Está aqui

visão ativa - blog de Marlon

De quando somos obrigados a ter (baby? sitter)

por Marlon

Uma bela quarta-feira, a tarde. Estou terminando umas coisinhas quando meu supervisor chega:

- Marlon tudo bem?

"tudo bem ... vai ocorrer algo ..."

- Tudo ..

- Então .. você pode ir ao Rio de Janeiro na semana que vem?

- Posso ... quanto tempo exatamente?

- A semana inteira, de segunda até sexta-feira.

- Certo, sem problemas creio.

Tive de começar a compactar uma semana e meia de trabalho em dois dias. Correria, trabalho até altas horas, na empresa, em casa, em tudo quanto foi lugar, de tudo quanto foi geito.

Mas as aventuras de um cego sozinho em terras estranhas, inóspitas e de mulheres ultra feias ficam para outro texto, se e quando eu decidir escrever sobre isso (a, como é legal ter um blog ...).
Chegar no aeroporto as quinze para seis, pegar o vôo das sete horas, chegar no Rio de Janeiro por volta das oito, deixar as coisas na recepção do hotel e ir pro trabalho, afinal de contas não sou, ainda, um nativo * ou um gringo com zilhões e sem muita coisa com que me preocupar.

O dia de trabalho é realmente longo, e sono, cansaço e alguma frustração se acumulam. No final da tarde chego no meu hotel, em ipanema, sem dúvida o lugar mais feio de todo o Rio, que já é normalmente feio.

O ambiente da recepção é sofisticado, com pessoas falando diferentes línguas em voz comedida, som ambiente a combinar e uma sensação de tranquila ordem e harmonia no local. Gosto de hoteis. São lugares em que alguém só vai atrapalhar sua vida quando isso for realmente necessário...

Estou com alguns colegas de trabalho, um deles no mesmo andar do que eu. O cançasso é grande, mas tenho coisas a fazer a noite, amigos a rever, lugares a ser apresentado, só um idiota disperdissaria as feias noites do desinteressantíssimo lar do velho Tom.

Um funcionário do hotel me acompanha até o quarto, com minha bagagem.
O elevador chega ao andar, e eu, que quase estou dormindo em pé, persebo algo: o elevador não fala.

Quando penso em verificar se há braille nos botões, pelomenos, já saí do elevador e estou, num esforço imenso, chegando ao meu quarto.

- O senhor precisa de mais alguma coisa? - o funcionário do hotel pergunta.

- Preciso, entra aqui que eu queria saber umas coisinhas.

- Tá tá bo bo bom ...

"A, cara, vê se te liga ... sou cego, preciso saber onde estão as coisas, você não acha que eu vou te propor algo indecoroso aqui né ... tá gaguejando porque, caramba?"

Estou irritado. A falta de sono e a exaustão fazem isso, relevo a falta de geito do cara.

- Olha, quero que você me mostre onde ficam todos os controles de luz. Sou cego, mas consigo ver luz, e ficar caçando interruptor no quarto inteiro prá apagar essas luzes que vocês deixam acesas não está no script prá hoje.

- Sim senhor. Por aqui, aqui, esse aqui olha, não, esse aqui ... isso mesmo, isso ..

- Cara, já sei que isso é um interruptor. Onde estão todos os outros?

- Bom ... tem esse aqui ...

Terminei de ver os interruptores, determinei e separei os diversos tubinhos de coisas para o cabelo, aprendi a mecher no controle do ar condicionado, decorei o número da recepção.

- Mais alguma coisa senhor?

- Não, muito obrigado.

- Até logo.

Tranquei a porta e estava sozinho no quarto. Fiquei zanzando por aí até me acostumar com o ambiente. Depois, me despi e comecei a fazer meu esquema de arrumação, o mais rápido e eficiente possível.
Isso significa que a mala ficaria exatamente ao lado da cama, no chão, e que a outra cama, posto que não seria utilizada, serviria de guarda-roupas.

Tomei um banho e descansei um pouco, juntando forças para rever alguns bons amigos a noite. Aprender a mecher em televisão estranha não é difícil, é só ir apertando botões aleatoriamente no controle, até que você descubra o que muda canal. Daí prá frente o volume e o outro botão de mudansa de canais são localizados mais facilmente.

O rádio relógio é um pouco mais crítico, porque se apertar o botão errado você corre o risco de, digamos, ser acordado em algum estranho horário tipo as duas e quarenta da madrugada, quando o que você queria era simplesmente ouvir um som. Pucha um botão, se o rádio não começar a funcionar volta imediatamente para a posição original. Se todos os botões forem digitais, então é preciso decidir se se corre o risco. De qualquer forma, sempre é possível desligar o rádio dispertador descontrolado da tomada, desde que você seja capaz de achar onde ela está.

Depois de algunm tempo descansando decido fazer algumas ligações e me preparar para saír. No telefone se aperta o zero e depois se faz a ligação. Se for para fora da cidade, não é preciso usar operadora. Isso se aprende quando você faz algumas ligações e fala com pessoas das mais diversas localidades sendo que tudo o que queria era ligar para seus amigos. Felizmente,dessa eu já sabia por vivência anterior. Instruções e orientações em braille estão fora da realidade, por agora.

O ramal da recepção é estranho, e me deixou com uma curiosidade que me fez ocupar parte do meu tempo e esforço para tentar entender... e não consegui totalmente. Porque o número não seria 1? Era algo como 228. Mas e o quarto 28 do segundo andar então qual ramal teria ... ou porque esse número estranho? Mas deixo de pensar nisso e me preparo para saír.

Ligações feitas, combinações realizadas, estômagos preparados, perspectivas almentadas, disposição excelente. Preciso sair. Retiro meu cartão do pequeno drive ao lado da porta, o que me garante a energia elétrica do quarto e me preparo para feixá-la. Então uma lembransa muito distante chega a mim: o elevador não fala, e não há garantias de que haja braille nos controles.

Volto para trás, coloco denovo o cartão no lugar (ar condicionado é necessário no Rio de Janeiro) e ligo para a recepção

- Recepção?

- Boa noite. (odeio pessoas que não são educadas, então sempre cumprimento e agradeço quem está lá para me ajudar, mesmo que a pessoa esteja sendo paga para tal).

- Boa noite, senhor. Em que posso ajudar?

- É o seguinte: preciso saír daqui.

- Sim?

- Isso .. e acho melhor mandarem um mensageiro, se não vai ficar difícil.

- Mas precisa mandar um mensageiro ... a sua bagagem já foi toda?

- Sim, está tudo aqui. O que acontece é que eu sou cego e pre ...

- Certo, estou mandando um mensageiro aí, imediatamente.

- Pede um tax por favor?

- Ok senhor, até mais.

Fiquei esperando o tal do mensageiro. Chegou, com um carrinho enorme.

- O senhor quer que leve a bagagem?

- Vou ficar aqui até o fim da semana.

- Mas então o que ...

- O elevador não fala. Eu preciso de ajuda para ir até a saída, e tem, presumivelmente, um carro me esperando.

- A ... por aqui.

Sou conduzido, junto com o carrinho, até o elevador. Fico pensando se o hotel não acha que eu, na verdade, sou um mala. Até penso em perguntar, mas decido não correr o risco de deixar o mensageiro constrangido.

Passo as mãos rapidamente pelos controles do elevador, e verifico o que era esperado: não há braille em lugar algum. Eu poderia muito bem decorar a posição do térreo e do andar onde estou, mas se o elevador por acaso para em outro andar e ninguém entra (acontece) eu corro o risco de, digamos, ser preso por tentar invadir um quarto alheio, já que grande parte dos andares são simétricos.

Na recepção, vou falar com a funcionária que me atendeu.

- O tax já está aí?

- A, era o senhor ... sim, está esperando.

- Excelente noite!

- Para o senhor também.

Lá vou eu fazer minhas coisas, o que, conforme já disse, não é importante para este relato. Quando chego de volta, solicito alguém para me levar até o quarto (o elevador não ajuda, lembra?).

Na hora de entrar, mais constrangimento. O mensageiro percebe que o cartão chave não tem nenhuma adaptação.

- Como o senhor faz prá abrir essa porta?

- Simples, é só colocar o cartão no drive certo?

- Ce certo, mas o cartão não tem nenhuma marcação que indica a posição correta...

- Já percebi.

- E agora como o senhor faz?

- Simples: a gente tenta assim, assim, assim e zas! Uma das vezes tem que ser a posição certa! Não tem nenhum sistema que bloqueia a porta depois de um certo número de tentativas né?

- Pode ficar tranquilo senhor (risos).

- Olhya .. a parte de trás do cartão é mais áspera .. então agora tem só duas posições possíveis ... Agora entra aí que eu tenho de te fazer umas perguntas.

Creio que eu ficaria com uma fama meio estranha. toda vez que um mensageiro ia me levar ao quarto eu pedia para ele entrar, prá fazer umas perguntas. Bom, não tinha outra forma.

Desta vez, eu estava com sede e precisava simplesmente de saber a disposição das latas e garrafas no frigobar. Nada de procurar por um suco e abrir uma cerveja. Já aconteceu antes e, desde então, os mensageiros são obrigados a se transformarem em ledores por um tempo.

Arrumei cuidadosamente as garrafas segundo um padrão bem estabelecido, agradeci o mensageiro e, depois de ele se retirar, foi hora de relachar um pouco, enquanto curtia minha água com gás e assistia um pouco de televisão. Quem mora no Rio e não assiste a TVE precisa aprender a valorizar algo bom. Quem mora longe sente falta ... E depois fui, em fim, descansar.

Sou dispertado mui agradavelmente e começo a me arrumar. Na hora do café da manhã, outra ligação para a recepção. Pedir um mensageiro para me ajudar a ir até o restaurante interno e esperar ... esperar ... esperar ..

Vou ficando atrazado, até que decido ligar novamente para a recepção. Desta vez sou informado cortesmente de que um mensageiro teria batido na porta do meu quarto, tocado a campainha, esperado e depois se retirado, já que eu não havia aberto. Mantive a calma e pedi para que o mensageiro subisse novamente. Desta vez o esperei na porta do quarto.

Cinco minutos depois e eu estava indo tomar o meu café. Ao chegar no restaurante, uma reunião geral entre os garsons é realizada. Na pauta, como me ajudar, onde me colocar, o que fazer, tudo muito discretamente...Vozes rápidas, baixas e em tons mais do que conspiratórios ... e eu somente assistindo. Depois de um tempo decidi que era necessário deixar claro que cegos ouvem, e o fazem muito bem.

- Vou para uma mesa comum, perto de todas as outras.

Silênciu, aparentemente a reunião foi encerrada. Não que eu tivesse algo contra seguir a sugestão com mais força até aquele momento: Ser colocado em uma mesa grudada no buffete, bem perto da entrada (a final, ficaria "mais fácil" servir ele) , seria um privilégio, afinal todas aquelas gringas e modelos rossariam levemente por mim toda vez que fossem pegar algo para comer. Me olhariam com uma expressão enternecida, agradecidas por poderem esbarrar em alguém tão belo e agradável, e, depois de um tempo, se juntariam a mim, em minha mesa. Esbarrariam nas minhas coisas por acidente, na experansa de que um suco fosse derrubado, para que elas pudessem se oferecer para me ajudar a limpar tudo, e de lá começaria uma relação longa e quente com uma delas, que só poderia terminar em glamour e sexo, tudo isso com muita sacanagem claro. O único problema com essa idéia era o fato de eu ser casado. Portanto, abri mão de ser esposto como alguém especial (quem me conhece sabe que sempre quiz ser famoso) para ser colocado a uma mesa normal, tal como todos os hóspedes normais.

O cara que me serviu começou a recitar uma longa lista de ítems a disposição, mas eu o interrompi. Disse de tudo o que eu gostava e confiei no bom senso dele, o que aliás se mostrou uma atitude bem acertada.

O único problema em fazer isso são as coisas que você nem imagina que possam estar lá. Você fala: "quero frios, pão, todos os salgados e bolos em geral". Normalmente funciona. O problema é que, se houver outro gênero, você nem sequer chega a esperimentar. O garçom que me serviu o fez em todos os dias da minha estadia no hotel, menos no último. E justamente neste, por uma sugestão do outro garsom, descobri que havia frutas (tinha me esqecido que isso é normal em cafés da manhã em hotéis conceituados)..

Terminado o amplo café é hora de correr para o quarto e me trocar, afinal estou atrazado. Me troco rapidamente e ligo para a recepção, para pedir um mensageiro (preciso ir ao térreo). Novamente espero, espero, espero...

Ligo novamente para a recepção, um pouco sem paciência (e quem me conhece sabe que dificilmente eu a perco). O atendente parece complexo. Dois minutos depois um mensageiro surge e nós vamos até a recepção. O resultado de tudo isso? Vinte e cinco minutos de atrazo, bem divididos entre esperar um mensageiro para o café da manhã e esperar um mensageiro para ir até a recepção depois.

Antes de pegar o tax, já atrazado, reclamo do serviço do hotel.

- Vocês não tem elevador adaptado aqui, o que já é encontrado na vasta maioria dos prédios em sampa ... e, além de não terem um prédio adaptado, falham quando eu solicito ajuda para me movimentar!! Espero que isso não se repita, porque eu estou aqui a trabalho e não brincando. (mas mesmo se estivesse não seria aceitável ...)

Sou informado de que o primeiro mensageiro simplesmente tinha esquecido de me ajudar ... Me viro sem mais uma palavra e vou trabalhar. No meu destino, sou mui saldavelmente zoado por ser o único paulistano dentre tantos cariocas, e justamente o que se atrazou. Dou uma risada, e não tento explicar...

Na volta descubro que as coisas não estão como antes. A mala desapareceu do quarto e meus chinelos estão em lugar, até então, ignorado.

Começo, com muito sono, a revirar o quarto atrás do lugar que os arrumadores teriam julgado "melhor" para deixar minha mala e o chinelo. Não que eu pense que deixar tudo meio bagunsado fosse a opção correta, mas o fato de minhas coisas terem sido mudadas de lugar, por mais que a intensão fosse boa, estava me deixando um tanto chateado.

Depois de rodar o quarto algumas vezes me lembro de que, no dia anterior, eu nem ao menos tinha procurado por um guarda-roupas, e entendi o que tinhya ocorrido: é claro que minhas coisas estavam no guarda-roupas!

Procurei, procurei e descobri o dito cujo na parede ao lado da cama, embutido. Se estiver fechado fica tão "integrado" a parede que, para quem não enxerga, é muito difícil deduzir que aquela parede é, na verdade, uma porta de correr dando acesso aos armários.

Ao abri-la, tendo de jogar todo meu corpo contra ela, já que estava encalhada, acho minhas coisas bem acomodadas lá dentro. Decido então manter o padrão, para não correr o risco de que minhas coisas sejam novamente mudadas de lugar.

Depois deste primeiro dia não tive muitas mais experiências dignas de relato aqui. Os mensageiros não voltaram a atrazar novamente, mas a idéia de não poder me locomover mais autonomamente pelo hotel era algo realmente incômodo.

Seja como for, precisar de "baby sitter?" para simplesmente poder andar por aí, quando só faltava uma adaptação pequena no prédio, chateou. Deixei algumas pessoas do hotel saberem disso, mas não sei se o problema foi corrigido.

Quanto a cardápios e instruções braille, até onde eu viajei creio ser uma realidade mais difícil de se ter. Embora não neste hotel especificamente, já que não consumi nada de restaurante nele, eu cansei de ligar para recepções perguntando: "o que vocês tem para comer?" e ouvir: "Senhor, tem um cardápio no quarto". O desgaste de explicar que não enxergo e que por isso preciso que me leiam, mais o tom natural de impaciência que o cara da recepção ou restaurante emprega ao ter de me ler tudo, porque ele certamente tem coisas mais importantes a fazer, incomoda. E quando a recepção troca de turnos e os novos funcionários ainda não sabem que "o cara do 16 é um cego chato que pede prá gente ler o cardápio", é necessário explicar tudo denovo.

Acho que seria melhor que só as crianças usassem baby sitters? , já que elas realmente necessitam disso. Quanto a nós, com um pouco mais de vergonha na cara ou de respeito por parte do ramo hoteleiro, poderíamos ter uma estadia bem mais confortável, para não dizer anônima ou discreta, tanto quanto qualquer outra pessoa.

Mesmo assim, viajar é um graaaamde barato.

Este é o último post do ano, e eu queria agradecer sinseramente a todos os que me leram, comentaram e ajudaram a fazer do blog o que ele é hoje. Aos muitos que não comentam os posts, por favor sintam-se a vontade para fazê-lo, já que o blog é legal como troca de idéias.

Abraços a todos, e bom ano nnovo.
Marlon

p.s. o André me providensiou algumas correções hortográficas, pelas quais eu agradeço. Fica o convite para visitar o blog dele, que é extraordinário.

Comentários

meu nome é Ana Cristina e tenho de confessar que não pude deixar de conter algumas gargalhadas. Peço desculpa pela minha sinceridade... mas será que nós, cegos, somos seres de outro planeta? Enfim, sem comentários... e por mais que se diga o que se passa, cuidam que somos estranhos... nada de grave, não?
Por outro lado, gostaria de o elogiar pela sua forma descritiva. Que poder descritivo! De qualquer modo, esperemos que para a próxima, o hotel citado tenha mais condições.

anacristina

Oi Ana,
Obrigado pelo comentário. Creio que somos todos do mesmo planeta, e somos todos diferentes. Apesar de isso ser por vezes causa de problemas, já que pensar em todos dá um certo trabalho, essa é também a característica que faz de cada um de nós pessoas interessantes.
Obrigado pelo elogio às minhas descrições, mas elas só seguem a proposta dos textos, que é a de informar e não só "lamentar", já que parte do público é normovisual. Procuro escrever com o bom humor necessário para ajudá-los a entender algumas das situações que um invisual acaba vivendo, quando está sem amigos em algum ambiente ou nas convivências diárias com as outras pessoas.
Dei muitas risadas, por exemplo, quando abri a cerveja e não o suco. Certo, deveria haver uma adaptação melhor, mas isso especificamente não tornou meu dia uma chatisse. Já que eu abri, o que fiz foi beber ... Da mesma forma quando, dessa vez, o mensageiro veio com o carrinho, dei boas gargalhadas comigo mesmo.
Marlon

Marlon

A sua descrição está fantasticas, poucas palavras mas uma descrição fenomenal ... em tão pouco descreve situações que nos deparamos no dia a dia. Sou portadora de Def. motora, desloco-me numa cadeira de rodas electrica e passo por sitações semalhantes ao que passou. É duro e inaceitavel passarmos por situações que aos ditos normais nada lhes diz mas que a nós nos traz imensos transtornos. Infelizmente ainda vivemos numa Sociedade muito fechada e pouco virada para o dia a dia das pessoas "diferentes".