um apresentador de circo. Dreidel disse que
tinha informações sobre Boyle. Já é tempo de saber do que se trata.