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Lua Azul - blog de lua azul

Um pequeno excertozinho do meu livro que dá muito que pensar

por lua azul

Sendo eu uma verdadeira apaixonada or palavras e pela área da escrita, era quase óbvio que também teria que escrever um livro a uma determinada altura da minha vida e eis que esse momento parece ter chegado no passado dia 13 de Dezembro!

Iniciei assim a essa data um projecto que ainda não consegui concluir até aos dias de hoje penso que mais por uma questão de preguiça do que por qualquer outro motivo, mas de qualquer modo, o que tenho escrito por lá deixa-me muitas vezes fascinada comigo própria e com a minha linha de pensamento. Hoje é um desses pequenos excertozinhos que me deixaram absolutamente maravilhada depois de os ter escrito que decidi trazer-vos também como forma de iniciar este meu novo espacinho no que se refere às postagens, espero que possa ser do vosso agrado tanto quanto foi do meu no passado mês de Janeiro quando li pela primeira vez as seguintes palavras que redigi numa noite em que o sono parecia não querer chegar:)

" - É a mais pura das verdades, querida sobrinha! Por mais que até nos esforcemos em delinear planos para as nossas próprias vidas e algumas vezes também para as dos outros, há sempre qualquer força que eu ainda não consegui entender muito bem de onde é que virá e relativamente a ela, somente me resta a certeza absoluta de que nos consegue transcender em absoluto. É então através de todos os contratempos que de vez em quando se lembra de colocar no nosso caminho que nos alerta precisamente para esta realidade que Ricardo Reis nos descreve através deste pequeno excerto que por aqui colocaste deste seu lindíssimo poema que eu pessoalmente adoro do fundo do meu coração, de facto não adiantamos nada com certos comportamentos ou atitudes que adoptamos perante os outros ou até mesmo somente para connosco próprios, acabando no fim de contas a nossa vida por terminar exactamente como a do mais comum dos humanos termina: Não regressando jamais nem deixando qualquer recordação nossa que seja àqueles que ainda por cá ficam a pensar que a gozam, mas que no fundo acabarão também eles por ser esquecidos no futuro por tantas outras gerações vindouras à semelhança daquilo que previamente já tinha acontecido no nosso caso! - Disse Inês não denotando no entanto quaisquer sinais de mágoa na sua vóz à medida que ia reflectindo na presença da sobrinha sobre este pequeno excerto do poema que esta última retirara de um livro de literatura portuguesa que Teresa lhe oferecera muito recentemente - Eternos no verdadeiro sentido da palavra são somente aqueles que nos conseguem deixar verdadeiras relíquias do seu património através da escrita, da pintura e de tantas outras artes e hoje parecemos estar aqui perante um desses exemplos enquanto vamos reflectindo com a ajuda uma da outra sobre estas palavras que Fernando Pessoa tão inteligentemente nos vem dedicar através da vóz do seu heterónimo Ricardo Reis e mesmo esses... Quem é que nos garante que daqui a um ou dois séculos não caíram também já no esquecimento da generalidade da população sendo substituídos por tantos outros autores, pintores ou adeptos convictos de tantas outras artes que entretanto foram aparecendo e levantando a sua vóz bem mais alto do que todos estes que agora veneramos? Por esta razão que já julgo ser mais do que óbvia e por muitas mais hoje não posso deixar de concordar de forma alguma com estas palavras com que sem querer vieste alterar por completo a forma como comecei a encarar este meu dia logo que acordei penso que para aí uma hora depois de ter conseguido pegar finalmente no sono: Nunca devemos tentar alterar por nós próprios o curso natural que a nossa vida ou até mesmo a dos outros pretende seguir seja de que forma for, somente Deus, o destino ou qualquer outra força que nos transcende e pura e simplesmente desconhecemos é que têm esse poder e depois se formos a ver bem as coisas de acordo com este poema de Ricardo Reis, não é também assim que os rios habitualmente procedem como forma de conseguirem finalmente chegar ao mar? Passando sempre sossegada e silenciosamente pelo seu curso sem se deixarem no entanto prender por nada nem por ninguém? Então porque é que nós humanos teimamos sempre em querer reagir de forma bem diferente daquela que eles adoptam permitindo que os nossos amores, ódios, paixões, invejas, entre tantos outros sentimentos falem bem mais alto que a nossa própria vóz, impedindo-nos deste modo de sorrirmos perante a vida somente porque sim, porque nos demos ao luxo de nos posicionarmos perante ela quase como se de um verdadeiro rio nos tratássemos, passando por todas as adversidades que eventualmente até possa vir a colocar no nosso caminho tão sossegada e silenciosamente quanto possível? Não seríamos todos bem mais felizes se optássemos por esta via em detrimento de tantas outras que mais nada conseguem acarretar para cima dos nossos ombros a não ser pensamentos e sentimentos negativos que normalmente até costumamos dirigir àqueles que nos são mais próximos e não tanto a outras pessoas que mal conhecemos? Eu pelo menos acho que sim e não poderia concordar mais com Ricardo Reis quando nos vem dizer através deste seu poema que quanto mais silenciosa e sossegadamente passármos pela nossa própria vida, tanto menos os outros sofrem no momento em que partírmos para outro mundo porque pura e simplesmente não guardam memórias significativas relativamente à nossa pessoa que os movam e cheguem mesmo a arder-lhes no coração ou até a magoá-los de um certo modo!".

Estas palavras foram proferidas por uma das tias maternas da minha protagonista, a jovem condessazinha de Gouveia de quem ainda vos falarei por aqui muitas mais vezes e na sua origem, estiveram as seguintes reflexões que Fernando pessoa fez chegar até nós pela vos do seu heterónimo Ricardo Reis:

"A vida passa e não fica, nada deixa e nunca regressa... Não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente e sem desassossegos grandes, sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a vóz, nem invejas que dão movimento de mais aos olhos, nem cuidados, porque se os tivesse, o rio sempre correria e sempre iria ter ao mar... Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijámos, nem fomos mais do que crianças. E se antes que eu levares o ópolo ao barqueiro sombrio, eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti. Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim à beira rio, pagã triste e com flores no regasso.".".

Para mim pessoalmwnte, isto ficou quase perfeito, tirando algumas correcçõezinhas que ainda vou ter que fazer neste pequeno excertozinho. Espero que também tenham gostado, eu volto a dar-vos mais notícias sobre a condessazinha Carlota de Gouveia assim que me for possível!