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Verdadeiro Olhar - blog de Sérgio Gonçalves

Carlos Diniz, CEGO, CINTO NEGRO DE JUDO E UMA LIÇÃO DE VIDA

por Sérgio Gonçalves

CARLOS DINIZ
CEGO, CINTO NEGRO DE JUDO E UMA LIÇÃO DE VIDA

CARLOS DINIZ
CEGO, CINTO NEGRO DE JUDO E UMA LIÇÃO DE VIDA
Carlos Diniz tem 53 anos de idade e é um homem como outro qualquer, com um H muito grande como muitos outros também.
Carlos Diniz tem a sua Família com uma encantadora Esposa e faz a sua vida como todos, trabalhando, tendo amigos enfim, o Carlos é um homem perfeitamente
normal.

Pratica o seu Desporto como muitos, no seu caso o Judo, Modalidade que o Carlos gosta muito e a que se dedica desde 1974, altura em que tinha 17 anos de
idade.
Desde sábado dia 3 de Julho, Carlos Diniz é 1º Dan de Judo, ou seja, Cinto Negro de Judo, para utilizarmos uma linguagem mais vulgar.

O que tem isto de especial, perguntarão muitos dos que nos estão a ler.
De facto, existe aqui qualquer coisa de diferente, pois o Carlos Diniz é Cego e o seu exame do passado sábado fez dele o primeiro Cego Cinto Negro de Judo
que temos em Portugal, um feito verdadeiramente notável para a Modalidade, para os Cegos portugueses e para todos nós, que vivemos esta situação tão de
perto.
Sintra tem tradição no Judo, desde sempre.
Em Sintra nasceu, trabalha e continua a fazer Campeões o Mestre Bastos Nunes, a maior Graduação do Judo nacional, 7º e muito em breve 8º Dan de Judo, responsável
pelo Judo a nível da Câmara Municipal de Sintra, hoje com 73 anos de idade e com mais de 50 anos de vida a ensinar Judo a todos. De Sintra chegaram muitos
Campeões nacionais, internacionais e mesmo Olímpicos e Sintra deu e continua a dar ao Judo muitos Dirigentes, Treinadores e Árbitros, sempre com o apoio
de Bastos Nunes, uma referência para todos os Judocas portugueses.
E foi precisamente em Sintra que nasceu a primeira iniciativa em Portugal de Judo para Cegos.
Estávamos em 2006 e esta sensibilidade começou do inconformismo que uns tantos Judocas entenderam ter para com a Modalidade, tão eclética, que contempla
tudo e todos que a ela se queiram dedicar, independentemente do género, idade ou qualquer outra condição.
Porém, como não acontece em muitos outros Países, Portugal não tinha Judo para Cegos, mas agora já tem e com um forte impacto na Modalidade e, evidentemente,
na população Cega portuguesa.
Tudo começou no Judo Clube de Sintra e com um enorme apoio da Federação Portuguesa de Judo, da Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes e mais
tarde do próprio Comité Paralímpico Português e da Associação Distrital de Judo de Lisboa.

Na altura, 2006 como se disse, tudo começa com o Judoca Manuel Costa e Oliveira e, em parceria estabelecida entre o Judo Clube de Sintra e a Federação
Portuguesa de Desporto para Deficientes, organiza-se em Portugal um Estágio Internacional, o primeiro que decorria no nosso País.
Esta iniciativa, que contou com a presença de Dirigentes, Mestres e Judocas da Suécia, Alemanha, França e Reino Unido foi dirigido pelo Mestre Jean Prier,
7º Dan de Judo e Responsável por esta Modalidade a nível da Associação Internacional de Desporto para Cegos tendo, a nível de Portugal e na acção no tapete,
apenas participado o próprio Manuel Costa e Oliveira e o agora Judoca Ulisses Silva.
Num conjunto de acções complementares a este Estágio, foi possível formar Dirigentes, Treinadores, Árbitros e, muito importante, Oftalmologistas Certificadores,
ficando reunidas as condições mínimas para se começar com esta Projecto de Judo para Cegos em Portugal.
Nestas iniciativas, já participaram nomes como Bastos Nunes e Alberto Polido e outros de Sintra que, desde logo, começaram a formatar o Judo par Cegos
no Judo Clube de Sintra. Desde logo, o judo para cegos começa a ser orientado pelo Mestre Fernando Seabra, 3º Dan de Judo, que viria a ser reconhecido
pela Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes como o único Mestre em Portugal habilitado a ministrar esta Modalidade a populações portadoras de
Deficiência.
Nesta fase, seria injusto não referir nomes como António Neves, Jorge Carvalho e Raul Cândido entre outros, mais tarde Leila Marques e Humberto Santos,
Lopes Aleixo e a sua equipa na Federação Portuguesa de Judo, José Luís Dória e a sua equipa também no Hospital Egas Moniz, entre alguns poucos mais que
desde cedo se dedicaram a este Projecto que, ninguém duvidava, era imperioso de começar em Portugal. Mas voltemos ao Carlos Diniz. Ao Carlos Diniz. 1º
Dan de Judo, um grande Judoca, um amigo do peito e um exemplo para todos nós.

Como se disse, o Carlos começou a praticar judo com 17 anos de idade, fazendo-o na Associação Académica da Amadora, onde foi aluno do mestre Carlos Oliveira,
até à graduação de Cinto Azul.
Por esta altura, o Carlos Diniz conheceu grandes nomes do Judo nacional, como Manuel Martins, Emílio Costa, Geraldes, Gil Garcia e Luís Fernandes.
Decorria o ano de 1980 e o Carlos ausentou-se de Portugal, regressando em 1985, sempre com o “bichinho” do Judo, Modalidade que continuou a praticar na
Secção Desportiva da Caixa Geral de Depósitos. Aqui conheceu o Mestre Jerónimo, hoje outro grande amigo do Carlos e com muito protagonismo na sua formação
desportiva.
De seguida, o Carlos voltou à Amadora, tendo sido aluno e amigo do Mestre Emílio Costa até 2003, altura em que começavam os enormes problemas de visão
com que o Carlos se ia confrontando.
Por estas e outras razões, nova paragem de 2003 a 2007, até que precisamente em 2007, aparece na vida do Carlos o Judo Clube de Sintra, com a sua Secção
de Judo para Cegos, na qual o Carlos cedo se prontificou para ser o seu primeiro Judoca.

Carlos Diniz a projectar Fernando Seabra, numa das Técnicas exigidas em exame
Em boa hora, pois o Carlos Diniz teve um papel decisivo no arranque do Judo para Cegos em Portugal, iniciativa que hoje já conta com mais de uma dezena
de Praticantes e que se prepara para crescer, mais a mais agora com esta fantástica alavanca que constituiu a Graduação deste tão querido Judoca do nosso
País.
Então, de 2007 até hoje, o Carlos Diniz passa a sua graduação de Cinto Azul a Cinto Castanho e, agora, com um brilhante exame partilhado pelo próprio Mestre
Fernando Seabra como seu UKE (Parceiro), temos o 1º Cego Cinto de Negro de Judo entre nós.
De notar que o interesse da própria Autarquia de Sintra foi tal, que este exame do Carlos contou com a presença do Vice-presidente Dr. Marco Almeida que
se fez acompanhar do Chefe da Divisão do Desporto, aguardando-se agora que o próprio Presidente Fernando Seara receba o Carlos Diniz, numa Sessão de cumprimentos
e felicitações que já nos foi anunciada.
Agora, com esta enorme e acrescida motivação que o Carlos nos transmite, vai o Judo Clube de Sintra continuar com a sua Secção de Judo para Cegos, sempre
com apoio da Câmara Municipal de Sintra e do seu Técnico Mestre Bastos Nunes e de outras Entidades, nacionais e regionais, sempre disponíveis para este
Projecto.

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Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas interessantes.

Carlos Drummond.

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Sérgio Gonçalves

Comentários

Ao Judoca Carlos Diniz parabéns pelo Shodan e continue a trilhar este caminho com muitos Ippon.
Parabéns também ao Sensei Bastos Nunes.
Sds.
Lumiy

Já se adivinhava pela história e qualidade, este sucesso.
Parabéns ao Judoca.