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- blog de Anacristina

O braille e o suporte informático

por Anacristina

Sem dúvida que o uso dos computadores veio, em certa forma, ajudar-nos a ultrapassar certas dificuldades. Mas o braille passa agora (?) uma situação difícil.
Para mim não. Mas para muitos sim! Eu já me habituei a usar sempre computador nas aulas. A máquina braille, para além de muito pesada, incomoda bastante os meus colegas. e assim vejo-me na possibilidade de fazer o que os outros fazem, com ajuda. Com o braille isso não é possível!
Mas apesar de tudo... quando peço aos professores para fazerem o enunciado em braille, ficam espantados. alguns. Porque para eles o computador é tudo! Mas quando se trata de testes prefiro ler eu própria o enunciado.
O braille continuará sempre presente, apesar das novas tecnologias. Um enunciado em braille é diferente, embora tenhamos a vantagem de ser mais rápido quando se põe a pen... mas... responder ao teste é uma coisa, lê-lo é outra! e não consigo explicar isto a alguns professores...
E hão-de concordar... podemos ter milhões de livros (eu possuo imensos! uma pasta de livros ocupa 4jb do disco local D! Mas também gosto de os ler em braille. Não há nada como abrirmos um livro, como "entrarmos" na pele das personagens... e sermos nós próprios a fazer a entoação necessária! Mas quando nos apetece preguiçar e ouvir o jaws... também é enriquecedor. Eu sou uma fanática por livros informáticos, tudo em suporte informático! Apenas quando se trata de coisas com maior responsabilidade como testes gosto de sentir o papel na mão. Aliás... sempre gostei de ler o braille! é sempre diferente do que ouvir...
Uma vez perguntaram-me:
- Que achas que vai acontecer ao sistema braille com a renovação das tecnologias?
- Não vai perder a fama, isso te garanto! Porque até há linhas braille!
Por isso o braille continua e continuará sempre presente na vida de um cego. Oxalá!

Comentários

Em resposta às suas observações sobre a aparente incompatibilidade entre as novas tecnologias e o uso do Braille, devo acrescentar uma sugestão; o uso da linha Braille deve merecer a preferência em detrimento do uso do jaws. Digo isto, porque os estudos mais recentes sobre literacia e, nomeadamente, literacia Braille, alertam para a necessidade do indivíduo (normovisual ou cego) não perder o hábito da leitura diária sob pena de não receber estimulação neurológica suficiente para manter a actividade entre diversas àreas do cérebro. O Prof. Alexandre Castro Caldas (neurocientista) verificou que os indivíduos analfabetos possuíam um corpo caloso diminuído ou reduzido em tamanho. Este corpo caloso é responsável pela rápida passagem das informações entre os hemisférios cerebrais. Ou seja, à parte das dificuldades de escrita e de leitura que irão (forçosamente) surgindo, com a perda de hábitos de leitura, revelar-se-ão outras dificuldades de raciocínio inerentes à falta de estimulação cerebral das áreas envolvidas no processo de leitura.
Além do prazer da leitura feita pelo próprio que a interpreta e lhe imprime o seu próprio ritmo e sentimento, é importante lembrar que: "ouvir ler" não é LER.
Jacqueline

anacristinaO braille nunca acaba, mas por um lado está a passar uma grande crise. Quase todos estão iludidos que com o suporte informático podem fazer tudo, desde ler até fazerem os símbolos mais complicados. Vejamos, em braille por vezes levamos cada injecção quando temos de aprender os símblos de matemática e físico-química... nem me quero lembrar desses tempos! Mas há pessoas que dizem que sabem fazer testes de matemática no computador. Não sei se é verdade, uma vez que não temos a noção do espaço, nem conseguimos fazer tão facilmente uma conta e/ou introduzir algum símbolo matemático. Sempre gostei de fazer testes de matemática em braille. Os restantes testes e apontamentos faço tudo no computador. Mas tenho acesso ao braille pelos livros. Pena é que livros em história não vêm em braille... em cassetes! que tristeza... cassetes!

anacristina

Olá. Sou analista de sistemas e estou querendo ajudar uma amiga que é deficiente visual. Ela sonha com uma impressora Braille para poder ler os livros da forma que você descreve aqui. Vivenciando, entrando nos personagens. Quero muito ajuda-la mas não entendo nada sobre braille e são várias opções de impressoras, papeis, 6 ou 8 pontos, formulário contínuo ou folhas soltas, etc. Se não for pedir muito, vocês poderiam me dizer se usam e o que usam para tirar os textos do computador e converter em braille no papel? E se possível as dicas pra escolher a forma mais simples e barata nesse caso.
Desde já agradeço a atenção. Abraços, Mari

Boa noite Mari,

Também tenho o mesmo interesse de você. Caso tenha alguma resposta sobre impressora braille me comunique por favor. Tenho muito interesse em disponibilizar em meu site gratuitamente cartas em braille mas não sei qual impressora e papel usar.

Andei pesquisando na web e achei muito caro as impressoras para impressão. Estou desenvolvendo um projeto para sites para cegos e seria ótimo complementar com esse serviço. Forte abraço, Ricardo

+Filipe Azevedo
Olá Ana Cristina.
Passei agora pelo teu blog, e detive-me neste teu texto sobre o Braille e a sua relação com as novas tecnologias, e não podia deixar de o comentar, porque este assunto é realmente muito importante.
Em minha opinião o Braille nunca irá terminar. Fico aliás muito triste quando vejo que alguns cegos menosprezam o uso do Braille, dizendo que podem fazer tudo com o computador etc.
Os normovisuais também não usam computador? E para além das máquinas eles também não lêm em papel? Porque é que os cegos deveriam ser diferentes?
É óbvio que o computador veio revolucionar muito o acesso há informação, mas vamos lá ver uma coisa. Hoje existem linhas Braille, impressoras Braille, máquinas de escrever eléctricas etc. Então porque é que devemos deixar o Braille?
Se só existissem aquelas máquinas perkins antigas, eu ainda podia admitir que os cegos tivessem alguma reletância no uso do Braille. Agora, por exemplo um estudante. Pode nas aulas usar o computador, e chegar a casa imprimir na sua impressora Braille a matéria de estudo. Acreditem não há nada como ler para assimilar a informação. Não sou cientista, mas posso afirmar isso sem nenhuma reserva.
Posso contar-vos que uso muito o Braille, quando quero expor mais detalhadamente alguma ideia, não consigo fazê-lo sem ter as minhas notinhas, e quando não é mesmo possível aceder ao suporte Braille sabem qual é a técnica que eu uso?
No computador ou no telemóvel, aumento a fonte do tipo de letra, e vou lendo linha a linha. Quanto maior for a fonte menos palavras o leitor de ecrã lê, e tento assim ir ouvindo a informação gradualmente para a conseguir assimilar.
Claro que sempre que posso, não dou descanço há minha rica impressora que já levou tanta coça que deve estar-me com um ódio de morte! Risos.
Mesmo até no ensino da informática posso garantir-vos pela minha experiência que um formando que lê Braille e que se esteja a iniciar nos computadores aprende muito mais depressa do que um outro formando que não tenha forma para ler os manuais.
Eu dou sempre os meus manuais em Braille a quem o domina, e a quem não escreve nem lê Braille, forneço o material ou em suporte digital, ou então se for mesmo um iniciante em áudio, e acreditem que aqueles formandos que lêm o Braille assimilam muito mais depressa a informação. Não à comparação possível!

Bjs para ti, e continua a escrever.
Filipe.

+Filipe Azevedo