Cegueira ou apatia?

Cegueira ou apatia?

O pior cego não é aquele que não vê mas aquele que não quer ver.

Eles não vêem o que eu vejo e eu não vejo o que eles vêem,
mas a criança vê mais longe que nós todos.
Desenganem-se que a cegueira não é escuridão e solidão
e também desenganem-se que a visão
não é a única chave para o conhecimento e a felicidade!
Pois o pior não é a cegueira mas a apatia, uma falsa serenidade.

Somos como o Zé Medroso
que vê a sua cegueira como o fim de uma vida
e que já não vai ser como antes
porque a nova jornada é mais comprida;
mas desenganem-se, até os mais ignorantes
sabem que isto acontece com todos!

Ter medo é humano,
ninguém é cobarde
mas sim alguém mal resolvido,
com os seus problemas por resolver,
mas o defeito é os esconder, esquecer;
vai sempre chegando tarde
e com muito esforço reunido.

E não é porque é cego e não vê.
A apatia e insensibilidade são a verdadeira cegueira,
tanto por dentro como por fora.
Não é ver que nos torna mais sensiveis e capazes de dar pelas coisas
que Deus colocou no nosso caminho;
é sim o nosso carinho,
o nosso amor por todas as coisas
(pois delas iremos precisar vida afora),
a nossa vontade de evoluir,
a nossa originalidade e frescura de alma,
a nossa curiosidade para descobrir o que existe para lá da fronteira...

A criança vê mais que todos nós;
com todo o seu sentir dá valor ao que deixámos de dar,
presos ao mais banal que nada nos consegue surpreender...
A criança cega é pouco diferente da que vê,
pois cada célula do seu corpo
conversa amenamente com todas as coisas,
conhece-as ao pormenor,
brincam juntos jogos imaginários,
conhecem-se um ao outro e são companheiros
e contam os seus segredos e mistérios.

Agora sabemos que a escuridão é a nossa apatia,
a nossa passividade e falsa serenidade;
quando perdemos o interesse pela vida e nos fechamos num castelo sombrio e silencioso
ficamos cegos e surdos a tudo o que nos rodeia...

Marco Aurélio Maltez Branco, 11-05-10